Conforme escalam as tensões em diversos frontes, as agências secretas israelenses continuam a desenvolver suas capacidades e agora possuem bancos de dados e inteligência artificial integrados para analisar quantidades massivas de informação. Segundo oficiais de alto escalão, agentes de Israel agora são capazes de identificar militantes em rota a alvos israelenses, algo quase impossível no passado, certamente ao menos sem a mesma precisão da tecnologia atual.
Durante a Segunda Intifada ou Intifada de Al-Aqsa (entre setembro de 2000 e fevereiro de 2005), era possível obter informações sobre um agressor em fase preparatória de um eventual ataque e, portanto, fechar postos de controle e acessos pelo tempo necessário, mas a eliminação do indivíduo antes do atentado ocorrer era apenas um sonho. Tudo isso mudou; a tecnologia alterou o futuro da guerra e da guerrilha urbana. A inteligência é hoje coletada e analisada em minutos, ao invés de horas, de modo que retaliações podem ser lançadas muito rapidamente. Israel já aplica tais métodos na Síria, além de utilizá-los contra os palestinos.
Os processos aplicados pelas agências de inteligência israelenses foram então modernizados, ao adotar avanços tecnológicos capazes de suprir a tarefa em mãos. O processo de tomada de decisões, no entanto, continua controlado pelos comandantes em campo, e não por qualquer inteligência artificial ou tecnologia. Israel sempre procurou por alvos, mas jamais foi o bastante.
O número de alvos pode variar de milhares a dezenas de milhares; porém, não devemos assumir que o outro lado também não se atualizou. De fato, qualquer organização semi-competente, perante iminente conflito, analisaria suas falhas e erros prévios para adaptar-se constantemente, assim como faz a ocupação, ao orientar melhor suas equipes ofensivas.
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Neste contexto, a presente guerra de informação e tecnologia entre Israel e grupos da resistência armada palestina, mais notavelmente o Hamas, intensifica-se. Aviv Kochavi, chefe do Estado-Maior do Exército de Israel, estabeleceu uma série de alvos relacionados às facções palestinas, como preparativo para a próxima rodada de confrontos, com foco em ataques e na execução de combatentes palestinos, especialmente membros das unidades especiais, além da destruição de pontos vitais de infraestrutura.
O principal desafio da inteligência militar israelense é recuperar informações cruciais em um oceano de detalhes delicados, conforme aumenta criticamente a necessidade de impor um olhar mais atento ao banco de dados dedicado aos alvos da resistência. Tais informações são determinadas principalmente por imagens de satélite e fontes de inteligência, em particular, sobre a Faixa de Gaza.
Quando os grupos palestinos disparam foguetes de Gaza em direção a Israel, extensivas discussões ocorrem dentro do comando-geral israelense sobre a natureza dos alvos futuramente atacados em retaliação. Algo análogo a um jogo mortal de pingue-pongue. Os alvos em geral são escolhidos pelas unidades de inteligência do exército da ocupação, que trabalham dia e noite para localizar as redes de segurança palestinas; resta aos soldados apertar o botão vermelho e disparar o míssil.
Após o assassinato de Ahmed Al-Jabari, então chefe do braço armado do Hamas, que basicamente deu início à ofensiva militar intitulada “Operação Pilar de Defesa”, em novembro de 2012 — um ano após o atual primeiro-ministro impendente Benny Gantz ser indicado como comandante-maior do exército —, a ocupação atacou milhares e alvos do Hamas até culminar na chamada “Operação Margem Protetora” contra a Gaza, em 2014. Os ataques israelenses supostamente concentraram-se em túneis, locais de disparo e fábricas de mísseis do Hamas. Contudo, a ofensiva foi muito mais intensa, quando comparada com a Segunda Guerra Israelo-Libanesa, em 2006, e com as duas brutais ofensivas precedentes contra Gaza, em 2012 e 2008-2009.
Quando enfim acabou a série de ataques de 2014, o exército israelense estava convencido de que o número de possíveis alvos do Hamas de fato havia triplicado. Oficiais de alto escalão confirmaram que a vitória contra o movimento palestino não seria resultado do número de ataques, mas sim da natureza destes, portanto, determinada pela inteligência militar.
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Os serviços de inteligência israelenses tentam manter o ritmo junto do número de potenciais alvos em Gaza. Trata-se de algo evidente desde o primeiro dia do comando de Kochavi sobre o exército israelense, após a onda de atentados escalatórios contra a Faixa de Gaza sitiada, nos últimos meses.
Ao mesmo tempo, o Hamas não apenas desenvolveu seu arsenal, como também tornou-se mais hábil em escondê-lo dos sistemas de radares da ocupação. Não obstante, seu braço armado tornou-se capaz de detectar movimento a até três quilômetros da fronteira nominal.
Tudo isso confirma que o Hamas de fato desenvolveu seu próprio aparato de tecnologia e inteligência, com propósitos militares no horizonte. Apesar do êxito da ocupação israelense em destruir as redes de túneis do Hamas, o grupo palestino ainda demonstra uma base de capacidades formidável para reagir a qualquer disparo de Israel.
O estado sionista pode estar se preparando para confrontar o Hamas em uma guerra tecnológica, mas o movimento e o resto dos palestinos, especialmente na Faixa de Gaza, preparam-se também. Inteligência sólida é importante para qualquer exército e os grupos de resistência não são negligentes sobre este aspecto.
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