Cidadãos do Kuwait votaram neste sábado (5) para eleger seus representantes parlamentares, em meio à pior crise econômica do país do Golfo em décadas, o que representa um enorme desafio à relação frequentemente turbulenta entre o governo e a câmara legislativa, acusada de obstruir potenciais reformas.
As informações são da agência Reuters.
Mais de 300 candidatos, incluindo 29 mulheres, concorrem a cinquenta assentos na assembleia legislativa mais antiga e mais expressiva da região do Golfo.
Críticos, porém, culpam o parlamento por atravancar investimentos e reformas fiscais no longevo estado de bem-estar social estabelecido no Kuwait.
A campanha, travada fundamentalmente nas redes sociais e emissoras de televisão locais, devido às restrições do coronavírus, concentrou-se nos temas da economia, corrupção e demografia, em um país onde estrangeiros constituem o grosso da força de trabalho.
“O Kuwait precisa de desenvolvimento. As ruas estão quebradas e não há desenvolvimento ou economia … Além disso, o coronavírus afetou tudo, de todas as formas possíveis”, declarou Ibrahim, funcionário público, após registrar seu voto na Cidade do Kuwait.
A pandemia de covid-19 abalou gravemente as finanças estatais do país árabe, bastante dependente de sua forte exportação de petróleo.
LEIA: Kuwait deixará de contratar estrangeiros no setor público de petróleo em meio à crise da dívida
Espera-se que o comparecimento seja menor do que nas últimas eleições devido a receios relacionados ao coronavírus. A alta abstenção pode favorecer representantes políticos tribais, religiosos e outros capazes de mobilizar apoiadores às urnas, especulam analistas.
“A oposição kuwaitiana que boicotou eleições anteriores agora corre para votar e isso pode fortalecer sua presença”, declarou Mohamad al-Dosayri, analista político do Kuwait.
Confrontos frequentes entre o gabinete do poder executivo e a assembleia legislativa levaram ao estabelecimento de sucessivos novos governos e dissolução do parlamento. O atual governo deverá renunciar logo após as eleições.
O Emir do Kuwait Nawaf al-Ahmad al-Sabah possui a palavra final para escolher um primeiro-ministro para compor o gabinete. Al-Sabah assumiu o emirado em setembro, após a morte de seu irmão, o sheikh Sabah al-Ahmad al-Sabah.
A economia kuwaitiana, estimada em quase US$140 bilhões, deverá registrar déficit de US$46 bilhões neste ano fiscal de 2020. Deste modo, é prioridade do governo superar o impasse legislativo sobre um projeto de lei que permitirá ao país buscar empréstimos internacionais.
O sheikh Nawaf fez um apelo por união, a fim de enfrentar desafios domésticos e regionais, diante da recente escalada de tensões entre Arábia Saudita e Irã, maiores e mais poderosos vizinhos no Golfo.
O ex-governante, Sabah al-Sabah, rompeu o domínio de grupos da oposição no parlamento em 2012, ao utilizar poderes executivos excepcionais para conduzir emendas no sistema eleitoral, o que levou a protestos massivos.
Sob o antigo mecanismo, os eleitores podiam registrar votos para até quatro candidatos. A oposição argumenta que isso permitia alianças que compensam parcialmente a falta de partidos políticos, oficialmente banidos do país.
O novo sistema introduzido em 2012 permite votar a apenas um candidato, o que dificulta a composição de coalizões efetivas, alegam representantes da oposição.