Bombas ativas foram encontradas em um novo campo de refugiados localizado na ilha grega de Lesbos. Segundo a organização internacional Human Rights Watch (HRW), residentes descobriram bombas, metralhadoras e munição no local.
Conforme as informações, a área era antes um campo de tiro do exército grego.
O assentamento foi construído às pressas, em setembro, após o campo vizinho de Moria ser destruído por um incêndio, resultando em 13.000 refugiados desabrigados. O governo grego alegou ter limpado a zona militar de Kara Tepe, antes de transferí-los ao novo local.
O HRW acusou as autoridades de negligenciar testes para descontaminar o solo. A rede de monitoramento de direitos humanos alertou ainda que os residentes podem estar sob grave risco de envenenamento por chumbo.
Belkis Wille, pesquisador sobre crise e conflitos do HRW, declarou: “Instalar milhares de refugiados, adultos e crianças, além de trabalhadores humanitários, em um antigo campo de tiro, sem antes tomar as medidas necessárias para garantir que não estejam expostos a chumbo tóxico, é inconcebível”.
A organização internacional reivindicou que o governo grego conduza uma análise detalhada sobre os níveis de chumbo do solo local, com resultados devidamente publicados.
Oficiais do Ministério da Defesa da Grécia alegaram que equipes de artilharia limparam a área e conduziram testes para verificar a presença de metais tóxicos no solo, durante o processo de construção do campo, reportou o jornal britânico Times.
Entretanto, os resultados das análises jamais foram divulgados.
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Refugiados relataram ao HRW que suas crianças não podem mais brincar nos arredores do campo, por receios de acidentes graves envolvendo resíduos militares.
“Tentamos impedir nossas crianças de brincar na área da colina porque sabemos que ali deve haver balas e outras coisas que o exército não limpou como devia, o que pode ser perigoso”, declarou um dos residentes do campo.
Os últimos relatos agregam preocupação e repúdio sobre a abordagem da Grécia diante da crise internacional dos refugiados.
Mais de 100.000 refugiados permanecem no território grego, quatro anos após uma onda de migração em massa chegar às fronteiras da Europa.
Líderes da União Europeia lançaram o apelo “Moria Nunca Mais”, após o incêndio devastador sobre o campo mantido precariamente, em setembro último.
Em outubro, autoridades gregas anunciaram planos para construir um campo permanente para substituir Moria, na ilha de Lesbos, até o verão de 2021. Outros campos serão construídos nas ilhas de Samos, Kos e Leros, prometeu o Ministro de Migração Notis Mitarachi.
Os campos serão instalações fechadas com entrada e saída rigorosamente controlada, além de sistemas de proteção contra incêndio.
O Human Rights Watch criticou os planos das autoridades gregas, ao advertir os líderes europeus contra uma política migratória voltada a perpetuar o confinamento dos refugiados e obstruir seu trânsito ao território continental.
A organização, por fim, exortou a União Europeia e a Grécia, em particular, a “reconsiderar fundamentalmente” sua abordagem sobre os refugiados nas ilhas gregas.
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