O juiz federal dos Estados Unidos Paul Engelmayer ordenou na terça-feira (8) que a Agência Central de Inteligência (CIA) entregue um relatório abrangente sobre o assassinato do proeminente jornalista saudita Jamal Khashoggi, além do vídeo de seu assassinato, após rejeitar determinações oficiais para manter o caso em sigilo.
As informações são da rede Bloomberg.
Embaraço saudita
A rede filantrópica Open Society Foundations declarou que a decisão judicial para que os serviços de inteligência reconheçam a posse de evidência sobre a morte de Khashoggi representa o primeiro passo para obter justiça e divulgar uma relevante gravação relacionada ao caso, reportou a Agence France-Presse (AFP) nesta quarta-feira (9).
A iniciativa internacional registrou uma queixa em uma corte civil contra a CIA e outras agências de inteligência, à medida que as instituições em questão recusaram-se a responder a pedidos de divulgação dos arquivos, submetidos com base no Ato de Liberdade de Informação.
Segundo a queixa, a iniciativa solicitou acesso a todos os documentos relacionados ao assassinato de Jamal Khashoggi, executado dentro do consulado da Arábia Saudita em Istambul, em 2 de outubro de 2018.
Contudo, a CIA e o gabinete do Diretor Nacional de Inteligência rejeitaram o pedido, sob alegações de segurança nacional.
Engelmayer considerou insuficiente a resposta dos serviços de inteligência, dado que o governo americano do atual presidente Donald Trump já emitiu declarações públicas sobre tais registros. Com base neste argumento, o juiz ordenou o reconhecimento oficial dos documentos relativos ao crime e apresentação de motivos legais para mantê-los confidenciais.
A decisão de Engelmayer causa potencial embaraço à Arábia Saudita, em particular, caso seja plenamente cumprida pelos serviços de inteligência dos Estados Unidos, ao implicar na divulgação das gravações do hediondo assassinato.
O vídeo nas mãos dos EUA
O juiz Engelmayer mencionou comentários de Trump feitos no fim de 2018, nos quais o presidente confirmou que as agências americanas de fato “têm a fita”.
Trump sugeriu, na ocasião, que a investigação da CIA não pôde concluir que Mohammed Bin Salman, príncipe herdeiro e governante de fato da Arábia Saudita, implicado no caso segundo evidências coletadas na Turquia, tem responsabilidade pelo assassinato.
Porém, segundo a AFP, o juiz não ordenou divulgação de documentos que possam apresentar evidência conclusiva sobre o infame crime contra o jornalista saudita, mas sim reconhecimento dos arquivos e publicação da gravação do incidente.
Não obstante, Amrit Singh, advogado na Iniciativa de Justiça da Open Society Foundations, garantiu que a decisão representa “um passo vital em direção ao fim da impunidade sobre este caso”, da qual beneficiam-se o príncipe herdeiro e outros oficiais próximos.
Os serviços de inteligência devem agora reconhecer oficialmente a existência dos arquivos e apresentar seus motivos legais para manter a confidencialidade. A partir de então, reiterou Singh, a fundação será capaz de “desmentir tais argumentos”, na esperança de cumprir as demandas por justiça.