Kenneth Stern, redator responsável por liderar a elaboração do conceito de antissemitismo promovido pela Aliança Internacional de Memória do Holocausto (IHRA), aconselhou o futuro governo dos Estados Unidos de Joe Biden a não adotá-la.
Em artigo para o jornal Times of Israel, Stern denunciou grupos de lobby sionista por converter a definição de antissemitismo em arma, como tentativa de silenciar críticos.
“Grupos judaicos estão utilizando o conceito como arma para dizer que expressões antissionistas são inerentemente antissemitas e devem ser suprimidas”, afirmou Stern, advogado e diretor do Centro de Bard para o Estudo do Ódio.
O artigo é resposta a uma carta da Federação Judaica da América do Norte à comissão de transição administrativa de Biden, em apelo para que o futuro presidente adote a definição da IHRA como prioridade máxima, ao assumir o cargo, em 20 de janeiro.
“Pessoas razoáveis podem divergir sobre quando o antissemitismo de fato reflete-se no antissionismo”, argumentou Stern. “Mas é esta a maneira – dado rótulo do governo em conjugar antissionismo e antissemitismo – a forma prioritária com a qual queremos pedir à nova gestão que combata o problema?”
Ao traçar a história da definição adotada pela IHRA, em 2005, Stern destacou que o texto foi elaborado para “conceder diretrizes a coletores de dados europeus sobre o que incluir ou excluir em denúncias de antissemitismo, através das fronteiras, ao longo do tempo”.
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Stern sugeriu que o “fascínio” dos sionistas pela definição da IHRA é evidente em exemplos específicos relacionados a críticas ao Estado de Israel. Sete dos onze exemplos ilustrativos do artigo associam críticas legítimas a políticas sionistas com o racismo antijudaico.
Ao argumentar que o presente uso do conceito prejudica efetivamente a luta contra o antissemitismo, Stern ofereceu exemplos de esforços antirracistas de outras comunidades.
“Imagina se o Black Lives Matter [Vidas Negras Importam] declarasse que o passo mais importante da nova administração para remediar o racismo sistêmico é adotar uma definição de racismo sob o seguinte termo: oposição a ações afirmativas”.
Segundo Stern, a insistência neste princípio de exclusão levaria o debate a concentrar-se em determinar limites à liberdade de expressão, ao invés de combater o racismo estrutural.
A todos que queiram de fato combater o antissemitismo, Stern recomendou ainda que deixem de tratar a definição da IHRA como “simples símbolo ou bandeira”.
Ao contrário, argumentou: “Devemos pedir a convocação de uma força-tarefa da Casa Branca sobre ódio – incluindo antissemitismo –, ao reunir pensadores e organizações de destaque, para mapear formas de reduzir a demonização do outro – incluindo judeus”.
Trata-se da segunda intervenção de Stern para alertar contra a adoção arbitrária do conceito proposto pela IHRA.
Em dezembro, o advogado americano escreveu um artigo, publicado pelo jornal britânico The Guardian, no qual advertiu que grupos pró-Israel utilizam sistematicamente acusações de antissemitismo como “arma” contra opositores políticos.
O repúdio ao documento da IHRA tomou corpo nos últimos meses, sobretudo, como reação aos esforços de grupos sionistas para impor o controverso código como norma de conduta em instituições acadêmicas por todo o mundo.
Na última semana, o professor David Feldman, proeminente especialista sobre antissemitismo, orientou o governo britânico a não adotar o conceito da IHRA em suas universidades.
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