Mais de um mês após o Presidente da Argélia Abdelmadjid Tebboune voar às pressas para a Alemanha, a fim de receber tratamento urgente contra coronavírus, o mistério sobre suas condições de saúde persiste.
Questões e rumores sobre o destino do país correm entre a população.
Em 24 de outubro, a presidência argelina anunciou que Tebboune entrou em quarentena “voluntária” por cinco dias, após casos registrados entre oficiais próximos do governo.
Quatro dias depois, o presidente foi transferido à Alemanha para realizar “exames médicos extensivos, por recomendação de sua equipe médica”.
Segundo o pesquisador político Muhammad Hanad, o afastamento prolongado sugere que Tebboune está bastante doente.
“Contudo, caso a ausência seja um problema às autoridades, então as preocupações vão além de suas condições médicas, mas abrangem também a incapacidade das autoridades em avaliar e conduzir assuntos do estado”, argumentou Hanad.
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A ausência de Tebboune lembra os argelinos do vácuo de poder imposto ao país quando o ex-presidente Abdelaziz Bouteflika foi internado no exterior diversas vezes, após sofrer um derrame, em 2013.
Na ocasião, o irmão do longevo ditador, Said Bouteflika, assumiu o cargo interinamente e tentou impor um quinto mandato ao presidente doente.
Em fevereiro de 2019, o povo argelino tomou as ruas em protesto por democracia, levando à renúncia de Bouteflika, após vinte anos de governo.
Desde que Tebboune voou à cidade alemã de Colônia, a presidência emitiu seis notas oficiais sobre sua saúde. Apesar do presidente ser um notório fumante inveterado, os argelinos tiveram de aguardar até 3 de novembro para saber de seu diagnóstico de covid-19.
Cinco dias depois, o governo sugeriu que suas condições de saúde estavam melhorando. Em 15 de novembro, outro comunicado alegou que o presidente terminou o tratamento, mas fora mantido em observação para realizar “exames médicos”.
Desde então, nada mais foi dito, salvo uma carta assinada pela Chanceler da Alemanha Angela Merkel desejando pronta recuperação ao presidente argelino. O apagão da imprensa e a falta de imagens de Tebboune incitou boatos e especulações.
Tebboune deveria ainda ratificar a nova constituição, após o referendo de 1° de novembro, e aprovar o orçamento para o ano fiscal de 2021.
Agora, alguns comentaristas já sugerem o uso do Artigo 102 da Constituição da Argélia, para declarar vacância presidencial, a fim de evitar uma crise política. O termo seria aplicado em duas etapas, conforme explicou Hanad.
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“A primeira etapa é temporária, caso seja provado um impedimento ao exercício dos deveres presidenciais por um período de até 45 dias. A segunda fase começa quando o presidente confirma a vacância ao renunciar, caso o impedimento exceda o prazo supracitado”.
Hanad destacou que, caso confirmada a vacância na segunda etapa, o vice-presidente da Assembleia Nacional da Argélia, Salah Goudjil, veterano de 89 anos da Guerra de Independência, será indicado como chefe de estado, à espera de novas eleições.
Em 28 de novembro, o jornal em francês El-Watan descreveu uma atmosfera de “tensão e confusão sobre a saúde de Tebboune”.
Na ocasião, uma fonte alegou que o presidente argelino logo estaria recuperado, mas mantinha-se internado na Alemanha para reabilitação física, antes de “retornar ao país dentro de poucos dias”. Desde 30 de novembro, porém, não há qualquer notícia do chefe de estado.