Acnur lança e-book com receitas de refugiados no Brasil

São paulo - A prefeitura de São Paulo firmou hoje (13) parceria com o Centro Universitário Ítalo-Brasileiro para oferecer curso de português para refugiados venezuelanos (Rovena Rosa/Agência Brasil)

A Agência da Organização das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) lançou no Brasil um e-book (livro digital) gratuito, com receitas criadas por refugiados da Colômbia, Venezuela e Síria, em comemoração aos seus 70 anos de atividades e como convite às pessoas para apoiar a causa humanitária. O livro reúne sete receitas de pratos doces e salgados originários desses três países, como “arepas” e “patacones”, pratos típicos colombianos.

A chefe da Área de Parcerias com o Setor Privado da Acnur Brasil, Natasha Alexander, explicou à Agência Brasil que a escolha dos três países para fazerem parte do e-book se deu porque eles englobam as principais populações de refugiados representadas no Brasil. São, atualmente, mais de 80 nacionalidades de pessoas refugiadas no país, informou Natasha. Ela avaliou que seria “maravilhoso” poder fazer novos livros digitais com receitas de outras nações.

Segundo Natasha Alexander, a culinária tem o poder de unir os povos e tem sido um dos pilares de integração dos refugiados no Brasil. “Isso tem duas razões. Uma é que a gente sabe que uma receita carrega toda uma história de família, uma memória afetiva. Então, é uma maneira de as pessoas que tiveram de deixar tudo para trás resgatarem a sua história”.

De acordo Natasha, a segunda razão, “é que a gastronomia vem como uma fonte de renda para muitas dessas pessoas refugiadas e isso permite que elas ganhem autonomia e possam reconstruir as suas vidas de uma maneira digna aqui no Brasil. Assim, elas contribuem com a nossa cultura e com a economia local. A gastronomia é uma maneira de a gente trabalhar o ingrediente principal desse livro que eu diria que é a empatia”. O ‘e-book’ está disponível gratuitamente para acesso no link: www.pratodomundo.com.

LEIA: Pedidos de refúgio e reconhecimentos aumentaram em 2019

Experiência

O colombiano Jair Abril Rojas veio para o Brasil em 2012, fugindo da violência em seu país. Aqui, foi inicialmente apoiado pela Cáritas, organização parceira da Acnur no Brasil. Ele trabalhou em restaurantes de comida baiana, em São Paulo, até poder abrir seu próprio negócio, o Macondo Raízes Colombianas, restaurante que oferece aos fregueses pratos típicos de seu país. Ele contribuiu para o ‘e-book’, com uma receita de fraldinha cozida com milho, batata, mandioca: “Uma receita bem típica dos lares colombianos, de eventos especiais. Receita de família”, disse Rojas à Agência Brasil.

Participar do livro digital da Acnur foi, para ele, uma “experiência bacana. A gente recebeu vários elogios para a receita. Muitas pessoas estão conhecendo o meu trabalho”. Jair Abril Rojas reconheceu que os primeiros dias após sua chegada ao Brasil não foram fáceis. Havia a barreira do idioma e diferenças culturais, mesmo sendo países vizinhos.

Para Rojas, ainda falta muito a fim de que possa dizer que está completamente adaptado. Cada país tem sua história e ele não consegue entender piadas de coisas que não vivenciou. Por exemplo, não conhece muito a música, os cantores, a arte brasileira e a geografia do país.

Segundo ele, o acolhimento pelos brasileiros também foi difícil no começo. “Havia preconceito em relação à Colômbia e associavam os refugiados ao tráfico, à guerrilha, às drogas”. Depois da tragédia com o time de futebol Chapecoense, isso mudou bastante, disse Jair Rojas. O brasileiro começou a pesquisar mais sobre a Colômbia, que virou destino favorito para férias. De modo geral, porém, afirmou que o povo brasileiro é bastante acolhedor.

LEIA: História de um prédio em SP que é quase um campo de refugiados!

Dados

Dados do Comitê Nacional para Refugiados (Conare) indicam que o Brasil tem mais de 190 mil solicitações ativas de refúgio, esperando ser processadas, e 50 mil refugiados já reconhecidos. Natasha esclareceu que são pessoas que são obrigadas a deixar tudo para trás. “A gente diz que a diferença entre o imigrante e o refugiado é que este último é obrigado, por uma questão de sobrevivência, a abandonar o seu lar. Isso acontece por uma questão de perseguição, de conflito armado ou de grande violação de direitos humanos”, disse.

O último relatório Tendências Globais da Acnur, de 2019, mostra que mais de 79,5 milhões de pessoas foram forçadas a deixar suas casas em todo o mundo, devido a conflitos, perseguições ou violência generalizada. Isso equivale a cerca de 1% da população global. Desse total, 26 milhões são refugiadas, 45,7 milhões estão deslocadas internamente em seus países e 4,2 milhões são solicitantes da condição de refugiada. O relatório indica também que 68% das pessoas deslocadas no mundo saíram de cinco países: Síria, Venezuela, Afeganistão, Sudão do Sul e Mianmar.

Acnur

A Agência da ONU é uma organização dedicada a salvar vidas, assegurar os direitos e garantir um futuro digno a pessoas que foram forçadas a deixar suas casas e comunidades devido a guerras, conflitos armados, perseguições ou graves violações dos direitos humanos. Ela está presente em 135 países, onde atua em conjunto com autoridades nacionais e locais, organizações da sociedade civil e o setor privado, visando garantir que os refugiados e apátridas encontrem segurança e apoio para reconstruírem suas vidas. Por esse trabalho humanitário, a agência da ONU recebeu duas vezes o Prêmio Nobel da Paz (1954 e 1981).

Publicado originalmente em Agência Brasil 

LEIA: O filho de Alepo – uma entrevista com Abdulbaset Jarour

Sair da versão mobile