Kahlil Gibran é considerado o terceiro maior poeta em vendas de todos os tempos, atrás somente de Lao Tzu e William Shakespeare, em grande parte, graças a seu livro O Profeta, publicado em 1923. A obra vendeu dezenas de milhões de cópias e está entre os livros mais traduzidos mundialmente. Apesar de tais conquistas, os primeiros talentos de Gibran remetem ao desenho e à pintura, que desenvolveu desde muito jovem.
Gibran Khalil Gibran nasceu em uma família cristã maronita na aldeia de Bsharri, norte do Líbano – na época, parte da colônia síria do Império Otomano –, em 6 de janeiro de 1883. Sua família, muito pobre, não pôde lhe oferecer qualquer educação formal. A sorte dos Gibran se degradou ainda mais quando o pai recaiu ao álcool e às apostas. Posteriormente, encontrou um emprego como coletor de impostos, mas foi preso sob acusações de fraude.
Sem o pai, o jovem Kahlil Gibran, com apenas 12 anos de idade, sua mãe Kamila e seus três irmãos embarcaram em direção aos Estados Unidos, em 1895. Eventualmente, assentaram-se no bairro de South End, em Boston, conhecido por sua diversidade. Foi ali que Gibran passou a frequentar a escola, o primeiro membro da família a fazê-lo. Segundo relatos, nesta ocasião, seu nome foi encurtado e a grafia foi alterada para “Kahlil”, por sugestão de um professor de inglês.
Gibran continuou a desenhar em sua juventude e sua arte logo atraiu a atenção de Fred Holland Day, artista e fotógrafo, residente em Boston, que tornou-se o primeiro patrono e mentor do autor, ao apresentá-lo à literatura. Em 1898, Gibran retornou ao Líbano para frequentar o colégio maronita de Madrasta al-Hikmah, onde estudou letras árabes e francesas e fundou uma revista literária.
Após retornar a Boston, em 1902, diante da notícia da morte de uma de suas irmãs, Gibran envolveu-se em um relacionamento marcante com Mary Elizabeth Haskell, que impactou profundamente sua vida e obra. Juntos, estudaram literatura inglesa e fundaram sua breve estadia em Paris, onde Gibran aperfeiçoou suas habilidades de desenho e pintura. Antes de partir para a França, o poeta libanês descreveu Haskell como “um anjo que me conduz a um futuro esplêndido e prepara meu caminho ao êxito intelectual e financeiro”.
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Alguns anos depois, sua reputação firmou-se entre os círculos de arte e literatura, com sua primeira obra em inglês, The Madman (O Louco), publicada em 1918, em um período no qual vivia na cidade de Nova Iorque. Sua obra mais célebre – O Profeta –, composta de 26 poemas em prosa, concentra-se na história de uma carismático sábio chamado Al-Mustapha, que, antes de retornar para a casa, após anos de exílio, é questionado por seus contemporâneos sobre questões filosóficas e espirituais, como a vida, o amor e a morte. O livro contém influências não apenas das origens maronitas de Gibran, como também do Islã, particularmente sufista. Contudo, alguns interpretam sua mensagem como oposta às tendências dogmáticas das religiões organizadas. Durante a década de 1960, por exemplo, O Profeta tornou-se conhecido como a “bíblia” do movimento de contracultura.
Gibran escreveria ainda mais de trinta obras literárias em inglês e árabe, além de produzir mais de 700 quadros, aquarelas e gravuras. Muitas destas peças foram ignoradas pelo mercado ocidental e devolvidas ao Líbano, após a morte do poeta, em 10 de abril de 1931, aos 48 anos. Em seus últimos anos, como seu pai, Gibran voltou-se ao alcoolismo e faleceu de cirrose.
Kahlil Gibran permanece ainda hoje como um dos mais prolíficos artistas e escritores árabes do início do século XX. Costuma-se creditá-lo com o renascimento da moderna literatura árabe, sobretudo a poesia em prosa, uma ruptura estética com as longevas convenções tradicionais da poesia beduína.
Essencialmente, a obra de Gibran em inglês não apenas expandiu o público da literatura árabe no Ocidente, como também levou a uma apreciação de mercado do próprio gênero poético, o que ajudou a consolidar seu lugar entre os maiores poetas da história da arte. Robert Irwin, autor, historiador e arabista britânico, escreveu certa vez ao London Review of Book, talvez muito precisamente: “Gibran parece ser o poeta favorito de quem não gosta de poesia”.
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