Após acusar as redes sociais de “censura”, Bolsonaro e seus aliados começaram a migrar para o aplicativo Telegram, assim como vários nomes da direita no mundo. O crescimento do aplicativo acontece após o banimento de Donald Trump das principais redes sociais por violar políticas de incitação à violência. A migração, também é fruto das recentes mudanças nas políticas de uso do concorrente WhatsApp e a remoção do aplicativo Parler – uma rede social auto-promovida como um espaço “voltado para a liberdade de expressão”. Na Turquia, a presidência e os militares mudaram seus sistemas de mensagens para um aplicativo de mensagens local.
O Telegram é um aplicativo de mensagens criptografadas, que além de funcionar como o WhatsApp, também permite grupos com até 200 mil membros e a criação de canais de divulgação sem interação. Este mês, o aplicativo ultrapassou a marca de 500 milhões de usuários ativos; com mais de 25 milhões de novos usuários apenas nos últimos dias, 38% deles são da Ásia, 27% da Europa, 21% da América Latina e 8% do Oriente Médio e norte da África. Segundo o seu fundador, Pavel Durov, “o Telegram se tornou o maior refúgio para quem busca uma plataforma de comunicação comprometida com a privacidade e segurança.”
No Brasil, o presidente Bolsonaro anunciou nesta terça-feira, em seu Twitter, a sua nova conta do Telegram. Após 24 horas, ele já tinha 135 mil seguidores. Com as crescentes exclusões de contas vinculadas a Trump, o presidente disse “lamentar a censura nas redes sociais”. Durante a cerimônia no Palácio do Planalto em celebração aos 160 anos da Caixa Econômica Federal, Bolsonaro disse que a sua “adorada imprensa” nunca teve tanta liberdade como em seu governo, no qual nunca se ouviu falar em controle social ou democratização da mídia. “Vocês têm liberdade demais, de sobra”, afirmou, “Eu lamento o fechamento, a censura às mídias sociais. Elas não concorrem com vocês, não. Uma estimula a outra.”
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Bolsonaro condenou as medidas das principais redes sociais que responsabilizaram Donald Trump, após os acontecimentos da última quinta-feira, quando os apoiadores do presidente americano invadiram o Capitólio. Nesta terça, o Youtube anunciou a suspensão do seu canal – os comentários de seus vídeos foram desativados indefinidamente e ele foi impedido de enviar novos vídeos ou fazer transmissões ao vivo por no mínimo sete dias. O Facebook e Instagram também o bloquearam ao menos até a posse de Joe Biden. Já o Twitter, além de banir permanentemente a conta de Trump, anunciou a suspensão de mais de 70 mil contas ligadas às teorias de conspiração Pró-Trump conhecidas como QAnon.
O Twitter anunciou que “devido aos eventos violentos em Washington D.C. e ao aumento do risco de danos”, as contas foram suspensas como resultado de seus esforços para suspender permanentemente os robôs de compartilhamento de conteúdo QAnon. Esta teoria de conspiração de extrema direita que já foi qualificada pelo FBI como uma ameaça de terrorismo doméstico propaga a crença de que há um “Estado profundo” (deep state) que exerce o poder secretamente, composto por “adoradores de Satanás”, que mantêm redes de pedofilia e bebem sangue de bebês para conquistar a juventude. Seus fiéis acreditam que Donald Trump é o herói que vai acabar com o estado profundo.
O Parler, rede social conservadora preferida pelos apoiadores de Trump, foi retirado do ar nesta segunda pela Amazon, após a corporação perceber um “aumento persistente de conteúdo violento”. A Google e a Apple também removeram o aplicativo das suas lojas de download, por uma proliferação de ameaças de violência e atividades ilegais. A Amazon suspendeu a rede por não cumprir os termos do serviço e representar “um risco muito real para a segurança pública”, alegando ter 98 exemplos de postagens que encorajam e incitam a violência e um aumento recente e constante desse tipo de conteúdo.
Após as medidas para restringir a difusão desses discursos, o Twitter, a Alphabet (dona do Google), a Amazon e a Apple registraram uma significativa queda na bolsa de valores americana.
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