A Turquia e a Grécia retomaram as negociações na segunda-feira (25) para resolver a disputa sobre a exploração de petróleo e gás no Mediterrâneo Oriental, o que resultou em um sério conflito entre os dois países membros da OTAN.
As negociações tiveram lugar no Palácio Dolmabahçe, em Istambul, onde o vice-ministro das Relações Exteriores da Turquia, Sadat Onal, recebeu uma delegação grega.
As conversações sobre a situação no Mediterrâneo Oriental estão suspensas desde 2016, após uma grande escalada entre os dois vizinhos. A recente exploração de gás turco no que os gregos afirmam ser suas águas territoriais mergulhou Ancara e Atenas em uma crise diplomática, sem precedentes desde 1996, quando os dois países estavam à beira de um confronto armado.
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As negociações fazem parte de uma campanha mais ampla lançada pelo presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que visa acalmar as tensões com a União Europeia. No mês passado, os líderes da União Europeia decidiram em uma cúpula em Bruxelas punir a Turquia por suas ações “ilegais e hostis” no Mediterrâneo contra a Grécia e Chipre. Sanções foram impostas a indivíduos envolvidos nas operações da Turquia no Mediterrâneo Oriental.
Embora o primeiro-ministro grego Kyriakos Mitsotakis tenha dito que seu país está entrando nessas negociações com “otimismo e esperança”, ele não espera nenhum progresso significativo. As duas partes não chegaram a um acordo sobre uma agenda para a reunião, uma indicação, talvez, de que as negociações podem acabar sendo superficiais.
A Grécia quer discutir a demarcação da plataforma continental em torno de suas ilhas no Mar Egeu, enquanto a Turquia quer expandir o escopo das negociações para incluir as respectivas zonas econômicas exclusivas e espaço aéreo dos países.
O ministro das Relações Exteriores turco, Mevlut Cavusoglu, denunciou a “provocação” de Atenas, que falava em dobrar a área de suas águas territoriais no Mar Egeu. Tal passo é considerado por Ancara como muito perigoso.
O homólogo de Cavusoglu, Nikos Dendias, reiterou a importância das conversas, destacando que o encontro não incluirá negociações formais, mas sim discussões informais sobre o assunto. “Mas esperamos que essas negociações levem a uma redução da tensão”, acrescentou. Apesar dessas diferenças, a UE saudou o reatamento do diálogo entre os dois países, considerando-o um “sinal positivo”.
A crise entre Atenas e Ancara piorou com a implantação de um navio turco na área disputada em agosto passado, perto da ilha grega de Kastellorizo, a poucos quilômetros da costa turca. A Grécia, que está finalizando um acordo para comprar 18 aeronaves francesas Rafale para aumentar suas defesas, acusou a Turquia de violar suas fronteiras marítimas.
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Ancara acredita que a presença dessa pequena ilha não justifica impedi-la de explorar uma grande parte do Mediterrâneo Oriental que é rica em reservas de gás natural. No final de novembro, o navio voltou ao porto na Turquia, em um esforço para amenizar a tensão.
Analistas acreditam que a Turquia está tentando reduzir a tensão com a Europa devido às dificuldades econômicas, que foram agravadas pela pandemia de covid-19 e pela vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais dos EUA.
Ancara espera uma mudança na política dos EUA em relação ao governo de Erdogan, depois que o presidente turco estabeleceu um forte relacionamento pessoal com Donald Trump.