Monitores independentes da Organização das Nações Unidas (ONU) acusaram o governo iemenita reconhecido internacionalmente de lavagem de dinheiro e corrupção – “o que afetou negativamente o devido acesso a suprimentos alimentares”.
O relatório emitido ao Conselho de Segurança, compartilhado com a agência Reuters, denunciou ainda o grupo rebelde houthi por coletar ao menos US$1.8 bilhão em recursos públicos e desviá-los a seus esforços de guerra.
O documento anual sobre a implementação de sanções internacionais no Iêmen coincide com alertas de oficiais da ONU sobre uma iminente crise de fome que pode afetar milhões de civis no Iêmen assolado pela guerra.
As redes de monitoramento reportaram que a Arábia Saudita depositou uma soma de US$2 bilhões no Banco Central do Iêmen, em janeiro de 2018, sob um suposto programa de desenvolvimento e reconstrução.
O dinheiro seria destinado a financiar a compra de bens essenciais – como arroz, açúcar, leite e farinha –, para estabilizar os preços e promover a segurança alimentar no Iêmen.
A investigação da ONU, porém, descobriu que o Banco Central violou suas próprias regras de câmbio internacional e manipulou o mercado de moeda estrangeira para “lavar uma parte substancial do depósito saudita, em um esquema sofisticado de lavagem de dinheiro”.
LEIA: Mães de sequestrados no Iêmen pedem intervenção da ONU
A margem de lucro da negociata foi aferida em torno de US$423 milhões.
“Estes US$423 milhões são dinheiro público, transferido ilegalmente a corporações privadas”, destacou o relatório da ONU. “Documentos fornecidos pelo Banco Central do Iêmen não foram capazes de explicar porque adotaram uma estratégia tão destrutiva”.
“Trata-se de lavagem de dinheiro e corrupção perpetrados por instituições do governo, neste caso, o Banco Central do Iêmen e o próprio governo, em complô com empresários bem informados e políticos, em favor de um grupo seleto de negociantes”, prosseguiu.
O governo iemenita e o Banco Central não comentaram as acusações, até então.
Por outro lado, segundo o relatório, áreas controladas pelos houthis vivenciam a coleta de impostos e outros recursos públicos, previstos para pagar salários e conceder serviços básicos aos cidadãos, desviados em grande parte aos esforços de guerra do grupo rebelde.
Ao menos US$1.8 bilhão foi expropriado em 2019.
Os houthis também não comentaram as acusações, até então.
A coalizão liderada pela Arábia Saudita interveio no Iêmen em 2015, para tentar restaurar o governo aliado deposto pelos houthis. O conflito é considerado uma guerra por procuração entre Riad, forte aliado dos Estados Unidos, e Teerã.
Oficiais da ONU tentam retomar as conversas de paz entre as partes, à medida que o Iêmen sofre ainda com o colapso econômico e a pandemia de coronavírus.
Segundo o relatório, “há cada vez mais evidências de que indivíduos ou entidades da República Islâmica do Irã estão engajados a enviar armas e peças beligerantes aos houthis, em violação ao embargo da ONU”.
O Irã, contudo, nega o apoio aos houthis.