Saad al-Jabri, ex-chefe de inteligência da Arábia Saudita, negou as acusações de desvio de bilhões de dólares dos cofres públicos, ao recorrer a uma corte canadense para que suspenda o congelamento global de seus recursos financeiros.
Al-Jabri, de 62 anos, manteve o cargo máximo de inteligência durante o governo de Mohammed Bin Nayef, príncipe herdeiro deposto por seu primo, Mohammed Bin Salman.
O ex- oficial vive hoje no exílio na cidade canadense de Toronto e alega ser alvo de uma conspiração para assassiná-lo, orquestrada pelo atual príncipe herdeiro e governante saudita.
A última rodada do embate entre al-Jabri e Riad decorreu em um processo jurídico, registrado em janeiro por um grupo de empresas estatais, na Corte Superior de Ontário, acusando o ex-oficial de liderar um esquema fraudulento no valor de US$3.5 bilhões.
Segundo as alegações, al-Jabri escondeu recursos em paraísos fiscais e empresas de fachada para enriquecer sua família e amigos.
Conforme reportagem do Wall Street Journal, dez empresas pertencentes ao fundo de investimentos Tahakom, corporação subsidiária do fundo soberano saudita, registraram uma queixa civil contra o dissidente exilado.
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Bin Nayef também é implicado no processo, acusado de conspirar com al-Jabri para receber ao menos US$1.2 bilhões em recursos ilegais e transferir US$55 milhões ao ex-oficial como propina. Contudo, não foi nomeado como réu perante a corte canadense.
O ex-príncipe herdeiro supostamente permanece em prisão domiciliar, desde sua queda, via golpe palaciano em 2017.
Na última semana, a Corte Superior de Ontário ordenou o congelamento global dos recursos de al-Jabri e requisitou um inventário de seus bens, sob risco de prisão.
A corte também ordenou que bancos, advogados e contadores nos Estados Unidos, Canadá, Suíça, Turquia, Emirados Árabes Unidos e Reino Unido revelem todos os registros relativos às posses de al-Jabri e solicitou apoio das respectivas jurisdições para executar a ordem.
Al-Jabri nega as acusações.
A assessoria jurídica do ex-oficial prometeu combater com veemência as “alegações recicladas de corrupção” e alegou “confiança” em desmentí-las com êxito no futuro próximo. “A família agradece a oportunidade de enfrentar Bin Salman em fóruns judiciais neutros”, afirmou.
O processo é considerado parte de uma campanha política contra críticos do regime saudita.
Seis meses atrás, al-Jabri registrou uma queixa em uma corte americana, no qual denunciou o atual príncipe herdeiro por enviar um esquadrão da morte para executá-lo, apenas treze dias após o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, em outubro de 2018.
Detalhes do processo de al-Jabri revelaram paralelos contundentes entre sua tentativa de assassinato e a execução brutal do jornalista dissidente, radicado nos Estados Unidos, dentro do consulado saudita em Istambul, na Turquia.