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Turquia reúne gêmeos conjugados sírios à mãe, após 101 dias

Gêmeos conjugados Bessam e Ihsan no Hospital Universitário de Ancara, na Turquia, 4 de fevereiro de 2021 [Mehmet Kaman/Agência Anadolu]
Gêmeos conjugados Bessam e Ihsan no Hospital Universitário de Ancara, na Turquia, 4 de fevereiro de 2021 [Mehmet Kaman/Agência Anadolu]

A mãe de Bessam e Ihsan, gêmeos que nasceram conjugados, reuniu-se com seus bebês após 101 dias, graças a esforços do governo turco para levá-la do norte da Síria a Ancara, segundo informações da agência Anadolu.

Os irmãos nasceram em 25 de outubro de 2020 na região de Idlib, norte da Síria, assolada pela guerra. Apesar da baixa taxa de mortalidade entre os chamados gêmeos siameses, os bebês lutaram por sua vida desde o primeiro momento.

O pai, Mahmoud Salih, solicitou ajuda da Turquia logo após descobrir a rara condição dos filhos, ainda antes do nascimento.

Diante dos apelos de Mahmoud, os bebês conjugados foram levados à província de Hatay, no extremo sul da Turquia, e transferidos posteriormente ao Hospital Universitário de Ancara, na capital, onde foram tratados.

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Escoltado pelas autoridades turcas, o pai dos gêmeos chegou a Ancara, deixando para trás seus três outros filhos e sua esposa.

Mahmoud, de 40 anos, relatou à agência Anadolu sua jornada de Idlib à capital turca.

“Graças a Allah, nosso pedido foi aprovado e pude trazer meus filhos ao hospital de Antakya [distrito de Hatay]”, destacou.

Após os primeiros procedimentos necessários, Bessam e Ihsan foram transferidos ao Hospital Universitário de Ancara.

Embora distantes dos pais, os bebês receberam grande carinho e atenção dos trabalhadores de saúde envolvidos em seu tratamento, de enfermeiras aos médicos responsáveis. Porém, precisavam reunir-se com a mãe para continuarem amamentados e fortes até a cirurgia.

Uma ajuda da Turquia

O governo turco agilizou esforços para reunir a mãe e os outros três irmãos ainda na Síria ao restante da família, agora na Turquia.

“Foi um desafio para mim. Tive de deixar minha esposa e meus filhos para trás. Foi muito difícil. Mas ainda bem, estão aqui agora e estamos reunidos”, declarou Mahmoud, ao expressar gratidão aos profissionais dos serviços públicos e de saúde pelo apoio à família.

“Quando eu não tinha a menor ideia do que fazer, a Turquia estendeu sua mão”, reiterou.

A mãe de Bessam e Ihsan, Lubaba esperava ansiosamente em frente à unidade de tratamento intensivo (UTI) neonatal para enfim reunir-se com seus bebês.

Lubaba, mãe de cinco filhos, relatou ter adoecido devido aos “momentos difíceis” que passou longe de seus bebês. “Sem meus filhos por três meses, fiquei doente. O pai deles não estava conosco [na Síria]”, reiterou.

A mãe dos gêmeos também agradeceu o governo turco, médicos e enfermeiras:

Graças a Allah, estou muito feliz de ver meus filhos afinal!

Conhecido como um dos mais tradicionais hospitais da Turquia, o Hospital Universitário de Ancara fornece tratamento a 650.000 pacientes externos e 33.500 pacientes que passam por internação, anualmente, com tecnologia de ponta para diagnóstico e tratamento.

Saadet Arsan, chefe do Departamento de Pediatria, descreveu a condição dos gêmeos à agência Anadolu: “Os bebês são gêmeos siameses ou gêmeos conjugados … uma condição rara na medicina, conjugados pela região do torso”.

Preparativos para a separação dos gêmeos

A médica de Ancara destacou que os bebês compartilham alguns órgãos e a cavidade abdominal. Um dos irmãos não tem rins, bexiga urinária e pâncreas.

“É claro que não há pé de igualdade ao separar esses gêmeos e trata-se de um procedimento cirúrgico bastante complexo”, declarou Arsan.

Gêmeos conjugados Bessam e Ihsan no Hospital Universitário de Ancara, na Turquia, 4 de fevereiro de 2021 [Mehmet Kaman/Agência Anadolu]

Gêmeos conjugados Bessam e Ihsan no Hospital Universitário de Ancara, na Turquia, 4 de fevereiro de 2021 [Mehmet Kaman/Agência Anadolu]

Os bebês receberam tratamento ininterrupto durante três meses no hospital referência da capital turca. Agora, um conselho de especialistas de diversas áreas da medicina foi composto para debater os próximos passos, relatou Arsan.

“Como resultado, chegamos à conclusão de que o processo de separação dos gêmeos terá de ser gradual, com uma série de operações que levarão tempo. Em nossa última reunião, concordamos em não apressar os procedimentos”, anunciou a médica responsável.

Além de fornecer cuidados médicos aos bebês, Arsan destacou que o Hospital Universitário de Ancara tomou a iniciativa de reunir a família. “Um bebê, não importa se conjugado pelo abdômen ou não, deve crescer e desenvolver-se em um ambiente familiar”, afirmou.

Emocionada diante do reencontro, comentou Arsan: “Quando os bebês não recebem o carinho da família, não se desenvolvem propriamente. Desta forma, como médicos [dos gêmeos], sentimos enorme entusiasmo e alegria de ver a família aqui, enfim reunida”.

Gulnur Gollu Bahadir, cirurgião pediátrico do hospital em Ancara, concedeu maiores detalhes sobre o diagnóstico e prognóstico dos gêmeos.

“Recebi um telefonema do hospital de Hatay dez horas após o nascimento dos bebês”, relatou Bahadir. “Conversei imediatamente com nossos chefes de cirurgia e unidade neonatal. Os bebês chegaram ao nosso hospital com 24 horas de vida”.

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Bahadir destacou a raridade global da condição médica e enfatizou que a operação requer uma vasta equipe. Todos os preparativos necessários para a cirurgia já estão em curso.

“Iniciamos os devidos esforços para separar os bebês, mas a condição de um dos bebês é mais complexa que a do outro. Ele tem sérios problemas no trato urinário. Compartilham ainda a membrana cardíaca, hepática e pâncreas”, reportou a médica.

“Um dos bebês, quando chegou, também não tinha ânus. Tivemos de operar imediatamente e criamos um ânus via cirurgia”, prosseguiu.

Os bebês já passaram por todos os procedimentos emergenciais e aguardam agora o processo de separação, muito mais árduo e demorado, à medida que toda a equipe pediátrica do hospital monitora de perto sua saúde.

“Começamos os preparativos para a separação, mas levará tempo, talvez um ou dois anos”, estimou Bahadir.

Os irmãos conjugados têm agora de aguardar pacientemente pela cirurgia em sua casa, sob o afetuoso cuidado de sua família.

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