O parlamento egípcio acolheu, no início deste mês, os apelos para que o governo coopere com o Sudão para reformar seu sistema educacional e currículo escolar, a fim de combater o extremismo.
Durante uma sessão parlamentar em 7 de fevereiro, o membro do parlamento Farida Al-Shobashi declarou: “O parlamento egípcio incentiva os ministérios da educação e doações egípcios a apoiar o Sudão em sua experiência única na revisão de seus currículos escolares para purificá-los de conteúdo extremista”.
Ela acrescentou: “O Egito tem experiência no combate ao extremismo e no confronto com as ideias takfiristas. Sendo assim, as experiências egípcias devem ser transferidas para o Sudão para ajudá-lo a livrar seus currículos escolares de qualquer conteúdo contaminado pelo extremismo”.
O MP Hatem Bashat afirmou seu apoio ao projeto, dizendo na mesma sessão que Cairo deve revisar “os currículos sudaneses e remover qualquer material ofensivo para o Egito a fim de construir gerações nos dois países irmãos desprovidos de quaisquer ideias destrutivas”.
Bashat se referiu diretamente ao comitê denominado Iniciativa do Povo para o Fortalecimento das Relações Sudanês-Egípcio, da qual ele é membro, que foi lançado por figuras públicas de ambos os países em 28 de janeiro. Isso aconteceu dias depois de o primeiro-ministro do Sudão, Abdalla Hamdok, também anunciar a formação de tal comitê.
Essa iniciativa foi lançada um dia depois que o ministro de Assuntos Religiosos e Dotações do Sudão, Nasruddin Mufreh, declarou: “O Sudão decidiu livrar os currículos escolares, especialmente os currículos de educação islâmica, da ideologia extremista e terrorista para torná-la consistente com a estrutura geral e os objetivos moderação”.
LEIA: Sudão impõe toque de recolher em três estados para conter protestos
O sistema educacional do Sudão, que foi implementado sob o ex-ditador deposto Omar Al-Bashir, teria contido elementos “extremistas”, cujos detalhes não foram divulgados. Sob o atual governo de transição sudanês, o legado de Al-Bashir está sendo constantemente apagado no que seus oponentes veem como um movimento para secularizar o país e sua governança.
Esse apagamento não está ocorrendo apenas com a prisão de ex-líderes do regime de Al-Bashir, mas também em relação à religião na própria política. Em setembro do ano passado, o governo de transição instituiu a separação entre religião e Estado, encerrando três décadas de domínio islâmico e o papel do Islã como religião oficial do Estado.
Com esse processo de secularização, o Sudão tem traçado seu caminho de novas políticas, como a normalização das relações com Israel, e agora, segundo consta, a assistência do Egito na reforma de seu sistema educacional.
O próprio Ministro da Educação do Egito, Tarek Shawki, também foi uma figura proeminente na revisão e reforma do currículo educacional do Cairo e agora de Cartum, revelando no dia 6 de fevereiro que vários estados árabes pretendem implementar o sistema educacional egípcio em suas próprias escolas.
Shawki foi o oficial responsável pela demissão de mais de 1.000 professores pelo governo egípcio em 2019 por causa de suas ligações “terroristas” com a Irmandade Muçulmana ilegal e por manter “visões extremistas”. Alguns desses professores foram condenados à morte, sinalizando até que ponto o Egito fez a purificação de seu próprio sistema educacional.