Autoridades egípcias mais uma vez prenderam parentes do ex-prisioneiro político Mohamed Soltan, exilado nos Estados Unidos, como parte de uma campanha para impedí-lo de denunciar os abusos de direitos humanos cometidos pelo regime de Abdel Fattah el-Sisi.
Seis familiares de Soltan foram presos na manhã de domingo (14), em Mounofiya e Alexandria, segundo um comunicado divulgado pela organização internacional Freedom Initiative.
Moustafa e Khairi Soltan, primos do ex-preso político, foram detidos e um terceiro primo teve de render-se após recuperar-se de uma fratura na perna, segundo informações divulgadas pelo jornal americano The Washington Post.
Mohamed Soltan foi baleado e preso na ocasião do massacre de Rabaa, em agosto de 2013, após o golpe militar que depôs Mohamed Morsi, primeiro presidente democraticamente eleito no Egito, e levou o general Sisi ao poder.
Autoridades egípcias detiveram Soltan enquanto procurava por seu pai e então o condenaram em um julgamento de massa por “propagar notícias falsas” e “prejudicar a segurança nacional”.
Em 2015, Soltan foi libertado em troca de renunciar à sua nacionalidade egípcia, após 15 meses de greve de fome, e exilou-se nos Estados Unidos.
Em 2020, registrou um processo em Washington DC contra o ex-Primeiro-Ministro do Egito Hazem Beblawi, ao acusá-lo de supervisionar sessões de tortura às quais foi submetido sob custódia das autoridades do país norte-africano.
Sob o Ato de Proteção às Vítimas de Tortura, lei americana promulgada em 1991, sobreviventes de tortura podem buscar indenização de seus agressores. Sisi e seu chefe de inteligência, Abbas Kamel, são identificados na queixa como “réus não processados”.
Soltan denuncia ter sido particularmente agredido por condenar os massacres nas praças de Rabaa e Al-Nahda, em 2013, além do fato de ser também cidadão americano e como retaliação por seu pai ter exercido o cargo de ministro adjunto sob o governo Morsi.
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Na cadeia, os carcereiros de Soltan queimaram seu corpo com cigarros e quebraram suas costelas ao espancá-lo. Os guardas o encorajavam a cometer suicídio.
Após registrar seu processo nos Estados Unidos, cinco dos primos de Soltan desapareceram sob ações do regime egípcio, supostamente presos até que a queixa fosse retirada. Em novembro último, foram libertados após 144 dias na prisão.
Analistas observaram que sua soltura poderia ser relacionada à iminente vitória eleitoral de Joe Biden à presidência dos Estados Unidos. Contudo, a ofensiva de Sisi voltou a alvejar a família do ex-prisioneiro político no último domingo.
Em 2013, Salah Soltan, pai de Mohamed, também foi detido. Após ser indiciado, foi interrogado na prisão e então transferido a uma localidade desconhecida. A família não tem informações sobre seu paradeiro, desde então.