Ataques terroristas conduzidos por colonos israelenses tornaram-se mais e mais frequentes na Cisjordânia ocupada. Uma das últimas vítimas foi Bilal Shehadeh Bawatna, de 52 anos, residente de Al-Bireh, assassinado na última sexta-feira (12) quando ele e seus companheiros foram atropelados por um carro dirigido por um colono, na região norte do Vale do Jordão. Aqueles que o acompanhavam foram feridos pelo ataque deliberado.
Segundo o secretário do partido Fatah em Tubas e Vale do Jordão, Mahmoud Sawafta, os homens caminhavam em uma trilha ao lado da estrada quando foram atingidos. O colono dirigia seu carro do outro lado da rodovia quando fez o retorno para atropelá-los. Bawatna foi morto pelo impacto e dois outros cidadãos, gravemente feridos. Segundo relatos, o colono acelerava ao longo da estrada.
Bilal Bawatna era membro de um grupo de caminhada, criado há alguns anos para educar as pessoas sobre a Palestina, sua geografia e história, além de conscientizar os jovens sobre a importância de preservar a terra e enfrentar a expansão colonial israelense. Este tipo de turismo tornou-se bastante popular nos últimos anos.
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Na última quarta-feira (10), Azzam Jamil Amer, da aldeia de Kafr Qalil, perto de Nablus, foi morto também atropelado por um colono nos arredores de Haris, na província de Salfit, no norte da Cisjordânia ocupada. Amer voltava do trabalho para a casa e atravessava a rua quando o colono israelense atravessou o farol vermelho e o matou com seu carro. O ataque ocorreu perto do grande assentamento colonial de Ariel.
Este e outros ataques pretendem instilar medo nos habitantes palestinos para que cogitem deixar suas terras. Contudo, tais atentados destacam a presença de assentamentos ilegais construídos por Israel nos territórios palestinos ocupados. Somente Ariel é lar de mais de 20 mil colonos ilegais israelenses.
A infraestrutura de segurança imposta por toda a Cisjordânia pelas autoridades da ocupação tem como objetivo dificultar a vida dos nativos palestinos tanto quanto possível. Os colonos operam de modo semelhante, com sua própria abordagem beligerante e mortal. Em muitas ocasiões, ataques terroristas de colonos ilegais ocorrem sob escolta de soldados e policiais de Israel. São raríssimos os casos nos quais as tropas israelenses impedem os atentados. Quando o fazem, é meramente por receios de consequências amplas das agressões coloniais, não por qualquer preocupação particular sobre as dores e o sofrimento infligido aos palestinos. Os próprios colonos representam uma violação da lei internacional simplesmente por habitarem terras ocupadas. Ações dessa natureza, portanto, são também graves crimes em flagrante, conforme a lei internacional.
Os terroristas israelenses atacam ainda propriedades e fazendas palestinas, além de indivíduos. Esta ofensiva pode ser vista, por exemplo, durante o período de colheita das oliveiras, elemento central da economia e da vida cotidiana dos nativos palestinos. Toda temporada, os colonos ilegais destroem e incendeiam centenas de árvores oliveiras bastante antigas. São tão plenos de ódio que não permitem sequer que os palestinos celebrem sua harmonia com a terra via colheita.
Colonos ilegais executam também ataques terroristas contra casas palestinas – e como poderíamos esquecer do ataque incendiário contra a família Dawabsheh, em 2015? –, além de mesquitas, igrejas e veículos. Logo, representam uma ameaça bastante concreta a todos que viajam pelas estradas da Cisjordânia, à medida que buscam sabotar a vida palestina em todos os aspectos por suas ações violentas.
Aisha Al-Rabi, de 47 anos, residente de Bidya, na província de Salfit, foi morta quando um colono a atingiu com uma pedra na cabeça, enquanto ela viajava com seu marido. Mesmo o Ministério de Segurança de Israel teve de assumir que o episódio decorreu de um “ato hostil” com motivação racista e ideológica contra os árabes palestinos, agredidos meramente por serem árabes.
Tais ataques coloniais são cada vez mais frequentes, apesar da decisão do Tribunal Penal Internacional (TPI) de incluir em sua jurisdição os crimes cometidos nos territórios palestinos ocupados, de modo que a própria presença dos colonos em assentamentos ilegais representa o maior caso a ser processado perante Haia. Entretanto, colonos e aqueles que os apoiam acreditam estar acima da lei internacional. Com sua ideologia extremista religiosa e sua mente fechada, não estão abertos a qualquer razão.
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Uma verdadeira ideologia de ódio e discriminação aplica textos religiosos para justificar ataques terroristas de colonos israelenses contra não-judeus, sobretudo os árabes nativos. Conforme esse ideário colonial, não há qualquer valor da vida humana senão a própria e o sangue palestino é desprezível a seus olhos. No último ano, o chefe rabino de Safed, Shmuel Eliyahu, notoriamente racista, esteve entre diversos “proeminentes rabinos de direita” a demandar a absolvição de um judeu israelense condenado por assassinar três membros de uma família palestina em um atentado terrorista. Eliyahu é conhecido por suas críticas ao governo supostamente secular de Israel e frequentemente ostenta seu racismo contra os árabes.
O avanço da extrema-direita na política israelense encoraja de fato os ataques terroristas executados por colonos contra os palestinos. O Ministro de Assuntos dos Assentamentos de Israel Tzachi Hanegbi já afirmou que seu governo deseja transferir mais de um milhão de judeus a assentamentos espalhados por toda a Cisjordânia. O Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu alinhou-se com grupos extremistas e, portanto, representa um cúmplice dos numerosos assassinatos e atentados nas terras ocupadas. O premiê foi indiciado por corrupção e fraude, então precisa de todo o apoio possível para garantir uma vitória nas próximas eleições gerais, em março, para liderar mais um governo.
É algo público que Donald Trump concedeu a Israel tudo que pediu a ocupação. Desta forma, o que fará na prática seu sucessor, Joe Biden? É quase certo que continuará a proteger Israel em todos os níveis, ao lavar as mãos perante a lei internacional. Os ataques terroristas de colonos israelenses foram incitados por este apoio político ao longo de décadas. É improvável que haja alguma mudança imediata. De fato, é provável que continuarão a escalar.
Este artigo foi traduzido e editado pelo MEMO, publicado originalmente em árabe pela rede Al-Araby Al-Jadeed, em 14 de fevereiro de 2021
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