Samira Ghannoum, brasileira de origem libanesa, muçulmana e campeã da primeira temporada do programa de televisão Bake Off Brasil, em 2015, é agora uma figura conhecida por todo o país. Foram treze semanas de competição, com audiência de milhões de pessoas em vinte países de toda a América Latina.
“Fico muito feliz em ser a primeira mulher muçulmana de descendência árabe a vencer a competição”, declarou Ghannoum. Na final, ela teve apenas duas horas para produzir um bolo de casamento. O programa atraiu milhões de telespectadores e aparentemente levou muitos a conhecer mais da cultura árabe e islâmica.
Ghannoum vive em São Paulo com seu marido libanês e cinco filhas. Fazia bolos e doces árabes para sua família, amigos e comunidade local antes de ser convencida a inscrever-se na competição. “Sempre gostei de fazer confeitaria”, relatou Ghannoum. “Eu fazia bolos e doces para o aniversário das minhas filhas e, quando seus amigos provaram, começaram a pedir para que eu fizesse para eles”. Foi uma de suas filhas que a inscreveu no Bake Off Brasil.
Ghannoum recorda a dificuldade da competição, mas conseguiu chegar à final. Os juízes e a apresentadora do programa, Ticiana Villas Boas, relataram ao UOL: “Samira merecia o prêmio sem a menor dúvida. Foi a mais constante, que cometeu menos erros e que mais fez coisas deliciosas. Ela nasceu com um dom de Deus e realmente tem as mãos de um chef. É claro que ela faz tudo com amor e compromisso”.
Vencer a competição não rendeu apenas quinze minutos de fama a Samira Ghannoum. Ela tornou-se um ícone para outras mulheres muçulmanas no ramo da cozinha e confeitaria, no Brasil. “Não tinha a menor ideia de que minha participação no programa poderia mudar as vidas de outras mulheres. Muitas meninas muçulmanas que me assistiram no Bake Off agora são também confeiteiras”.
Antes de participar do programa, Ghannoum explicou aos produtores que, como muçulmana, possuía restrições sobre alguns ingredientes que poderia usar. Ao longo da disputa, porém, uma receita demandava álcool, mas Ghannoum recusou a usá-lo, mesmo sob risco de desclassificação. “Seria contra tudo que tento ser como muçulmana”, afirmou. “Jamais usei nenhum ingrediente proibido pelo Islã”.
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Contudo, quando os juízes questionaram o chef italiano que criou a receita sobre este impasse, ele respondeu: “Um chef profissional não usa álcool na receita deste bolo”.
Ao longo da competição, Ghannoum não pôde experimentar nenhuma receita que a ofereceram. Ao saber de suas restrições gastronômicas, seus concorrentes a respeitaram cada vez mais. Houve momentos em que a alertaram para não experimentar um prato por conter vinho. Por sua vez, Ghannoum demonstrou gratidão pelo respeito à sua fé e sua cultura. “O respeito nos une, apesar de nossas diferenças”, sorriu a campeã do programa.
Segundo Ghannoum, uma mulher que usa hijab (véu) propaga o Islã mesmo sem dizer uma palavra, pois incita curiosidade. Concordo, por experiência própria, e o Islã ensina a respeitar a lei e nossos vizinhos, não importa quem sejam. É muito importante demonstrar que nossa religião não nos torna “extraterrestres”, como creem muitas pessoas. Uma vez explicado e compreendido tais preceitos, o respeito e a admiração são naturais.
Ghannoum destacou em nossa entrevista que vencer a competição não a torna mais especial do que nenhuma outra pessoa. De fato, impõe uma nova responsabilidade sobre seus ombros.
“O outro finalista ficou nervoso e não conseguiu concluir sua receita. Eu me apressei para ajudá-lo. Ele chorou e tanto os espectadores quanto o comitê de avaliação me agradeceram por isso. Para mim, é apenas o que o Islã me orienta a fazer”.
Samira Ghannoum é uma das muitas brasileiras de origem libanesa que conquistaram o sucesso profissional, enquanto pessoas ativas em suas comunidades, por todo o país. Ghannoum conquistou seu sonho através de um concurso de televisão. Como vencedora do Bake Off Brasil, publicou ainda seu primeiro livro de receitas, em parceria com o programa.
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Em seguida, participou de diversos eventos para divulgar seu livro e sua identidade islâmica no Brasil. Hoje, Ghannoum é bastante influente nas redes sociais e usa a plataforma para apresentar o Islã a seus compatriotas brasileiros.
“Costumam me mandar muitas perguntas e eu respondo todas. Não sou apenas uma confeiteira, mas agora me tornei um símbolo de mulher muçulmana na sociedade brasileira”, declarou. Esta responsabilidade significa muito para ela, sua família e comunidade. E é justamente assim que deve ser.