O atual governo israelense vivencia uma necessidade urgente de conduzir um acordo de troca de prisioneiros, que possa ser utilizado pelo Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu para ganhar apoio tanto do exército quanto do público israelense e retratar a si mesmo como o mais capaz de solucionar questões complexas referentes aos árabes e palestinos. O Ministro da Defesa Benny Gantz pode ser quem mais precise solucionar o caso de soldados israelenses mantidos na Faixa de Gaza. Há poucos dias, admitiu sua responsabilidade pela captura dos soldados, enquanto chefe do Estado-Maior do Exército, durante a ofensiva militar de 2014. Desta forma, concluir a pauta poderia representar a Gantz uma conquista convincente. Poderia até mesmo ajudá-lo a superar os obstáculos políticos diante das eleições gerais israelenses, em breve.
A imprensa de Israel lida com a questão dos prisioneiros e desaparecidos de duas maneiras. A primeira, fundamentalmente crítica, divulgou segredos de um acordo para reaver uma jovem israelense que entrou na Síria recentemente, além das concessões humanitárias e financeiras do pacto. Sob esta abordagem, Netanyahu foi efetivamente constrangido perante familiares dos soldados capturados pela resistência em Gaza. A segunda maneira utiliza linguagem de culpa e desconfiança sobre a liderança política, ao acusar o governo de abandonar seus cidadãos após sete anos de cativeiro.
Sucessivos governos israelenses mantiveram a certeza de que a pressão sobre Gaza jamais resultou em uma verdadeira vitória, assim como nenhuma tentativa de espionagem para obter informações sobre os soldados detidos. Além disso, nem o cerco a Gaza, tampouco as sanções, cortes salariais, apagões e recusa em fornecer vacinas contra o coronavírus jamais impactaram as decisões da resistência nessa questão.
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Deste modo, Israel não tem alternativa senão concordar com uma troca de prisioneiros nas mesmas condições estabelecidas logo no primeiro dia da captura dos soldados. Uma troca de prisioneiros pode ocorrer, mas não de acordo com os termos divulgados pela mídia israelense, que menciona um aumento nas áreas de pesca e portuária. Afinal, a resistência não perde o foco ou permite distrair-se por questões menos importantes que a vida humana. O Hamas não permitirá que as eleições para o Conselho Legislativo Palestino afetem as condições de um acordo, pois sabe que uma troca de prisioneiros neste momento será bastante benéfica ao movimento. Porém, também percebe que preservar os princípios expostos quando os soldados foram detidos concede ao grupo uma presença contundente em meio à população palestina.
Não há dúvidas de que o governo da ocupação israelense, que monitora os acontecimentos palestinos, tentará investir na boa relação entre Hamas e Egito para pressionar por uma troca de prisioneiros em breve. Não descarta a possibilidade da ocupação vincular a soltura de seus prisioneiros de guerra à sua anuência para que as eleições legislativas palestinas prossigam sem entraves. Os grupos de resistência rejeitarão tais esforços, dado que estão resolutos sobre como proceder e confiantes de que o Egito não voltará a pressioná-los, ou seja, que as eleições não serão utilizadas como moeda de troca ou ameaça de represálias contra presos palestinos nas cadeias de Israel.
Um acordo de troca de prisioneiros deve ser anunciado em breve, assim que o governo israelense responder às demandas do povo palestino para libertar figuras de destaque de suas cadeias, que serviram a sentenças longevas e arbitrárias. Sem isso, todas as tentativas israelenses de obter a soltura de seus soldados serão em vão.
Este artigo foi publicado originalmente em árabe pela rede Felesteen, em 23 de fevereiro de 2021
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