Portuguese / English

Middle East Near You

Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Brasil precisa voltar a uma política de reconhecimento da Palestina

Entrevista com o parlamentar Eduardo Suplicy, vereador mais votado de São Paulo
Eduardo Suplicy em discurso no Senado Federal [Foto: Waldemir Barreto/ Agência Senado]
Eduardo Suplicy em discurso no Senado Federal [Foto: Waldemir Barreto/ Agência Senado]

Eduardo Matarazzo Suplicy, um dos fundadores do Partido dos trabalhadores (PT), foi senador da República por 24 anos, deputado estadual e federal e atualmente é vereador da cidade de São Paulo, sendo o mais votado nas últimas eleições.

Suplicy é um dos políticos mais conhecidos do Brasil, em seus 40 anos de vida pública, sempre esteve envolvido em questões sociais e lutas populares. A causa palestina também está presente em seus assuntos de interesses, participou de missões diplomáticas enquanto senador da República e fez  manifestações de apoio ao povo palestino que vive sob ocupação militar israelense.

Em entrevista cedida ao Monitor do Oriente Médio, Suplicy fala sobre a fundação do PT e sobre sua relação e opinião sobre a Palestina.

O senhor participou da formação do PT, como foi?

Em 1978, às vésperas de minha primeira eleição para deputado estadual, lancei o livro ” Renda de Cidadania: A saída é pela porta“. Foi realizada uma roda de conversa com cerca de 200 pessoas, na qual estavam à mesa eu, Lula e Oswaldo Braga, que era diretor do sindicato e que depois se tornou secretário de relações de trabalho do governo do presidente Lula. Neste evento, Oswaldo Braga diz que foi o primeiro diálogo em que o Lula falou publicamente sobre a formação do partido dos trabalhadores.

LEIA: A cidade de São Paulo pode ser solidária com a Palestina

Quando chegou o segundo semestre de 1979, líderes sindicais e intelectuais que estavam para fundar o PT convidaram a mim e a seis deputados do MDB para ingressar no PT para fundação do partido, em 10/02/1980. E no colégio Sion, estava na inauguração do PT com Lula, Jacó Bittar, Sergio Buarque de Holanda, Mário Pedrosa e tantos outros nomes importantes.

Participei da fundação do PT, sempre fazendo ações em busca da justiça, em defesa dos direitos humanos e sobretudo para batalhar pela democracia.

Qual é sua relação com a Palestina? 

Já estive lá algumas vezes. Em 2003 visitei Israel e a Palestina, como presidente da comissão de relações exteriores e defesa nacional do senado federal. Levei uma carta do presidente Lula, tanto para o primeiro-ministro Ariel Sharon quanto para o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Yasser Arafat. Na mensagem, o presidente Lula disse que o Brasil estava acompanhando com atenção os esforços de paz que estavam sendo feitos para o fim dos conflitos na região e o surgimento de condições para o estabelecimento de um Estado Palestino independente, lado a lado com o estado de Israel, convivendo em harmonia e segurança com as fronteiras internacionalmente reconhecidas. A carta de Lula citava a coexistência pacífica de brasileiros de origem árabe e judaica  baseada na tolerância e entendimento como exemplo para o Oriente Médio. Lula costumava dizer que aqui no Brasil, por exemplo em SP, ele tantas vezes viu médicos de ascendência árabe colaborando com médicos de ascendência judaica israelense, tanto no Albert Einstein como no Sírio-Libanês e tantos outros lugares.

Em 2010, entre 23 e 26 de dezembro no natal de 2010, recebi do embaixador da autoridade nacional palestina um convite muito especial para assistir a Missa do Galo na igreja da Natividade, em Belém, onde nasceu Jesus, na Palestina. Nesta época, o presidente Lula havia reconhecido o Estado da Palestina com as fronteiras de 4 de junho de 1967, anteriores à guerra dos 6 dias entre os países árabes e Israel. Este reconhecimento atendia a um pedido feito por Mahmoud Abbas a Lula, essa foi uma decisão coerente com a posição histórica do Brasil de contribuir para o processo de paz entre Israel e a Palestina.

Por tudo o que eu tenho acompanhado e tudo que acontece, acho que é muito importante que possa Israel viver em paz com os palestinos, mas para isso precisam reconhecer que não existe o porquê de ficar ocupando o território da Palestina.

LEIA: A anexação cumpre o desenho de Oslo

Como o senhor vê a relação diplomática hoje do Brasil com a Palestina?

Acho que o presidente Jair Bolsonaro resolveu simplesmente dizer que está de acordo com Israel e não mantém uma palavra de equidistância. Primeiro chegou a dizer que iria transferir a embaixada do Brasil para Jerusalém, desistiu disso porque depois pegou mal, apenas colocou um escritório de representação comercial em Jerusalém, mas não a embaixada brasileira. Bolsonaro  estava com muita afinidade com o presidente Trump ao lado da política de favorecer mais a Israel. Acredito no reconhecimento de Israel, mas também tem que reconhecer a Palestina. É muito importante que o Brasil volte a ter uma política de reconhecimento da Palestina e que colabore com os dois lados para que se entendam melhor.

Qual sua opinião sobre os acordos de paz entre os países árabe e Israel?

Acredito que esses acordos de paz teriam muito mais conteúdo e relevância na medida em que, de fato, haja um entendimento para a desocupação de Israel, a desocupação da área palestina, por Israel.  E que possa haver por parte de todos os países árabes, uma solidariedade com a Palestina no sentido de propor a Israel que de fato reconheça a área conferida para a Palestina, inclusive pela Organização das Nações Unidas.

LEIA: Esquerda sionista é uma esquizofrenia. Sionismo é sionismo!

Categorias
América LatinaÁsia & AméricasBrasilEntrevistasIsraelOriente MédioPalestina
Show Comments
Palestina: quatro mil anos de história
Show Comments