Israel a caminho de um ‘abismo racista’, alerta filho de veterano do exército

Forças israelenses em Hebron (Al-Khalil), Cisjordânia ocupada, 23 de janeiro de 2021 [Mamoun Wazwaz/Agência Anadolu]

Em mais outro exemplo do racismo sistêmico de Israel, que leva até mesmo judeus a questionarem sua identidade e relação com a ocupação, o filho de um veterano do exército israelense declarou ter renunciado ao judaísmo após migrar ao estado sionista.

“Meu pai é um veterano das Forças de Defesa de Israel [FDI] e meus avós fundaram um kibbutz”, relatou Jotam Confino ao jornal israelense Haaretz. “Cresci na Dinamarca, onde tomei como certa minha identidade judaica. Porém, minha experiência com o processo racista e degradante de Israel para aprovar minha imigração mudou tudo isso”.

Confino, editor do website do Haaretz  e jornalista experiente na cobertura da imprensa turca, americana e dinamarquesa, retornou a seu país natal em 2017.

Sua família mudou-se para Dinamarca quando ele tinha apenas seis meses de idade. Confino alega ser fruto de um clássico romance de kibbutz dos anos 1980. Sua mãe dinamarquesa conheceu seu pai judeu como voluntária em um kibbutz fundado por seus avós paternos.

O casal decidiu sair de Israel em 1982, devido ao trauma da Guerra do Líbano, a fim de proteger o filho recém-nascido dos horrores vivenciados por seu pai.

De volta a Israel, Confino enfrentou inúmeros transtornos para provar sua identidade judaica.

Israel alega tratar-se de um estado secular, mas o processo para determinar quem é ou não judeu e, portanto, descobrir quem tem ou não tem direito à cidadania automaticamente repousa nas mãos de autoridades religiosas.

Confino recorda as dificuldades enfrentadas como “meio-judeu” para provar seu vínculo com a comunidade. “Judeus israelenses, em geral, parecem nos categorizar em dois grupos: igual a eles ou não”, relatou ao mencionar a “obsessão” do estado com o purismo judaico.

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“E com um discurso político que parece apenas reforçar essa obsessão em ser plenamente judeu e a lei de estado-nação, que deixa claro a quem pertence Israel, faz absoluto sentido que o país caminhe a um abismo racista, onde apenas judeus etnicamente puros possam fazer parte da sociedade”, escreveu o jornalista.

“Não considero o judaísmo uma etnia, mas sim uma religião. Porém, aqueles que detêm o poder de fato consideram os judeus como raça, então sua obsessão com a pureza torna-se imediatamente racista quando legislam deste ponto de vista”, denunciou Confino.

Seus comentários ressoam o caso de Avraham Burg, ex-presidente do parlamento israelense, que renunciou à sua “nacionalidade judaica” em janeiro último, em protesto contra as diversas leis racistas outorgadas por Israel.

Segundo Burg, o atual estado sionista “tem pouco a ver com o judaísmo histórico e mesmo com a essência do judaísmo”.

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