Edu Guedes chama chef israelense para ensinar receitas árabes

Edu Guedes e chef Itaí Itai Garousi durante o programa The Chef, exibido na Band, em 18 de fevereiro de 2021 [Reprodução/Band]

O programa The Chef, apresentado por Edu Guedes na Band, convidou no episódio do dia 18 de fevereiro o chef israelense Itai Garousi para ensinar “receitas típicas de Israel”. Dos cinco pratos apresentados como parte da gastronomia israelense, três são tipicamente árabes.

Os apresentadores ensinaram as receitas de Maqluba e Shakshuka, que apesar de bastante consumidas em Israel, são pratos típicos do Oriente Médio, com nomes árabes e originários do Império Otomano.

Maqluba

A Maqluba, nome em árabe que pode ser traduzido para virado, remonta à época dos califas abássidas (750-128).  Ibn al Mahdi e al Baghdadi, dois grandes cozinheiros da época a mencionam no livro da cozinha (Kitab al tabikh), o que é citado também por Salah Jamal em “Aroma árabe: receitas e relatos”. A tradição conta que era hábito preparar pratos especiais às sextas-feiras. Os restos de comida eram guardados em uma caçarola para serem dados aos necessitados; na hora de servi-los, viravam o conteúdo formando um molde compacto. Desse costume surge o virado (Maqluba).

A origem da Shakshuka é reivindicada na Tunísia, Argélia, Líbano e Palestina. Laila El-Haddad e Maggie Schmitt escreveram no artigo “Jantar em Gaza” publicado na revista Jewish Quartely:

“Os debates acirram em torno de shakshuka. Em uma região onde a propriedade e o acesso legítimo a quase tudo é contestado, até mesmo este humilde prato de tomate e ovo é apanhado na briga. Recentemente, foi divulgado na mídia internacional como um prato israelense, para a irritação de cozinheiros da Líbia, Tunísia e Palestina. (…) O que realmente sabemos? Que uma centena de variações de shakshuka foram feitas por gerações em lares em toda aquela grande faixa multifacetada do mundo que um dia foi otomano, e que o prato foi traduzido em comida de restaurante (…).O que irrita muitos na região é que Israel, mais uma vez, recebe o crédito exclusivo pelas riquezas de um mundo pan-mediterrâneo que – como um Estado, isto é, não como um povo – contribuiu para a divisão.”

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Reem Kassis, autora do livro “The Palestinian Table” (A mesa palestina), publicou no Washington post um artigo intitulado “Eis o porquê da oposição de palestinos ao termo ‘comida israelense’: Ele nos apaga da história”. Ela relata e explica a frustração dos palestinos em encontrar suas comidas típicas da palestina em restaurantes israelenses no mundo, sem que mencionem a origem dos pratos.

Shakshuka

Ela escreve que entende que a culinária palestina, “como todas as outras, é um subproduto da evolução e da difusão”. Entretanto, a questão envolve a apropriação cultural e não apenas a difusão cultural. “A difusão é o resultado de pessoas de diferentes culturas que vivem em ambientes próximos e interagem ou aprendem umas com as outras. A apropriação cultural, por outro lado, depende da exploração e consequente apagamento, seguido da negação intencional dessas ações. Afinal, a alimentação é uma expressão da história, da cultura e da tradição. Por este motivo, apresentar pratos de origem palestina como ‘israelenses’ não só nega a contribuição palestina à cozinha israelense, como também apaga nossa própria história e existência”.

Segundo ela, para palestinos que têm a identidade nacional constantemente minada sem um Estado independente, outros aspectos além da geografia são vitais para sua identidade. A alimentação palestina se torna forma de resgatar o país, emocionalmente e psicologicamente. “É por isso que a referência a pratos tradicionais dos palestinos  adotados como israelenses, sem creditar sua origem, é vista como um dedo na ferida: Primeiro a terra, agora a comida e a cultura?” diz Kassis.

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