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Pronto para trabalhar com Netanyahu, Mansour Abbas divide voto árabe em Israel

Mansour Abbas, membro árabe-israelense da Lista Conjunta, durante campanha às vésperas das eleições parlamentares, na cidade árabe de Kafr Yasif, norte do território considerado Israel, 23 de agosto de 2019 [Ahmad Gharabli/AFP via Getty Images]
Mansour Abbas, membro árabe-israelense da Lista Conjunta, durante campanha às vésperas das eleições parlamentares, na cidade árabe de Kafr Yasif, norte do território considerado Israel, 23 de agosto de 2019 [Ahmad Gharabli/AFP via Getty Images]

À primeira vista, pode parecer que a divisão entre os partidos árabes em Israel é consistente com o padrão típico das divergências ideológicas que afligem as forças políticas árabes, por anos e anos. Desta vez, contudo, as razões por trás da divisão são bastante diferentes.

À medida que Israel se prepara para sua eleição geral em apenas dois anos, marcada para 23 de março, eleitores árabe-palestinos em Israel parecem estar em certa posição de poder, destinados a tornarem-se o criador de reis em uma futura coalizão de governo no país. Mas algo peculiar ocorreu. A Lista Conjunta, coligação partidária exitosa em reunir o voto árabe em Israel nas eleições anteriores, sofreu um revés majoritário com a divisão da chamada Lista Árabe Unida (Raam), em 4 de fevereiro.

Em abril de 2019, o Raam, braço político do Ramo Sul do Movimento Islâmico em Israel, decidiu concorrer nas eleições em coalizão com a Aliança Democrática Nacional (Balad). Em setembro e, mais outra vez, em março de 2020, disputou as eleições gerais como parte da Lista Conjunta, ao lado do Balad, da Frente Democrática por Paz e Igualdade (Hadash) e do Movimento Árabe por Renovação (Ta’al).

Apesar de diferenças ideológicas e perspectivas distintas sobre a questão socioeconômica, os partidos árabes em Israel sentiram uma urgência sem precedentes para sua união. Há razões para tanto.

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Israel move-se rapidamente cada vez mais à direita, de modo que grupos religiosos e ultranacionalistas representam agora a política de Israel. O centro, temporariamente unificado sob a bandeira do partido Azul e Branco (Kahol Lavan), promoveu de forma ativa um discurso similar à tradicional direita israelense, nos últimos anos. A esquerda, enfim, desintegrou-se e exerce então um papel marginal inédito, com pouco ou nenhum impacto na política israelense.

Ao passo que a direita israelense mostrou-se encorajada nos anos recentes, diversas peças legislativas discriminatórias contra os árabes foram aprovadas pelo Knesset – parlamento de Israel. O exemplo mais óbvio é a chamada Lei do Estado-Nação, que outorgou a identidade exclusiva de Israel como estado judaico, em franco prejuízo aos direitos palestinos, sua cultura, idioma e religião.

Cartazes eleitorais do líder da aliança política Azul e Branco de Israel (Kahol Lavan) Benny Gantz, com o membro árabe israelense da Lista Conjunta Ahmad Tibi, e do ministro da DefesaiIsraelense, Naftali Bennett e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, em Hebron em 23 de fevereiro de 2020 [Hazem Bader/ AFP via Getty Images]

Cartazes eleitorais do líder da aliança política Azul e Branco de Israel (Kahol Lavan) Benny Gantz, com o membro árabe israelense da Lista Conjunta Ahmad Tibi, e do ministro da DefesaiIsraelense, Naftali Bennett e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, em Hebron em 23 de fevereiro de 2020 [Hazem Bader/ AFP via Getty Images]

Nas eleições de setembro de 2019, a união política árabe finalmente deu resultados, quando a Lista Conjunta conquistou treze dos 120 assentos disputados do Knesset. Em abril de 2020, a performance foi ainda melhor, quando a coalizão tornou-se, pela primeira vez na história do Estado de Israel, o terceiro maior bloco político no parlamento, atrás do Likud e Kahol Lavan.

Evidente, os partidos árabes estavam enfim prontos para engajar-se no processo político, não como forças marginais, mas ativamente. Ayman Odeh, líder da Lista Conjunta, concedeu uma série de abertura a Benny Gantz, líder do Kahol Lavan, ao argumentar que, com a ajuda do grupo árabe, uma coalizão centrista afinal poderia ser capaz de desalojar do poder o Primeiro-Ministro de Israel Benjamin Netanyahu.

Gantz recusou, porém, a presença dos partidos árabes em sua coalizão de governo, ao preferir esforços para encontrar um denominador comum com seu arqui-inimigo, Netanyahu. Ambos compuseram um governo de união nacional em maio de 2020, que durou apenas sete meses.

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Ao recusar-se a incorporar a Lista Conjunta, Gantz tomou o primeiro passo em destruir sua própria promissora coalizão centrista, que então incluía os partidos Yesh Atid e Telem. Líderes de ambos oficialmente abandonaram a aliança logo após Gantz unir-se com Netanyahu. Nas próximas eleições de março, o Yesh Atid concorrerá de forma independente e o Telem sequer entrará na disputa para evitar, segundo relatos, ainda maior divisão de votos.

De um ponto de vista estratégico, este seria o mais oportuno momento para a Lista Conjunta enfim traduzir suas vitórias eleitorais em êxito político. Há uma percepção crescente de que uma coalizão de governo em Israel, caso formada, seja de fato insustentável sem o apoio árabe. Com efeito, os principais campos políticos do país agora cortejam publicamente o eleitorado árabe.

Em 2015, Netanyahu utilizou da política do medo em sua campanha para mobilizar a direita, ao alegar que eleitores árabes iriam às urnas “em massa”. Entretanto, no contexto atual, voltou atrás. Durante uma visita à cidade palestina de Nazaré, em 13 de janeiro, Netanyahu afirmou que seus comentários anteriores foram mal-interpretados. Em outras cidades árabes, vangloriou-se de seu suposto histórico em apoio às comunidades árabes e no combate à pandemia de coronavírus. Sua retórica racista contra os árabes vivencia hoje um comedimento sem precedentes.

O centrista Yair Lapid, membro do Yesh Atid, também demonstrou disposição em trabalhar com políticos árabes. Em 17 de janeiro, em referência à negativa de Gantz diante do apoio árabe e da exclusão dos representantes árabes na coalizão de governo, declarou Lapid: “Foi uma pena que não fizemos isso no atual Knesset”

Ainda assim, ao invés de assumir vantagens com seu sucesso eleitoral, a Lista Conjunta, mais outra vez, preferiu dividir-se, sobretudo quando o Raam, importante membro da coligação, deixou a aliança. Desta vez, porém, a fragmentação não foi resultado de divergências ideológicas, mas decorreu da desconcertante postura do líder do Raam, Mansour Abbas.

Em fevereiro, Abbas sugeriu disposição em juntar-se a Netanyahu em uma futura coalizão de governo. Justificou sua guinada surpreendente com platitudes políticas nada convincentes, como “é preciso olhar para o futuro e construir um futuro melhor para todos”, entre outras.

O fato de Netanyahu ser um dos maiores responsáveis pelo desesperador panorama futuro dos árabes em Israel parece absolutamente irrelevante a Abbas, ansioso em coligar-se a qualquer governo futuro, mesmo embora inclua os mais chauvinistas agentes políticos de Israel.

O jornal conservador israelense The Jerusalem Post descreveu o golpe devastador de Abbas à coalizão árabe, às vésperas das eleições, com a seguinte manchete: “Conheça Mansou Abbas, aliado inesperado do premiê Benjamin Netanyahu”.

Segundo pesquisa recente conduzida pela emissora israelense Channel 13, o partido Raam de Abbas pode angariar até quatro assentos no Knesset após as eleições de março. É razoável também, portanto, a possibilidade de que o Raam fracasse em atingir a cláusula de barreira de 3.25% dos votos, para obter sequer um único assento. De qualquer modo, a manobra oportunista de Abbas pode custar aos partidos árabes uma oportunidade histórica e inigualável para materializar sua força política decisiva, capaz de desafiar o racismo israelense e a marginalização dos árabe-palestinos.

Agora que todas as alianças políticas parecem materializadas, Mansour Abbas claramente fez uma escolha errada e, não importa o resultado, já perdeu.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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