O Golfo Árabe transformou-se em uma verdadeira arena para um possível conflito entre Irã e Israel, após ficar claro que elementos iranianos provavelmente atacaram o navio de carga MV Helios Ray, pertencente ao empresário israelense Rami Ungar, conhecido por seu forte laço com Yossi Cohen, chefe do serviço secreto Mossad.
Segundo o jornal iraniano Kayhan, próximo ao Supremo Líder Ali Khamenei, indícios sugerem que a embarcação é filiada à agência de espionagem de Israel, envolvida em atividades suspeitas no Golfo Árabe, sobretudo perto de águas territoriais do Irã. Tais alegações tornam o navio um enorme alvo, possivelmente avistado há algum tempo, apesar de seu eficiente disfarce como veículo de carga registrado no Reino Unido.
O Kayhan celebrou o ataque e seu alto nível de profissionalismo, como resposta a ataques de Israel em solo iraniano, cujo exemplo mais recente é a execução do cientista nuclear Mohsen Fakhrizadeh, em novembro último. Contudo, o pressuposto mais perigoso reside no fato de que o jornal vinculou a onda de normalização entre países do Golfo e Israel à escalada de atividades de segurança e inteligência contra o Irã, para justificar o ataque ao Helios Ray, além de alertar para outras ofensivas similares que possam ser lançadas por elementos filiados a grupos de resistência. Não obstante, não concedeu nomes, tampouco detalhes.
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Israel jamais negou seu envolvimento nos ataques em território iraniano, que abrangem ainda sabotagem de instalações nucleares e portuárias, como Bandar Abbas. Tudo isso deixa a porta aberta a um conflito entre Israel e Irã, ao menos porque o estado sionista anunciou, há um mês, ter enviado um de seus submarinos ao Mar Vermelho, nos arredores do Mar Árabe, sem revelar sua missão ou sequer a razão para sua presença no local.
A guerra fria entre Israel e Irã no Golfo Árabe tornou-se mais evidente e há receios de que suas repercussões se estendam aos estados do Golfo, materializando uma série de conflitos por procuração cujas chamas podem chegar a portos e instalações petrolíferas da região. Tudo isso causaria um enorme dano à economia dos países relevantes.
Segundo o website Marine Traffic e o grupo Dryad Global, que monitoram a segurança marítima, o MV Helios Ray viajava do porto saudita de Dammam em direção a Cingapura. Entretanto, Israel lançou uma investigação própria ao enviar uma delegação aos Emirados Árabes Unidos. Isso denota uma bola de fogo em potencial, em rota aos países árabes e seus portos, longe de Israel e seus interesses imediatos.
Espera-se que os estados árabes paguem o preço pela guerra entre Israel e Irã, dado que a república islâmica não levará em consideração qualquer interesse em defesa de seus vizinhos e adversários. Sobretudo, Israel não se importa com a segurança, o bem-estar e os interesses dos árabes. Desta forma, o ataque contra o navio israelense na última quinta-feira (25) foi apenas um episódio na longa série de confrontos entre Irã e Israel, que não chegará a seu fim sem primeiro causar enorme dano às economias do Golfo. A presença e a atividade de “segurança” de Israel nas águas do Golfo, portanto, representa uma ameaça não menos grave do que a política de Teerã para a região e o Mar Vermelho.
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Em grande parte, Israel agravou a crise no Golfo, ao incitar conflitos internos e escancarar as portas para maiores complicações políticas. De fato, deu espaço a novos agentes receosos com os avanços israelenses, como o Paquistão, que demonstra apreensão sobre a expansão da zona de influência de Israel em direção ao Mar Árabe.
O estado colonial sionista de fato despejou gasolina nos incêndios deflagrados no Mar Árabe e na região do Golfo. Considera-se esta a conclusão alcançada pela análise inicial do incidente MV Helios Ray.
Este artigo foi publicado originalmente em árabe pela rede The New Khaleej, em 2 de março de 2021
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