O Presidente da Autoridade Palestina Mahmoud Abbas enfrenta suas primeiras eleições nacionais em 15 anos, que incitaram cisões cada vez maiores dentro de seu poderoso partido Fatah, isto é, uma verdadeira ameaça à sua hegemonia na política palestina.
As informações são da agência Reuters.
Uma tentativa de dissidência por parte de um correligionário de Abbas encorajou rumores de que o presidente palestino possa cancelar o pleito presidencial marcado para julho, sob receios de concorrer com Marwan Barghouti, popular líder palestino preso por Israel.
O gabinete de Abbas nega qualquer plano de postergar ou cancelar as eleições.
Barghouti, agora com 61 anos, representou uma força de mobilização nos levantes palestinos entre 2000 e 2005, nos territórios ocupados de Jerusalém, Cisjordânia e Faixa de Gaza.
Em 2004, uma corte israelense condenou Barghouti à prisão perpétua, ao acusá-lo de responsabilidade por múltiplos ataques letais contra cidadãos israelenses, supostamente cometidos por palestinos. Barghouti sempre negou as alegações.
Abbas, de 85 anos, governa as áreas supostamente autônomas da Cisjordânia, por decreto, há mais de uma década. Em janeiro, anunciou eleições executivas e legislativas – medida vista como resposta a críticas domésticas e ocidentais à sua legitimidade democrática.
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Dando coro a tais críticas está Nasser al-Qudwa, membro de longa data do Comitê Central do Fatah, que anunciou, na última semana, a formação de uma lista própria para concorrer de modo independente de seu partido nas eleições legislativas, marcadas para maio.
“Os palestinos estão fartos com essa situação … a conduta ou má conduta interna, a ausência de um de estado de direito, a falta de igualdade ou justiça”, destacou Qudwa à Reuters.
A divergência pública entre um dos dezenove líderes do Comitê Central do Fatah e Abbas é altamente incomum.
Qudwa, agora com 67 anos, sobrinho de Yasser Arafat, falecido líder do Fatah e da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), afirmou ter esperanças de que sua lista seja encabeçada por Barghouti, há muito projetado como sucessor de Abbas.
Barghouti não confirmou sua filiação à lista, tampouco sua candidatura à presidência. Entretanto, pesquisas de opinião sugerem uma confortável vitória em potencial contra Abbas e políticos do Hamas, movimento islâmico que controla Gaza desde 2007.
Assessores de Abbas mencionam a cisão com o Hamas como fator incidente à longa demora por novas eleições.
O líder aprisionado e seu advogado negaram um pedido de entrevista.
Abbas tentou solucionar a crise ao enviar emissários para visitar Barghouti na prisão e pregar união partidária, logo após Qudwa anunciar sua nova lista.
“O Fatah, com força e poder, concorrerá unido nas próximas eleições democráticas … para manter o projeto de libertação nacional e proteger a união nacional do povo palestino”, afirmou o Ministro de Assuntos Civis da Autoridade Palestina Hussein al-Sheikh, no Facebook.
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Nos bastidores, oficiais palestinos questionam a viabilidade da candidatura de Barghouti, dentro de uma cela israelense, e os prospectos em caso de vitória. Qualquer iniciativa para libertá-lo provavelmente incitaria uma tempestade política em Israel.
Dois diplomatas ocidentais relataram à Reuters que diversos países europeus pressionam Abbas para que não abandone sua promessa de conduzir as eleições nacionais.
“Há receios de que ele [Abbas] possa ver um meio-termo em permitir a realização das eleições legislativas, enquanto adia ou mesmo cancela o pleito presidencial”, argumentou um dos diplomatas, segundo a reportagem.
Nesta segunda-feira (8), Abbas deve convocar uma reunião do Comitê Central do Fatah, na qual espera-se que o presidente palestino sancione formalmente as ações de Qudwa.
Todavia, Qudwa reiterou à Reuters que não pretende participar de reuniões do conselho.
Não está claro ainda quanto apoio a lista de Qudwa pode conquistar. Na última semana, cerca de 250 palestinos participaram por videoconferência, via aplicativo Zoom, de um evento no qual Qudwa anunciou sua decisão.
As últimas eleições parlamentares palestinas, em 2006, resultaram em um surpreendente vitória do Hamas, principal adversário do Fatah.
Pressões internacionais e disputas internas geraram uma cisão entre as partes, quando o Fatah assumiu a Autoridade Palestina na Cisjordânia ocupada e o Hamas tomou controle militar de Gaza, dois anos após Israel retirar colonos e soldados do território litorâneo.
As eleições nacionais palestinas integram esforços abrangentes de reconciliação entre Fatah e Hamas, considerados vitais para obter apoio popular para qualquer negociação futura com Israel, a fim de instituir um estado autônomo e soberano.
As listas partidárias para as eleições palestinas devem ser submetidas até 20 de março.
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