Hassan Diab, premiê em exercício do Líbano, ameaçou deixar de cumprir seus deveres a fim de pressionar políticos a compor um novo governo, ao citar uma recente briga entre consumidores por leite em pó, como retrato da crise econômica no país.
As informações são da agência Reuters.
O gabinete de Diab renunciou logo após a enorme explosão no porto de Beirute, em 4 de agosto, que devastou grande parte da capital.
Saad al-Hariri foi nomeado novamente primeiro-ministro em outubro, mas jamais conseguiu formar um novo governo, devido a um persistente impasse político entre si e o Presidente do Líbano Michel Aoun.
A crise financeira em curso, que deflagrou-se em 2019, erradicou empregos, incitou alertas de fome generalizada e bloqueou parte do acesso bancário aos cidadãos. Espera-se que um novo gabinete implemente reformas que possam atrair bilhões de dólares em ajuda internacional.
“Caso a reclusão ajude a formar um gabinete, estou pronto a recorrer a ela, embora vá contra minhas convicções, pois prejudica todo o estado e o povo libanês”, declarou Diab em discurso televisionado, neste sábado (6).
“A disputa por leite não representa incentivo suficiente para superar formalidades e aparar as arestas a fim de compor um novo governo?”, afirmou Diab, em referência ao recente incidente em um supermercado de Beirute.
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Um vídeo da briga viralizou nas redes sociais; muitos expressaram choque diante do desespero comum à população, perante o colapso socioeconômico.
Dia após dia, grupos de manifestantes queimam pneus e bloqueiam estradas por todo o país, desde nova desvalorização da moeda libanesa, na terça-feira (2), despertando nova onda de indignação entre cidadãos há muito estarrecidos com o colapso nacional.
A libra libanesa despencou ao valor de 10.000 libras para cada dólar. Bens essenciais, como fraldas e cereais, quase triplicaram de preço desde o início da crise.
Ainda neste sábado, manifestantes protestaram em frente à associação bancária do país, exigindo acesso a seus depósitos, e então marcharam ao parlamento, no centro de Beirute, para expressar sua frustração diante da deterioração econômica.
“As condições sociais estão se agravando, as condições financeiras impõem severa pressão ao país, as condições políticas são cada vez mais complexas”, declarou Diab. “O país enfrenta desafios que nenhum governo normal pode enfrentar sem consenso político”.
“Então como um governo em exercício pode fazê-lo?”, concluiu.
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