Neste sábado (6), o Presidente do Egito Abdel Fattah el-Sisi pleiteou um acordo vinculativo até agosto sobre as operações da Grande Represa do Renascimento, construída pela Etiópia, em sua primeira visita ao Sudão desde a queda do longevo ditador Omar al-Bashir, em 2019.
As informações são da agência Reuters.
O presidente egípcio sugeriu ainda apoio ao Sudão em uma disputa territorial na fronteira etíope, cenário de recentes confrontos armados.
Egito e Sudão repousam a jusante da Grande Represa do Renascimento, localizada na bacia hidrográfica do Nilo. A despeito de receios de ambos os países, a Etiópia reitera que as obras são cruciais ao seu desenvolvimento econômico.
Addis Ababa argumenta possuir todo o direito às águas do Nilo, há muito exploradas pelo Egito, e deu início ao preenchimento do reservatório da barragem em meados de 2020, após Cartum e Cairo não conseguirem garantir um acordo vinculativo sobre a questão.
O Sudão teme que a represa, situada no Rio Nilo Azul, perto da fronteira, possa aumentar o risco de enchentes e afetar a segurança de suas próprias operações energéticas na região.
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O Egito, por sua vez, preocupa-se com uma potencial escassez de água ainda maior do que é característico, diante de sua dependência histórica do Nilo.
Anos de conversas diplomáticas sobre o projeto não chegaram a lugar algum. Cairo e Cartum se aproximaram após uma onda de iniciativas diplomáticas por parte do regime de Sisi sobre o caso, ao longo dos últimos dois anos.
Nesta semana, o chefe do estado-maior do Egito assinou um acordo de cooperação militar com sua contraparte sudanesa, em visita ao Sudão.
“Reafirmamos a necessidade de retomar negociações sérias e efetivas, a fim de alcançar, assim que possível e antes das próximas enchentes, um acordo vinculativo, consagrado por lei e equilibrado”, declarou Sisi antes de reunir-se com líderes sudaneses.
Recentemente, o Sudão propôs mediação dos Estados Unidos, União Europeia, União Africana e ONU para a disputa, ao invés de seu presente papel apenas como observadores às negociações. O regime egípcio declarou apoio à proposição.
Entretanto, a Etiópia sugeriu opôr-se a novos mediadores estrangeiros, dado que este papel já é incumbido à União Africana.
Na sexta-feira (5), o Ministro de Relações Exteriores do Egito Sameh Shoukry exortou o Secretário-Geral da ONU António Guterres a retomar negociações “sérias” sobre a represa, reportou a chancelaria egípcia.
Em reunião com o chefe do conselho governante do Sudão, Abdel Fattah al-Burhan, Sisi também debateu “recentes medidas sudanesas para estender soberania às suas fronteiras orientais com a Etiópia, dentro do contexto de respeito aos acordos internacionais”.
Sudão e Etiópia trocam acusações sobre o conflito na região de fronteira de Al-Fashqa, habitada por fazendeiros etíopes. Addis Ababa rejeita as reivindicações sudanesas sobre o território, conforme acordo assinado em 1903.
Desde a deposição de Bashir, deflagrada por protestos de massa que varreram o Sudão, um conselho civil-militar tomou o poder em Cartum, supostamente como governo de transição, previsto para durar até o fim de 2023.
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