Os Estados Unidos devem pedir ao governo turco para sediar uma reunião de alto nível entre o governo afegão e o Talibã para dar continuidade ao próximo passo no processo de paz em curso, propôs ontem o secretário de Estado do governo Biden.
Em uma carta escrita por Anthony Blinken ao presidente afegão Ashraf Ghani, revelada pelo meio de comunicação afegão TOLOnews, o secretário de Estado delineou a estratégia geral dos EUA para o processo de paz entre Cabul e o Talibã.
Apesar de Washington “ainda não [ter] concluído nossa revisão do caminho a seguir, chegamos à conclusão inicial de que a melhor maneira de promover nossos interesses comuns é fazer tudo o que pudermos para acelerar as negociações de paz e fazer com que todas as partes cumpram seus compromissos”.
Exclusive: US Secretary Antony Blinken in a letter to President Ghani–similar to one shared with Chairman Abdullah–presents four suggestions for Afghan peace process (see thread): pic.twitter.com/L5fYa09Y2g
— TOLOnews (@TOLOnews) March 7, 2021
Uma parte fundamental dessa estratégia, afirmou Blinken, era que os EUA chamassem a Organização das Nações Unidas (ONU) para convocar uma reunião de chanceleres dos países vizinhos do Afeganistão na região e outros países interessados, incluindo Paquistão, Irã, Índia, Rússia , China, bem como os EUA. Esses ministros das Relações Exteriores posteriormente “discutiriam uma abordagem unificada para apoiar a paz no Afeganistão”.
Outra parte fundamental da estratégia é o anúncio de Blinken de que os Estados Unidos “vão pedir ao governo da Turquia para sediar uma reunião de alto escalão de ambos os lados nas próximas semanas para finalizar um acordo de paz”. Blinken também estendeu o convite ao presidente Ghani, dizendo: “Exorto você ou seus designados de autoridade a se juntarem a outros representantes da República Islâmica na reunião”.
LEIA: Os EUA desperdiçaram pelo menos US$ 2,4 bilhões no Afeganistão, diz watchdog
Na carta, Blinken também afirmou que os EUA não descartaram qualquer opção em relação ao Afeganistão, mesmo dizendo que “estamos considerando a retirada total de nossas forças até 1º de maio, enquanto consideramos outras opções”.
Essas opções também se encaixam em uma redução de 90 dias na violência à qual o secretário de Estado também aludiu, que os EUA esperam que se “evite uma ofensiva de primavera do Talibã” e “coincida com os esforços diplomáticos para apoiar um acordo político entre os dois partidos”.
As forças turcas faziam parte da coalizão internacional liderada pelos EUA que invadiu o Afeganistão em 2001 e derrubou o governo do Taleban, após os ataques ao World Trade Center de Nova Iorque em 11 de setembro daquele ano. Desde então, as forças militares da coalizão liderada pelos EUA têm estado presentes no Afeganistão em sua luta contínua contra o Talibã, que persiste até hoje.
Então, em fevereiro do ano passado, as negociações de paz resultaram em um acordo entre o Talibã e o governo afegão na capital do Catar, Doha, ao qual a Turquia declarou seu apoio. Em novembro, o político afegão e chefe do Alto Conselho para a Reconciliação Nacional, Abdullah Abdullah, visitou a capital turca, Ancara, e se encontrou com o presidente, Recep Tayyip Erdogan.
O papel e o potencial da Turquia como anfitriã do processo de paz afegão eram esperados por muitos, visto que ela é considerada uma força neutra por facções opostas na situação política do Afeganistão. Esse sentimento foi repetido no início deste mês, quando o ministro das Relações Exteriores do Afeganistão, Mohammad Haneef Atmar, declarou em uma reunião: “A Turquia pode desempenhar um papel fundamental na construção e promoção de um consenso regional para a paz no Afeganistão”.
LEIA: Por que os EUA transferiram Israel ao Centcom?