Novos ventos sopram na Turquia e no mundo árabe

Manifestantes entoam palavras de ordem e exibem cartazes em protesto contra a intervenção saudita no Iêmen, em frente ao Consulado da Arábia Saudita em Istambul, Turquia, 11 de novembro de 2018 [Chris McGrath/Getty Images]

Novos ventos de “paz” sopram nas relações turco-árabes e aliviam as tensões na busca de um denominador comum. Mensagens lisonjeiras são trocadas entre Ancara, Cairo e Riad e outras similares inevitavelmente virão das capitais árabes adjacentes. Parece que as diversas partes estão exaustas de guerras prolongadas e brutais, conduzidas por procuração, e agora vivenciam uma dinâmica criada pela vitória eleitoral de Joe Biden e sua posse como presidente dos Estados Unidos.

Após a adoção de uma nova abordagem egípcia sobre a Líbia, ao enviar uma delegação política e militar de alto escalão a Trípoli e garantir diálogo entre os principais diplomatas de ambos os países, na promessa de retomar a operação mútua das embaixadas e linhas aéreas, pareceu que uma nova página também seria virada nas relações entre Cairo e Ancara. Especulações continuaram, com notícias de novas conversas entre Egito e Turquia via canais diplomáticos e de segurança. Houve também declarações positivas aqui e lá e mesmo uma oferta para desenvolver relações ao ponto de convocar a devida demarcação das fronteiras marítimas entre os países. Caso tais promessas sejam cumpridas, ou ao menos mostrem-se prioridade das partes, a porta se abrirá para solucionar os incômodos com a “intervenção militar” de Ancara no conflito líbio e como prelúdio à integração da Turquia na iniciativa de gás natural do Mediterrâneo Oriental, promovida pelo regime no Cairo.

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Quanto a Riad, parece que sediar (embora online) a última cúpula do G20 concedeu à monarquia uma oportunidade de degelar as relações com Ancara. Um telefonema entre o Rei Salman e o Presidente Recep Tayyip Erdogan criou caminho para conversas subsequentes e um encontro entre os ministros de relações exteriores de ambos os países, em paralelo à conferência da Organização de Cooperação Islâmica (OCI). Trata-se de um passo adiante em uma longa e árdua jornada. Agora, a adulação e cortesia mútua é quase contínua e ofertas da Turquia, em particular, para restaurar relações chovem com frequência sobre a coroa saudita.

Não sabemos se são fatos ou rumores, mas recentes relatos vazados mencionam uma oportunidade de cooperação turco-saudita no Iêmen, a começar com um acordo de drones da Turquia, os quais a monarquia parece interessada em comprar, após demonstrarem sua eficácia militar na Líbia e Azerbaijão. Ancara e Riad reconhecem a legitimidade de Abdrabbuh Mansur Hadi como Presidente do Iêmen e ambos mantêm níveis distintos de relacionamento com o Partido Islah, amigo de grupos étnicos turcomanos e adversário dos houthis, combatidos enfaticamente pela coalizão saudita.

Sobretudo, ambos os lados demonstram preocupações sobre as próximas ações do governo Biden, especificamente em termos de direitos humanos e críticas feitas pelo novo presidente. É provável, dizem observadores, que a cooperação bilateral para conter o recém-descoberto “fervor” de Washington em nome de tais direitos seja um incentivo adicional à reaproximação.

Assim como a Líbia é portão de entrada para um novo diálogo entre Egito e Turquia, seja público ou secreto, a reconciliação do Golfo tornou o Catar a via de acesso para a Arábia Saudita. Em um clima de melhora constante nas relações saudita-catarianas, parece desnecessário dizer que tensões entre Ancara e Riad podem também se acomodar, conforme o papel exercido por Doha.

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A melhora nas relações turcas com Egito e Arábia Saudita deixa apenas duas opções aos Emirados Árabes Unidos: acompanhá-los no mesmo caminho ou manter velhas posições sobre a Turquia e sobre o papel desta em apoio à Irmandade Muçulmana na região. Entretanto, mesmo durante o pior período de tensões entre Abu Dhabi e Ancara, os Emirados mantiveram-se como importante parceiro comercial, estimado em não menos que US$8 bilhões ao ano. O regime emiradense emitiu mensagens bem dispostas sobre a melhora de relações, ao reforçar a necessidade de superar dúvidas e receios. Tais obstáculos, e muitos outros, não impedem que haja algum avanço nas relações de Ancara com Cairo e Riad, mas não indicam ainda uma melhora imediata nas relações entre Turquia e Emirados.

A Turquia pretende se livrar das amarras impostas pelas importações de energia graças ao gás natural encontrado no Mar Negro. [Sabaaneh/Monitor do Oriente Médio]

Este artigo foi publicado originalmente em árabe pela rede Addustour, em 10 de março de 2021

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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