Memo conversa com Safa Jubran

MEMO conversa com Safa Jubran

A tradutora para o português do livro Correio Noturno e professora da Universidade de São Paulo, Safa Jubran, conversou com o Monitor do Oriente Médio nesta sexta-feira (12).

O livro Correio Noturno, primeira publicação da escritora libanesa Hoda Barakat no Brasil, foi lançado pela editora Tabla com tradução direta do árabe para o português. Jubran conta que o maior desafio que encontrou para essa tradução foi “acertar o tom”, encontrando o mais adequado à narrativa confessional íntima.

“Esse livro me marcou pessoalmente, de tal forma que me levou a escrever uma carta. Um texto ficcional, baseado em eventos reais da minha vida, no mesmo estilo usado por Hoda, e dirigido à minha mãe”.

O Correio Noturno venceu o Prêmio Internacional de Ficção Árabe de 2019. Esse ano, Safa Jubran é uma das juradas da premiação. Sobre a seleção de 2021, ela contou um pouco sobre a qualidade dos romances inscritos.

“Eu sinceramente fiquei impressionada com a qualidade dos romances, é um nível excelente.” Ela conta que a dificuldade do júri esse ano foi conseguir selecionar os dezesseis livros da primeira etapa, “a gente tinha que escolher entre um romance ótimo e um romance um pouquinho menos ótimo”. Segundo ela, há um destaque especial para escritores do norte da África: Marrocos, Tunísia, Argélia e também iraquianos.  “Há obras surpreendentes, tanto no que se refere aos temas e ao enredo, mas também às técnicas narrativas, principalmente dentro do gênero distopia. A gente sabe que nas distopias, geralmente são apresentados cenários assustadores e pessimistas,  governos totalitários e cidadãos privados de seus direitos fundamentais e infelizmente o mundo árabe é o lugar das distopias atualmente.”

A literatura contemporânea árabe de autoria feminina também foi tema da conversa. Apesar de serem poucas as traduções de escritoras árabes no Brasil, o cenário está mudando, “várias editoras trouxeram e estão trazendo obras de nomes femininos para serem traduzidas e lançadas aqui; uma dessas editoras é a própria Tabla que tem um projeto claro de sempre incluir escritoras.”

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Entre as autoras árabes indicadas como destaque por Safa, estão, por exemplo, a escritora libanesa  Hanan al-Shaykh, que é “uma das mais corajosas e mais ou menos da mesma geração de Hoda Barakat”, a escritora palestina, Adania Shibli, “seu romance é impressionante e vai sair agora. Tem a Dima Wannous, uma jovem escritora síria brilhante.  A escritora iraquiana, poeta e romancista chamada Dunya Mikhail, a argelina Sarah al-Nims…Há uma série de escritoras que merecem e devem ser traduzidas, pela excelência, temática, enredo e inovação de seus trabalhos.”

Safa conta que se sente mais à vontade traduzindo livros do árabe para o português do que o contrário. Ela traduziu para o árabe o livro Dois Irmãos, de Milton Hatoum, e conta que este continua sendo o maior desafio que teve até agora. Ela manifesta o desejo de traduzi-lo novamente e também tem vontade de traduzir para o árabe algo da Clarice Lispector. “Acho que esse seria um desafio diferente e vale a pena enfrentá-lo”.

Ela afirma que logo será publicada uma tradução sua para um livro em prosa do palestino Mahmoud Darwish, com o título “Memória para o Esquecimento”. “Ele tem vários livros em prosa e eu gostaria de levar esse projeto adiante: fazer o Brasil conhecer também o Mahmoud Darwish escritor de prosa e não só de poesia.”

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