O Brasil é o maior país católico do mundo. Mesmo com o crescimento das diversas igrejas, de outros grupos religiosos e do ateísmo, ainda podemos considerar o Brasil como a maior nação católica do mundo. É verdade que muitos católicos se consideram e se declaram como não-praticantes, ou seja, não possuem assiduidade na prática dos rituais religiosos católicos. Apesar disso, esta massa de católicos não-praticantes ainda é considerada parte da comunidade católica mundial.
Uma cena simbólica
Ao assumir oficialmente o poder, em 01 de janeiro de 2019, Jair Messias Bolsonaro, vitorioso nas eleições presidenciais de 2018, marcou a sua posse com um apaixonado culto evangélico, no melhor estilo neopentecostal. O que parece um fato irrelevante e insignificante é algo que tem profundos significados, e é cheio de implicações e consequências. Não foi o mero acaso que fez com que, pela primeira vez na História do Brasil, o presidente da maior nação católica do mundo marcasse a sua posse com um ritual neopentecostal.
Como se não bastasse isso, Jair Bolsonaro deixou bem clara a sua afinidade religiosa, agora adotada como política de estado, num estado constitucionalmente laico, ao conceder a sua primeira entrevista para a televisão, já como presidente eleito, para a Rede Record, a maior emissora neopentecostal do Brasil. Ele fez isso e deixou para segundo plano a tradicional e poderosa Rede Globo, que foi decisiva para abrir o caminho da chegada bolsonarista ao poder, ao dar apoio irrestrito à operação Lava-Jato, que culminou com a injusta prisão de Lula. No entanto, num gesto de ingratidão, Bolsonaro deixou bem claro, já no início do seu mandato, que romperia com a Rede Globo e faria parceria com a emissora cujo dono é o maior neopentecostal do Brasil, Edir Macedo, dono da Rede Record, e com a outra emissora cujo dono é um judeu, Sílvio Santos, dono do SBT.
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Neopentecostalismo e sionismo
Colocar homens como Edir Macedo e Silvio Santos em papel de proeminência e influência no seu mandato, mesmo sem nenhum cargo oficial, é algo que vem a casar com outra atitude do Bolsonaro, a saber, o seu radical alinhamento com os sionistas. Bolsonaro nunca escondeu as suas ligações com neopentecostais e sionistas, mesmo quando ainda era candidato. O caro leitor pode estranhar o fato de associarmos neopentecostalismo ao sionismo de uma forma tão incisiva. Não é delírio nosso, caro leitor! Graças a Deus, estou em pleno domínio das minhas faculdades mentais. Mas, infelizmente, e creio que para surpresa de muitos, não podemos falar de igrejas neopentecostais sem mencionar o sionismo, e vice-versa.
Não é coincidência Jair Bolsonaro exaltar e elogiar Israel – estado sionista por excelência- à torto e à direita e, em paralelo, aparecer em público recebendo a bênção do Edir Macedo. Os dois fatos, que podem parecer isolados e sem nenhuma ligação entre si, são tal qual chave e fechadura ou, se o caro leitor quiser, são tal qual panela e tampa. Poucos fatos no atual cenário político do Brasil possuem ligação tão íntima quanto sionismo e neopentecostalismo. E poucos fatos, no Brasil de hoje, revestem-se de tão profunda influência, muitas vezes acintosamente subestimada e minimizada. Aliás, uma das estratégias que os poderosos usam para aumentar e preservar o seu poder é o disfarce. Afirmar e reconhecer o poder de algo em público é admitir a sua fraqueza. Poder que é poder que se preze sempre lança mão de artifícios de disfarce, negando, blefando e desconversando. É preciso deixar as coisas nebulosas. A falta de transparência por si só é um instrumento de poder autoritário. Assim sendo, não é do interesse de sionistas e neopentecostais que o cidadão brasileiro saiba a verdade sobre o poder aglutinado nas mãos destes dois grupos, poder que hoje tem influência e repercussão sobre a vida de cada brasileiro e cada brasileira.
Ao observador atento não escapam os abundantes e patentes sinais das incontestáveis e escusas ligações que existem entre igrejas neopentecostais e sionismo internacional. Ao falarmos de sionismo internacional, estamos fazendo referência à sua expressão máxima e mais ominosa, que é o Estado sionista de Israel. Igrejas neopentecostais já não são mais igrejas, são templos. O que pode parecer uma mudança irrelevante de nomenclatura, carrega um simbolismo muito mais profundo. A palavra igreja é atributo da cristandade. Templo pode ser usado até para casas de adoração pagãs. Assim, a cruz some e os candelabros (símbolos do judaísmo) ganham espaço de destaque. Até a figura de Maria nunca é citada. A mãe de Cristo não tem importância nenhuma para os neopentecostais. Mas isso ainda não é tudo. A própria figura de Jesus Cristo, o Nazareno, pai da Cristandade, é reduzida a uma presença apagada, ofuscada, quase nunca lembrada. Os neopentecostais só sabem exaltar e lembrar de personagens do Velho Testamento, como Moisés, Abraão, Davi, Saulo, e tantos outros. Toda a blandícia e misericórdia do Novo Testamento são rejeitadas pelos senhores neopentecostais, é preciso exaltar a severidade do Velho Testamento, com suas rigorosas e inexoráveis leis, muitas delas refutadas e abandonadas pelo próprio Jesus. No pano de fundo de tudo isso, a bandeira azul e branca do estado de Israel ergue-se altiva, e as viagens de cúpulas e seguidores neopentecostais ao estado sionista são uma constante.
O que são as igrejas neopentecostais então? São igrejas cristãs? São seguidores de Jesus Cristo? Quais são os seus verdadeiros interesses? De fato, podemos afirmar, sem medo de incorrer em equívoco, que todas as igrejas neopentecostais que operam no Brasil hoje nada mais são do que braços e tentáculos do sionismo no maior país da América Latina. A sua ideologia, as suas práticas, o seu discurso, toda a sua estrutura revela que os ditos apóstolos e bispos nada fazem a não ser servir aos interesses do sionismo internacional. Mas onde fica o povo brasileiro nesta história toda?
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Para as igrejas neopentecostais, o povo tem uma incomensurável importância, mas não para ser ajudado, socorrido e guiado. Para as igrejas neopentecostais, as massas de pobres, despossuídos e desvalidos só servem para serem exploradas, devoradas e enganadas. Aí que entra o tal do dízimo em cheio. A impostura é a arma poderosa para realizar o espólio de todo um povo já sobrecarregado, e lançá-lo ao cruel abate. São os lobos em pele de cordeiros, os falsos profetas, que aproveitam-se da fragilidade e desgraça alheias para acumular poder e dinheiro. Portanto, ao lidar com o sionismo, as igrejas neopentecostais estão em casa. Ambos combinam no desrespeito e desprezo pelo ser humano e sua dignidade. Desde a sua criação ilegítima e criminosa, o movimento sionista nada tem feito a não ser aterrorizar, matar, perseguir, expropriar, expulsar, humilhar, roubar a atentar contra a dignidade e vida do ser humano da Palestina e de tantos outros países árabes.
Uma aliança selada
Não podemos entender o atual cenário político no Brasil se ignorarmos a sua base de sustentação. O alicerce do poder do atual presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, apóia-se sobre o seguinte tripé: bolsonarismo, sionismo e igrejas neopentecostais. Tripé este que vem trabalhando criminosa e diligentemente para aumentar o seu poder cada vez mais às custas da destruição do Brasil e do imenso e intenso sofrimento do povo brasileiro. Obviamente, esta tríade do poder recebe apoio de alguns outros setores, como o Judiciário que perseguiu Lula, a mídia e magnatas brasileiros. Mas qual tem sido o resultado desta aliança até hoje?
O Brasil, que na primeira década do século XXI, chegou a ser a sexta economia do planeta, ultrapassando até a Inglaterra, hoje amarga a humilde e humilhante décima segunda posição no mundo. O país empobreceu? Óbvio que não! O Brasil não empobreceu, mas foi roubado, espoliado, explorado e saqueado. E quem são os seus saqueadores? Acredito que não é preciso quebrar muito a cabeça diante de fatos tão gritantes e evidentes. Os saqueadores do povo brasileiro hoje são a tríade do poder que hoje manda no país: o bolsonarismo, o sionismo e as igrejas neopentecostais. Aquele que veio ao poder como o “mito”, o “salvador”, o “messias”, tornou-se o “genocida”, o “fascista”, o “algoz”. Nunca, com quase 521 anos de História do Brasil, esta nobre nação testemunhou uma monstruosidade tão gritante e uma aberração tão assoladora!
Diante desta ominosa aliança selada, a maior vítima é o povo brasileiro, principalmente os mais humildes e necessitados. Povo que viu os seus rendimentos e poder aquisitivo minguarem a tal ponto que quase não conseguem sustentar a sua alimentação digna, o que dirá de suas outras necessidades como educação, saúde e lazer? Povo que assiste estarrecido e absorto à tragédia sanitária e mortandade decorrentes da pandemia do coronavírus, tragédia esta pela qual o principal responsável e culpado é o governo federal, que desde o início da pandemia vem menosprezando a vida de milhões de brasileiros e dando de costas para os ditames e recomendações da Medicina e da Ciência. Não há crise econômica, mas o povo brasileiro está sendo roubado e saqueado pelo bolsonarismo, sionismo, igrejas neopentecostais e seus asseclas. Não há pandemia impossível de ser combatida e controlada, mas o povo brasileiro está sendo exterminado pela crueldade da aliança formada por bolsonarismo, sionismo, igrejas neopentecostais e seus asseclas.
Um gigante que tornou-se nanico
Para avaliarmos uma safra, temos que olhar para os seus frutos, qualitativa e quantitativamente. E para avaliarmos a adequabilidade e correção de uma estratégia política, temos que olhar para os seus resultados. Nada contra nenhuma escolha ou estratégia, contanto que traga bons frutos e produza auspiciosos resultados. Mas será que podemos dizer que a escolha do Bolsonaro em aliar-se aos sionistas trouxe bons resultados ao Brasil e ao povo brasileiro? Sem rodeios e sem divagações, afirmo peremptoriamente que o resultado da aliança do Brasil com o sionismo foi desastroso, tanto interna quanto externamente. Uma tragédia sanitária sem precedentes. Uma economia aos frangalhos. Uma diplomacia que virou motivo de pilhéria e gozação.
O maior problema da aliança do Brasil com o sionismo é que não se trata de uma relação de amizade e camaradagem entre iguais, mas de uma relação de entre suserano e vassalo, entre senhor e escravo. O mais paradoxal nisso é que o gigante Brasil tornou-se vassalo do suserano Israel, e a maior potência latino-americana curvou-se ao estado de apartheid sionista, com um área territorial do tamanho do estado de Sergipe. Os poderosos de Israel não perderam nenhuma chance de apontar para este fato publicamente, de forma indiscreta e até humilhante para quem tiver um mínimo de brio. Um exemplo claro disto ocorreu na última visita de uma comitiva oficial brasileira ao estado sionista. O filho do presidente brasileiro, o deputado Eduardo Bolsonaro, estava nesta comitiva, que partiu do Brasil com rostos descobertos. Ao chegar em Israel, toda a comitiva foi forçada a usar máscaras, inclusive o patético chanceler brasileiro, que queria tirar fotografia com o ministro de Relações Exteriores israelense sem máscara. Mas a humilhação não pára por aí. O premiê israelense, Netanyahu, não se deu ao trabalho de levantar-se do seu assento ao receber documentos do filho do presidente do Brasil. E enquanto Israel já vacinou a totalidade de sua população contra o coronavírus, o Brasil não vacinou nem um décimo da população sequer! Aqui a tragédia continua, com Bolsonaro e a pandemia.
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