Uma menina canadense de quatro anos de idade voou para casa após dois anos em um campo de detenção no nordeste da Síria, deixando para trás sua mãe, que viajou ao país para casar-se com um combatente do Estado Islâmico (Daesh).
Sua mãe é uma das 12 mil mulheres e crianças de até 60 países que permanecem detidas em campos instalados para familiares de supostos membros do Daesh.
Tais lugares são denunciados por suas “condições horríveis e sub-humanas”, reiterou Ni Aolain, investigadora especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre direitos humanos e atividades de combate ao terrorismo.
“As condições nestes campos podem chegar à margem da tortura e tratamento degradante e desumano, segundo a lei internacional”, declarou Aolain.
As instalações possuem água contaminada, carência de alimentos e tendas que não protegem das chuvas, denunciou seu inquérito sobre a questão. Centenas morreram por falta de remédios e cuidados médicos, além de condições insalubres e violência.
Na primeira metade de janeiro, doze pessoas foram assassinadas em Al-Hawl.
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A maioria dos países ocidentais incitou críticas veementes após recusar-se a repatriar seus cidadãos mantidos em tais condições.
Em fevereiro, uma lista de 57 países foi identificada para pressionar seus respectivos governos. A lei internacional prevê o dever das nações de repatriar seus cidadãos para que então, caso indiciados, sejam processados por crimes de guerra e outros, em cortes domésticas.
A lei internacional determina ainda que os países detêm a responsabilidade de promover a reunificação familiar, exceto sob evidências de que a separação está no melhor interesse das crianças, reiterou o Human Rights Watch (HRW).
Segundo a entidade humanitária, as crianças devem ser consideradas vítimas do conflito armado e as mulheres devem ser tratadas como vítimas do Daesh, em primeiro momento, a despeito de crimes que possam também ter cometido.
“O Canadá e outros países devem agir urgentemente para repatriar todos os seus cidadãos mantidos no nordeste da Síria”, argumentou o HRW. “Uma vez em casa, podem obter a oportunidade de reabilitação ou reintegração”.
Recentemente, surgiram rumores sobre propostas para revogar a cidadania de tais pessoas, apesar da lei internacional vetar expressamente ações que deixem indivíduos apátridos.
Shamima Begum, cidadã britânica, filiou-se ao Daesh em 2015 e viajou à Síria para juntar-se ao grupo terrorista, junto de outras duas moças em idade escolar.
Sua cidadania foi revogada em 2019, quando estava grávida de nove meses, desta forma, impossibilitada de retornar ao Reino Unido. Seu filho morreu logo após nascer, o terceiro a perecer sob as mesmas condições, em seu exílio.
A Suprema Corte do Reino Unido determinou que Begum não pode retornar ao país europeu para recorrer à cassação de sua cidadania.
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