No último ano, a Autoridade Palestina tentou – de maneira habitualmente equivocada – convencer a comunidade internacional a agir contra a expansão colonial de Israel ao observar que o premiê israelense Benjamin Netanyahu beneficiou-se dos últimos meses do governo americano de Donald Trump. A ilusão de um prazo restrito sobre o qual Israel tentaria conduzir sua expropriação final das terras palestinas foi logo devastada por um relatório recente que apontou para o aumento nas demolições israelenses de estruturas financiadas pela União Europeia, na Palestina ocupada.
O gabinete do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) nos territórios palestinos ocupados reportou que Israel demoliu um total de 153 estruturas palestinas, deslocou 305 pessoas e afetou 435 outras em termos de subsistência, desde o início de 2021. Observa o relatório: “Até então, a média mensal de estruturas atingidas (117) representa um aumento de 65% em 2021, comparada à média mensal de 2020 (71)”.
Seria melhor à Autoridade Palestina denunciar então a expansão em curso, vinculada aos planos de anexação ilegal, oficialmente suspensos, que também refletem o conceito de “Grande Israel”. Somente porque a ONU não relaciona a anexação com os planos primordiais de colonização sionista, não significa que a Autoridade Palestina deve abdicar de sua responsabilidade sobre a questão – muito menos enquadrar a expansão meramente no contexto das decisões unilaterais do governo Trump.
Legisladores dos Estados Unidos escreveram ao atual presidente Joe Biden para exortá-lo a investigar o uso de equipamentos americanos na campanha de demolição de estruturas palestinas. A carta observa ainda a contradição entre a oposição de Biden à anexação e seu silêncio sobre a demolição contínua de casas da população nativa, ao lembrar sua gestão do fato incontestável de que a anexação ocorre hoje distante do escrutínio internacional.
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O Ministro de Assuntos de Jerusalém da Autoridade Palestina, Fadi Al-Hidmi, não sobressaiu-se em suas críticas a outros oficiais da administração em Ramallah, ao manter a retórica de apelo à comunidade internacional para fazer o mesmo de sempre – isto é, nada. “O que acontece agora é um processo programado e sistemático de substituição de palestinos expulsos de suas terras e propriedades por colonos estrangeiros”, declarou Al-Hidmi. Em seguida, voltou-se à ONU para intervir e pressionar Israel a interromper as demolições. Enquanto isso, o estado sionista continua a planejar outras cem demolições no bairro de Silwan, que resultarão no deslocamento de 1.550 civis palestinos – e a comunidade internacional mantém-se em silêncio. Enquanto a anexação não for formalizada, a ONU não sente efetivamente a obrigação de intervir sequer retoricamente.
O Conselho de Direitos Humanos da Palestina (CDHP) escreveu à equipe de relatores especiais da ONU para trazer atenção aos crimes israelenses de transferência compulsória e expansão colonial, designados como crimes de guerra pelo Tribunal Penal Internacional (TPI). Em suas recomendações, a entidade palestina reivindicou das Nações Unidas que dê fim à “ocupação, colonização e regime de apartheid de Israel, além da recusa prolongada dos direitos de autodeterminação do povo palestino e retorno dos refugiados às suas casas, terras e propriedades, conforme determina a lei internacional”.
O problema é justamente a abordagem da comunidade internacional sobre a Palestina – ou o que restou de suas terras históricas –, a partir da solução defunta de dois estados, que falha em reconhecer os elementos fundamentais da colonização. Deste modo, quais as verdadeiras chances da ONU avançar sequer um passo além de divagações tardias sobre impedir a expansão colonial de Israel?
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