O que seria um grupo de estudos acadêmicos tradicional transformou-se, com o início da pandemia, em um ativo divulgador online de vários aspectos da história, cultura, literatura e atualidade do Oriente Mèdio e também uma referência para desmonte dos estereótipos criados em torno das questões de cultura e de gênero no mundo árabe.
A diversidade dos temas tratados a partir da pesquisa acadêmica é apontada pela pesquisadora Muna Omran, na Conversa com o Monitor do Oriente Médio (MEMO) sobre cultura e imagem do mundo árabe no Brasil realizada nesta sexta-feira(19).
Uma das fundadoras do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre o Oriente Médio (GEPOM), a entrevistada desta semana é doutora em História e Teoria Literária pela Unicamp, com foco nas questões de gênero e um olhar para a visão do Brasil em relação às mulheres árabes
Uma diferença, em sua opinião, no Brasil, é o fato de que o feminismo é organizado e consegue lutar. O que não quer dizer que a luta tenha sido vencida.
“Se a gente precisa de uma lei Maria da Penha que garanta nosso direito à vida, é porque não estamos conseguindo defender nossos direitos.”, avalia, observando que “só na semana passada o Supremo Tribunal Federal decidiu que o argumento da defesa da honra (para o feminicídio) não tem mais validade”.
O grande problema, no Oriente Médio, é o patriarcado e a forte opressão sobre as mulheres. “O patriarcado se expressa em todas as esferas do poder político, religioso e familiar”, aponta a pesquisadora. E a literatura indica um esforço das mulheres em lidar com isso há mais tempo do que se sabe.
Muna Omran rejeita a ideia de que a discussão do feminismo no mundo árabe tenha surgido somente no final do século XX, como muitos acreditam e lembra que, no século 19, já se falava em questões de gênero na literatura árabe.
Ela menciona Zaynab Fawwāz, novelista libanesa fixada no Egito que chegou a publicar um dicionário com 435 nomes de mulheres importantes pelo protagonismo em suas atividades no Oriente Médio ou no ocidente.
Em março, o GEPOM dedicou suas atividades online aos temas de gênero, e um curso organizado por Muna Omran e a pesquisadora Monique Sochaczewski que já vai para a quarta aula e tem gerado grande interesse ao dedicar-se ao tema das Mulheres escritoras do Oriente Médio. As organizadoras trouxeram para as aulas a literatura da marroquina Fatma Mernissi, a libanesa Joumana Haddad , a turca Elif Safak e a israelense Ayelet Gundar-Goshen
Fundamentados em pesquisa acadêmica, os cursos do GEPOM tratam de história medieval às questões do petróleo, do Império otomano às disputas geopolíticas, de cultura e do desmonte do chamado orientalismo, de artes à política. E o início da relação mais direta com o público interessado, dentro e fora da academia, tem ampliado os horizontes da própria pesquisa. Muna Omran aposta que essa parceria online seguirá além do isolamento forçado pela pandemia.
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