Há dezoito anos, em 19 de março de 2003, os EUA lideraram a invasão ocidental do Iraque em uma guerra que muitos consideram como o pior desastre no campo da política externa em toda a história moderna. Justificada sob o pretexto de eliminar as armas de destruição em massa (ADM) que o ditador do país, Saddam Hussein, alegadamente possuía – o que se revelou falso, pois não foram encontradas ADM – a guerra levou à morte de milhões de pessoas; alimentou sectarismo violento; permitiu o surgimento de grupos religiosos militantes e deu poder ao Irã.
O que: Invasão americana do Iraque
Quando: 19 de março de 2003 – 18 de dezembro de 2011
O que aconteceu?
O presidente americano George W Bush – cuja administração tinha sido dominada por um grupo de neoconservadores fanáticos determinados a redesenhar o mapa do Oriente Médio – liderou uma coalizão de países majoritariamente ocidentais para invadir o Iraque com o pretexto de destruir o estoque fictício de armas de destruição em massa do presidente iraquiano Saddam Hussein.
Mais tarde foi descoberto que o motivo da guerra era totalmente falso, no entanto, os aviões americanos bombardearam a capital Bagdá, enquanto as tropas americanas tomaram conta da cidade em menos de um mês. O bombardeio de Bagdá foi tão intenso a ponto de se dizer que cada hospital da capital recebia uma média de 100 vítimas por hora, a maioria civis. Até hoje, a infraestrutura de Bagdá não foi totalmente reconstruída e a cidade continua marcada não apenas pelo ataque americano, mas também pelos bombardeios que se seguiram por mais de uma década.
Mesmo que o Presidente Bush tenha declarado “Missão Cumprida” em 14 de abril, quando estava a bordo do porta-aviões norte-americano USS Abraham Lincoln, a guerra continuou por oito anos, matando de 151 mil a 600 mil iraquianos durante seus estágios iniciais. A captura de Saddam Hussein em dezembro de 2003 e seu subsequente enforcamento, proporcionou pouco consolo para as quase duas décadas de violência e instabilidade sofridas pelos iraquianos devido a uma combinação de políticas fracassadas dos EUA e forças violentas desencadeadas pela invasão liderada pelos EUA.
O que aconteceu depois?
Nos anos que se seguiram à invasão, o Iraque passou de uma crise humanitária para outra. A organização do Crescente Vermelho Iraquiano estimou que o deslocamento interno total foi de cerca de 2,3 milhões em 2008, com cerca de dois milhões de iraquianos tendo deixado o país.
Os EUA tentaram trazer alguma ordem instalando uma nova administração, mas cometeram uma série de erros que aprisionaram o Iraque em um ciclo de violência e instabilidade. Os americanos, provavelmente esperando uma vitória rápida, estavam em um número perigosamente baixo de tropas quando o Iraque mergulhou no caos após o surgimento de grupos insurgentes. Sua capacidade de lidar com insurgentes foi limitada pela decisão de Paul Bremer, que dirigiu o Iraque durante 14 meses como chefe da Autoridade Provisória da Coalizão. O oficial americano dissolveu o exército iraquiano e embarcou em uma política chamada de desbaatificação.
Com o colapso do Estado iraquiano, as filiações religiosas e étnicas se consolidaram. As tensões sectárias e religiosas cresceram consideravelmente entre as comunidades minoritárias sob a administração de Bremer. A invasão e ocupação liderada pelos americanos fragmentou o país em linhas sectárias.
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A política de desbaatificação, adotada pela ocupação americana, expulsou o serviço público de seus cargos superiores de administração, deixando entre 20.000 e 120.000 pessoas desempregadas e removendo o que restava do Estado Isto foi particularmente perigoso no caso do exército e de seu corpo de oficiais, que em vez de se alistarem junto aos novos militares se juntaram à insurgência e, eventualmente, aos militantes sunitas. Profundas incertezas criadas pela invasão empurraram milhões de pessoas para os braços de grupos religiosos e étnicos, milícias ou de quem quer que fosse que oferecesse proteção.
O novo regime iraquiano também alimentou o sectarismo criando guetos em Bagdá, dividindo em distritos sunitas e xiitas, além de terem fechado os olhos para as atividades das milícias xiitas jihadistas que, alegadamente, cometeram uma campanha de limpeza sectária em muitos distritos de Bagdá, matando sunitas ou ameaçando-os com violência para que vendessem suas casas a compradores xiitas.
Os EUA retiraram suas tropas do conflito em 2011 e estima-se que tenham gasto quase 2 trilhões de dólares em custos relacionados à guerra no Iraque durante seus oito anos de envolvimento. Washington foi forçada a reposicionar as suas tropas mais uma vez em 2014 para lidar com a ameaça da Daesh.
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