Neste sábado (20), o Monitor do Oriente promoveu o lançamento da edição em português do livro “A expulsão dos palestinos – O conceito de “transferência” no pensamento político sionista (1882-1948)”. Participaram do evento o autor do livro, Nur Masalha, o diretor do Monitor do Oriente, Daud Abdullah, e a jornalista palestino-brasileira, Soraya Misleh.
O livro chega ao Brasil pela editora Sundermann e Monitor do Oriente Médio, após ter sido publicado pela primeira vez em 1992, com seis edições em inglês. “É um livro que tem trinta anos e mesmo após esse tempo continua tão relevante e lido por muitas pessoas”, afirma o autor.
Masalha destaca que o livro é muito usado por acadêmicos em suas pesquisas, enquanto a mídia tradicional internacional não fala sobre o assunto. “Tem esse forte contraste entre o livro ter sido reimpresso tantas vezes em inglês, lido por acadêmicos e estudantes, impactando em universidades do ocidente, com a principal mídia do ocidente, que é completamente silenciosa. A mídia fala de 1967 [ano da guerra dos seis dias], mas nunca mencionam o ano de 1948. É como se os palestinos não existissem até 1967”, afirma.
A mídia fala em territórios disputados e é como se o conflito começasse em 1967, mas sabemos que as raízes desse conflito remontam há 100 anos; a Balfour, ao inicio do empreendimento sionista e ao início da colonização da Palestina. Na verdade, o ano de 1948 é o fim deste livro, não é o começo. Este livro busca chegar às raízes da questão e por isso é tão diferente, explica Nur Masalha.
O livro argumenta que 1948 foi planejado sistematicamente e revela diversos documentos que comprovam isso, de comitês de planejamento montados quase duas décadas antes. “A ideia da transferência é o eufemismo sionista para a expulsão, para a limpeza étnica, para a remoção dos povos nativos”, diz Nur Masalha.
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As pesquisas do autor para o livro foram feitas na década de 80, com o estudo de vários documentos disponíveis na época. Muitos outros ficaram disponíveis nos últimos anos e corroboraram com o livro publicado em 1992. “Algumas novas descobertas e documentos apareceram depois do meu livro, mas, na verdade, confirmaram e validaram o livro. O jornal israelense Haaretz publicou algumas coisas 20 anos depois de eu ter escrito o mesmo no livro. Muitas coisas publicadas nos últimos anos apenas reforçaram as minhas descobertas.”, diz o autor.
O doutor Daud Abdullah, que escreveu o prefácio da edição, relembrou as semelhanças entre a história dos povos nativos da América Latina, com os palestinos. “As pessoas na América Latina também foram vítimas de um processo de limpeza étnica, de extermínio de fato. No século XVI, os conquistadores que foram ao Peru e ao México exterminaram tribos inteiras para estabelecer suas colônias, mas no século XIX, os conquistadores não conseguiram exterminar o povo palestino. Essa semelhança entre o que aconteceu nas Américas e na Palestina deve ser observada.”
A publicação no Brasil, com tradução de Leo Misleh e Tereza Bosco Ferreira, traz uma importante fonte de conhecimento sobre a questão palestina, ainda pouco estudada no país. A jornalista Soraya Misleh, que fez a mediação da conversa, lembra que é muito difícil encontrar publicações de autores árabes em português. “Infelizmente, o mercado editorial brasileiro é predominantemente eurocêntrico. O que vemos é muita desinformação, particularmente nos meios de comunicação de massa, nas mãos de poucas famílias capitalistas. Eu costumo dizer que a Palestina e os palestinos são em grande parte desconhecidos no Brasil.”, diz.
Nur Masalha afirma que o livro ajuda na compreensão dos acontecimentos contemporâneos no território palestino, porque o sionismo continua usando as mesmas táticas para garantir a expulsão do povo palestino, que continua resistindo. “Este livro realmente nos ensina sobre o passado, mas também nos ensina sobre o presente. Ele mostra que, na Palestina, o passado é o presente. O holocausto judeu está no passado, mas a situação da catástrofe palestina, as ameaças de expulsão sobre os palestinos, ainda não desapareceu. Ali o passado ainda é o presente. É assim que precisamos enfrentar a questão palestina. Nós resistiremos a outra catástrofe. Resistiremos a outra Nakba.”, conclui o autor.
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