O Dia Mundial da Água (22) alerta sobre a desigualdade do acesso à água potável e ao saneamento básico no mundo. O fotógrafo brasileiro Érico Hiller documentou em seu livro ÁGUA, a falta desse direito humano básico na Palestina, Jordânia, Brasil e outros países do mundo.
Um estudo recente mostrou que apenas quatro por cento das famílias na Faixa de Gaza têm acesso a água potável. No Brasil, local considerado com abundância de água, são quase 35 milhões de pessoas sem acesso à água tratada, de acordo com o Instituto Trata Brasil. A Organização Mundial da Saúde prevê que até 2025 metade da população mundial viverá em áreas com escassez de água. Os dados de 2017 mostram que no mundo, 785 milhões de pessoas não dispõem sequer de um serviço básico de água potável, incluindo 144 milhões de pessoas que dependem da água de superfície.
O fotógrafo documental brasileiro Érico Hiller testemunhou o caminho percorrido por famílias inteiras diariamente em busca de água, das crianças que têm a infância roubada, às mães que têm de escolher entre matar a própria sede ou alimentar seus filhos, passando por favelas, desertos, pequenas e grandes cidades nas regiões da: Índia, Jordânia, Palestina, Etiópia, Bangladesh, Quênia, Bolívia, Chile e Brasil. O resultado dos dois anos de trabalho está no livro ÁGUA, publicado em novembro de 2020 pela editora Vento Leste, contendo 170 fotografias acompanhadas por textos informativos em um livro-manifesto.
“Meu primeiro enfoque sempre foi o social, uma forma de entender como o homem se relaciona com o meio, e a partir dos registros, despertar no espectador consciências individuais que afetam o todo”, conta Hiller, que lançou em 2018 “A Marcha do Sal”, após refazer o caminho de Mahatma Gandhi na Índia, também pela Vento Leste.
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Segundo a OMS, a água suja é a causa de 80% de todas as enfermidades e doenças do mundo. Morrem mais pessoas em decorrência de problemas relacionados à água suja do que somando as vítimas de todas as formas de violência e de doenças causadas por vírus. A constatação foi o ponto de partida para que o fotógrafo fizesse a mala e fosse em busca de registros que colocassem a questão em perspectiva real. “Se uma pessoa passa por problemas com água no outro canto do planeta, por que devo me preocupar com isso? Essa pergunta me despertou para um compromisso pessoal de encontrar uma resposta satisfatória. Essa busca me acompanhou por muitos anos, até que, em 2018, entendi que havia chegado a hora de me dedicar ao que sempre esteve dentro e diante de mim. A tarefa de documentar o acesso desigual à água limpa me fez remontar a razão pela qual me tornei fotógrafo”, conta.
“O desperdício é a grande convulsão do nosso tempo. O paradoxo do excesso versus escassez deixa nossa reflexão turva. O progresso não é a resposta para todas as perguntas. O consumo não traz as coisas de que necessitamos. A humanidade pode ter chegado a um nível de evolução formidável, mas estamos crescendo impunemente, e nossos critérios de prosperidade estão alicerçados em ideias que apartam pessoas e destroem o planeta”, completa Hiller.