Esta semana foi noticiado que os docentes da Universidade de Brasília (UNB) aprovaram uma moção contrária à colaboração da UNB com o estado de Israel. Uma das professoras responsáveis pela ação de boicote acadêmico é a palestina Muna Muhammad Odeh, entrevistada pelo Monitor do Oriente em live desta sexta-feira (26).
Muna é professora de Saúde Coletiva da UNB e nascida em Jerusalém, ela conversou com o Memo sobre a vacinação dos palestinos contra a covid-19 e sobre a resposta dos docentes ao anúncio da reitora, Márcia Abrahão, sobre a parceria com Israel.
Segundo ela, essa aprovação é um exemplo, no contexto do Brasil e da América Latina, “de como podemos enfrentar esse crescente desejo de se associar a Israel, seja na política, nas votações que o Brasil está fazendo de uma forma inédita na ONU e chegando até às universidades”. Após o anúncio da reitora em fevereiro, um pequeno grupo de docentes e discentes palestinos organizou uma carta-manifesto e uma petição em repúdio à colaboração. “Argumentamos que a UNB em 1991 recebeu Nelson Mandela, que reafirmou a importância da universidade como espaço para defesa dos direitos humanos.”
Posteriormente, a questão foi levada pela professora à Assembleia Geral da Adunb (Associação dos Docentes da Universidade de Brasília) no dia cinco de março.
“Dentro do conselho de representantes, pautei a questão e tivemos uma discussão muito bacana e importante. Boa parte dos docentes não sabem desse caráter de Israel, não sabem dessas práticas diárias, que influenciam tanto na saúde como na condição de vida da população e que caracterizam realmente um apartheid.”
Em seguida um grupo de trabalho foi construído, onde desenvolveram a moção “Não a colaboração entre a UNB e o estado de apartheid de Israel”, que foi aprovada na Assembleia Geral do dia 22.
“Isso foi muito importante e nós queremos divulgar em todos os meios para que outras universidades estejam atentas a isso”, disse Muna. “Na minha trajetória pessoal como palestina vivendo no brasil, eu fico extremamente gratificada e muito feliz por nós conseguirmos manter a UNB livre de aphartheid. Essa moção que escrevemos fez questão de enfatizar e concluir com essa frase. Ao mesmo tempo, precisamos, e estamos planejando neste momento, construir um comitê permanente para acompanhar. Porque haverá outras gestões na universidade e é muito importante acompanhar e averiguar essas parcerias.”
O entrevistador, Fábio Bosco, também questionou a professora sobre o que consiste o apartheid sanitário, tema da conversa da professora com a médica palestina Samah Jabr, durante a semana contra o apartheid promovida pelo movimento do BDS no Brasil.
“O apartheid sanitário, apartheid médico, primeiramente vai além da vacinação, é a sistematizada estratégia de exercer , por parte de Israel, o poder absoluto, cínico e repleto de práticas discriminatórias e seu aprofundamento em tempo de pandemia”, explicou Muna, citando a médica Jabr.
A professora fala que manter apartheid no lugar de uma política integral de saúde pública em Israel é um “posicionamento político irracional, porque todo mundo sabe que o vírus não tem fronteira e não diferencia quem vai contagiar.”
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