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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

No Dia da Terra Palestina, a homenagem a ’Hebron, Cidade Impossível’

Forças israelenses prendem o palestino Fevzi El-Junidi, de 14 anos, após confrontos após protestos contra a decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, de reconhecer Jerusalém como capital de Israel, na cidade de Hebron, na Cisjordânia, em 07 de dezembro de 2017. (Wisam Hashlamoun - Agência Anadolu)
Forças israelenses prendem o palestino Fevzi El-Junidi, de 14 anos, após confrontos após protestos contra a decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, de reconhecer Jerusalém como capital de Israel, na cidade de Hebron, na Cisjordânia, em 07 de dezembro de 2017. (Wisam Hashlamoun - Agência Anadolu)

Toda terra palestina, do rio ao mar, é testemunho vivo e latejante daquilo que uma poderosa articulação de forças coloniais é capaz de fazer para anulação de um povo nativo, em nome de um conceito particular e insustentável de democracia. Mas é ao mesmo tempo o testemunho do quanto esse povo é capaz de resistir à uma concentração de aparatos de controle tecnológico, militar e policial, direcionados ao uso político da violência física e psicológica.

Massacre e perseverança são cotidianos e extrapolam o território palestino até a diáspora e as relações internacionais.  Mas poucos lugares da Palestina ocupada e em disputa despertam tão imediatamente a conexão com a memória coletiva de seus legados históricos, culturais, e espirituais como Hebron, a cidade que preserva laços imateriais e espirituais com as três grandes religiões monoteístas, com a terra de Abraão.

Imaginar que nessa cidade chamada Al-Kalil – o amigo querido – uma rua histórica precise ser recoberta com uma tela sobre a circulação de pessoas, para que o lixo despejado pelos moradores de cima, os ocupantes, não caia sobre a cabeça dos de baixo, os ocupados, é como um curto-circuito na fantasia humana de que as pessoas nasceram para amar o bem.

É esta convicção, porém, que leva o jornalista e escritor palestino, nascido e morador de Hebron, Ahmad Jaradat, a querer contar a todo mundo o que se passa em sua cidade natal. Ainda que o retrato seja trágico e os relatos intoleráveis, ele confia que a solidariedade do outro lado mundo – especialmente o Brasil e a América Latina – sejam parte da força de moradores nativos que resistem à ocupação israelense que avança, destrói e tira vidas, sem nunca vencer. É o que ele chama de “nosso cinturão de amigos” que aumenta a cada oportunidade em que as histórias palestinas são contadas e o desejo de mudar o final das histórias é compartilhado.

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Hebron, a cidade impossível, é o nome do livro que Ahmad Jaradat e parceiros do Brasil lançam em português no Dia da Terra Palestina. Sua importância, como documento sobre a cidade ocupada e dia-a-dia da resistência, será debatida em uma reunião online entre o autor, prefaciadores e nomes conhecidos pelo compromisso com a causa palestina.    Interessante é a própria história do livro, que foi sendo construído aos poucos, em encontros não destinados a isso, e que revelam a essência militante da publicação.

A primeira vez que Jaradat publicou seu ainda pequeno livro sobre Hebron se deu em 2019,  “graças a companheiros solidários espanhóis”, já com o mesmo título da publicação lançada agora. Mas nesse mesmo ano, a proposta de um livro ampliado e traduzido ao português surgiu em meio a conversas com visitantes de Santa Catarina, interessados a luta palestina de perto.

Ahmad Jaradat [ Arquivo pessoal/ Facebook]

“ Desses encontros e debates solidários, que se estenderam horas a fio e que sempre foram regados com muito café árabe com cardamomo, na cidade de Ramallah, surgiu a programação de visitarmos Hebron com o convite e assessoria do próprio Jaradat”

O grupo era formado pelo médico e poeta, Yasser Jamil Fayad, que conta essa história, seu pai, o agrônomo Jamil Abdalla Fayad, ambos integrantes do  Movimento pela Libertação da Palestina – Ghassan Kanafani e pelo comerciante palestino radicado no Brasil, Khader Othman, membro-fundador do Comitê Catarinense de Solidariedade ao Povo Palestino – os três ativos militantes de esquerda.  O Movimento pela Libertação da Palestina – Ghassan Kanafani, coordenado por Yasser, é a entidade  que lança agora o livro bastante ampliado no Brasil, pelo selo Fedayin Editora.

Conhecer Hebron de perto é impactante. Yasser se recorda da cidade como “um microcosmo da colonização sionista, que promoveu um assalto ao centro de uma cidade histórica, de grande importancia religiosa.”, e cuja impressão também precisaria ser relatada no Brasil.

A dor de Hebron é também religiosa, pelo ataque aos seus locais sagrados.  Em 1994, um  médico nascido nos Estados Unidos e um colono israelense entraram na Mesquita de Abraão e abriram fogo contra muçulmanos. Vinte e nove palestinos que realizavam orações matinai no o mês sagrado islâmico do Ramadã foram mortos e cerca de 150 ficaram feridos.

O atentado serviu como pretexto para a tomada de parte da Mesquita, que foi destinada aos judeus e mais militarização da cidade.  São 600 colonos instalados no centro da cidade, protegidos por dois mil solados, lembra Yasser.  No processo de judaização, até o chamado melancólico à oração feito pelo muezin, e um traço fundamental da cultura e cotidiano islâmico foi proibido por Israel.

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As situações cotidianas se revelam de fato são assustadoras. O militante do Movimento Sem Terra, Marcelo Buzetto, que várias vezes participou das tradicionais colheitas de azeitons da Palestina, faz uma introdução ao livro e relata experiências que explicitam o apartheid, em que um palestino não pode permanecer na mesma calcada em passe uma família de colonos.

“De repente ouvimos gritos, e soldados apareceram com um jovem palestino algemado com as mãos para trás e com uma venda nos olhos.  Os soldados destravaram os fuzis, apontaram em nossa direção e deram ordem para que nos afastássemos.

Levaram o jovem preso”. Alguns comerciantes relataram que o jovem estava caminhando e não mudou de calçada. A família de colonos sionistas chamou os soldados, que interperlaram o jovem e ouviram dele:

“Eu nasci aqui, meu pai nasceu aqui, meu avô nasceu aqui, e meu bisavô também. Onde nasceu seu avô?”.

Os visitantes do Brasil e Ahmad pensaram sobre o que seria uma versão do livro para o Brasil. Juntamente com os capítulos atualizados de Ahmad Jaradat, ela ganhou um longo testemunho dos visitantes, com dados interessantes da história da Palestina, cartazes alusivos, acervos da resistência e fotos da viagem, mais o texto introdutório de Buzetto, dados sobre atividades em defesa da Palestina, poema de Yasser e ainda uma nota biográfica seguida de um texto literário do escritor Ghassan Kanafani, homenageado pelo movimento que adotou seu nome.

As atividades de lançamento do livro no Dia da Terra Palestina, promovidas em conjunto pelo Movimento pela Libertação da Palestina – Ghassan Kanafani, Grupo Intifada de Estudos em Geopolítica, Instituto Brasil-Palestina (Ibraspal) e Frente Palestina Livre,  tratarão das muitas faces da resistência, da história e dos dias atuais.

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A terra palestina é violada diariamente por  demolições, destruição de lavouras, poços e fontes de eletricidade, assentamentos ilegais e ameaças de anexação, em todos os seus territórios ocupados. Mas ler sobre Hebron e conhecer os relatos da Cidade Impossível é compreender um pouco de tudo isso.

O lançamento de Hebron – Cidade Impossível será feito às 19 horas de 30 de março de 2021, com participação online do autor, editores e convidados(as) comprometidos com a causa palestina.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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Palestina: quatro mil anos de história
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