O quê? Uma iniciativa de paz liderada pelos sauditas e endossada pelos 22 estados membros da Liga Árabe ofereceu a Israel uma fórmula abrangente para a paz baseada em normas internacionais. Em troca da retirada completa de Israel de todos os territórios ocupados durante a Guerra dos Seis Dias de junho de 1967, os estados árabes ofereceram a normalização total dos laços diplomáticos com o estado sionista e reconheceram seu direito de existir em paz e segurança na região.
Onde? Cúpula da Liga Árabe realizada em Beirute, Líbano
Quando? 28 de março de 2002
O que aconteceu? No auge da Segunda Intifada Palestina (Levante), desencadeada dois anos antes por uma visita altamente provocativa do ex-primeiro-ministro israelense Ariel Sharon à Mesquita de Al Aqsa na Jerusalém ocupada, protegida por 1.000 seguranças, os estados árabes ofereceram a Israel um plano abrangente para acabar com o conflito em curso com seus vizinhos. Em uma iniciativa liderada pelo então monarca da Arábia Saudita, Rei Abdullah, os líderes árabes coletivamente ofereceram a Israel o reconhecimento de seu direito de existir e uma normalização dos laços diplomáticos em troca de sua retirada completa das terras árabes ocupadas desde 1967.
O plano reafirmou a resolução tomada em junho de 1996, na Cúpula Árabe do Cairo, de que uma paz justa e abrangente no Oriente Médio é a opção estratégica dos países árabes e que seria alcançada de acordo com o direito internacional. Isso incluiu as Resoluções 242 e 338 da ONU, que pediram coletivamente a retirada de Israel em troca de laços pacíficos com seus vizinhos árabes, bem como uma solução justa para o problema dos refugiados palestinos com base na Resolução 194 da Assembleia Geral da ONU.
Em troca da paz, Israel teve que aceitar o estabelecimento de um estado palestino independente e soberano nos territórios palestinos da Cisjordânia e Faixa de Gaza ocupados pelo estado sionista desde 1967, com Jerusalém Oriental como sua capital. A iniciativa também pedia uma retirada total de Israel das Colinas de Golã da Síria e do território no sul do Líbano.
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A Iniciativa de Paz Árabe gozou de apoio quase global da ONU, com o apoio do então presidente dos Estados Unidos George W Bush e do então primeiro-ministro britânico Tony Blair.
O que aconteceu depois? Quando os estados árabes se ofereceram para resolver o conflito com Israel, a Cisjordânia ocupada entrou em outra fase brutal da Segunda Intifada. Em 29 de março de 2002, um dia após o anúncio da Iniciativa de Paz Árabe, Israel lançou a Operação Escudo Defensivo, uma grande operação militar na Cisjordânia, supostamente em resposta a ataques terroristas. As forças israelenses invadiram Ramallah, Jenin e Nablus. Mais de 500 palestinos e 29 soldados israelenses foram mortos na operação militar de quatro semanas.
A Iniciativa de Paz Árabe não ressurgiu até a cúpula da Liga Árabe em Riad em março de 2007, quando foi totalmente endossada. A União Europeia, os EUA e a ONU apoiaram o plano como o único caminho a seguir. “A Iniciativa de Paz Árabe é um dos pilares do processo de paz […] ela envia um sinal de que os árabes levam a sério a conquista da paz”, disse o à época secretário-geral da ONU Ban Ki-Moon.
Israel, entretanto, voltou-se ainda mais para a direita política com a reeleição de Benjamin Netanyahu em 2009 como primeiro-ministro. O líder do Likud, que garantiu um segundo mandato, estava (e ainda está) liderando um partido que não reconhece o direito dos palestinos à criação de um Estado nem a solução para a paz endossada por quase todos, enquadrada na Iniciativa de Paz Árabe.
Netanyahu cimentou sua posição e, com ela, a extrema direita israelense, ao vencer mais três eleições. Ultimamente, a Iniciativa de Paz Árabe sofreu um grande golpe. Netanyahu prometeu que faria os países árabes normalizarem os laços com Israel sob o status quo, em termos favoráveis ao estado sionista, sem conceder território ou condição de Estado aos palestinos. A chegada de Donald Trump ao cenário internacional abriu as portas para transformar em realidade o que antes eram fantasias da extrema direita israelense.
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Durante a gestão do ex-presidente dos EUA (2017-2021), Israel normalizou os laços com Emirados Árabes, Bahrein, Sudão e Marrocos. Os quatro países abandonaram os princípios para a paz estabelecidos na Iniciativa de Paz Árabe. A Arábia Saudita, que liderou a iniciativa de 2002, continua comprometida com ela. Mas por quanto tempo?
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