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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

É necessário ser um antissionista para rejeitar o antissemitismo

Manifestantes participam de protestos em frente a uma reunião do Executivo Nacional do Partido Trabalhista Britânico, em 4 de setembro de 2018, em Londres, Inglaterra. [Dan Kitwood/Getty Images]
Manifestantes participam de protestos em frente a uma reunião do Executivo Nacional do Partido Trabalhista Britânico, em 4 de setembro de 2018, em Londres, Inglaterra. [Dan Kitwood/Getty Images]

Um dos mal-entendidos mais comuns sobre a ocupação israelense da Palestina é que se trata de um “conflito” entre dois países, “Israel” e “Palestina”. Tal linguagem é altamente enganosa, porque dá a impressão de que se trata de dois países que estão em igualdade de condições e que lutam em um conflito de fronteira interminável que já se arrasta por milhares de anos devido a algum tipo de conflito religioso amorfo.

Isso simplesmente não é o caso. Na realidade, existe apenas um país entre o rio Jordão e o mar Mediterrâneo. É chamado de Israel no momento, que é um estado de apartheid cujas leis privilegiam os judeus sobre todos os outros. Historicamente, antes de 1948, o único nome usado para todo esse território era Palestina.

Com a ascensão do sionismo – um movimento colonial europeu fundado no final do século XIX – um novo termo foi inventado para descrever a Palestina: a “Terra de Israel”. Antes disso, a palavra “Israel|” geralmente era usada apenas como sinônimo para o povo judeu, como na frase bíblica “Filhos de Israel”.

Em uma história da Bíblia, Jacó, o neto de Abraão, lutou com o homem até de manhã. Ao amanhecer, ele soube que o ser celestial na verdade era o próprio Deus. Jacó recebeu então o nome de “Israel”, explicado em Gênesis como “aquele que luta com Deus”. (Apesar disso, alguns estudiosos da Bíblia e arqueólogos modernos sustentem que uma tradução mais precisa é “Lutador por El”, sendo El a divindade principal no antigo panteão cananeu.)

Como o historiador israelense Shlomo Sand descreve em seu livro “A Invenção da Terra de Israel”, antes do movimento sionista, a Palestina nunca foi vista pelas comunidades judaicas ao redor do mundo como sua pátria.

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O judaísmo, é claro, tinha conexões históricas muito reais com a Palestina, então o país era, em um sentido espiritual, entendido como o lar da fé judaica. A Palestina também foi o berço do Cristianismo e desempenha um papel importante no Islã, especialmente a cidade de Jerusalém.

Antes do surgimento do Cristianismo como a religião estabelecida do Império Romano, o Judaísmo era uma fé proselitista. Como tal, espalhou-se amplamente por toda a bacia do Mediterrâneo, no Egito e em outros lugares. Na verdade, ainda no século VIII d.C., as classes dominantes do Império Khazar (uma confederação de tribos de língua turca no que hoje é a parte sudeste da Rússia europeia) aparentemente se converteram em massa ao judaísmo.

Como tal, é ilógico supor – como fazem os sionistas – que a “pátria” ancestral de todo o povo judeu no mundo seja a Palestina. Essa visão é realmente antissemita.

Um tema frequente na história do racismo antijudaico europeu foi que os judeus da Europa não eram realmente judeus europeus, mas judeus que de alguma forma se perderam no exterior como um acidente da história. Os judeus britânicos não eram “realmente” britânicos e os judeus alemães não eram “”realmente” alemães, mas simplesmente “judeus na Alemanha”. Tanto os antissemitas quanto os sionistas concordam neste ponto.

Antissemitismo e crítica de Israel. [Cartoon Latuff/Monitor do Oriente Médio]

Antissemitismo e crítica de Israel. [Cartoon Latuff/Monitor do Oriente Médio]

Se você não perceber a distinção entre judeus alemães e “judeus na Alemanha”, considere o seguinte: o governo nazista de Hitler definiu a população alemã do país exatamente da mesma maneira. Os judeus não eram “racialmente” alemães, afirmava a propaganda nazista.

Antes do Holocausto, o governo de Hitler chegou a fazer uma série de acordos com a Federação Sionista Alemã. O mais conhecido deles foi o Acordo de Transferência de 1933 (“Haavara”), que liquidou a propriedade de judeus alemães abastados em troca de permitir que eles deixassem a Alemanha para se tornarem colonos na Palestina dos anos 1930, levando uma parte de sua riqueza com eles.

Dessa forma, ambas as partes – os nazistas e os sionistas – conseguiram o que queriam. Os nazistas ficaram felizes em ver os judeus deixando a Europa; os sionistas queriam dominar a Palestina a fim de construir uma “pátria judaica” em um país que era esmagadoramente não judeu e, portanto, precisava do maior número possível de judeus para migrar para lá. Por um tempo antes do Holocausto, então, os interesses nazistas e sionistas convergiram.

No entanto, esse cruzamento não foi uma simples coincidência de aliados relutantes; havia também uma afinidade de ideologia. Como os antissemitas europeus anteriores, os nazistas adotaram uma ideologia “racial”, na qual todos os judeus eram vistos como estranhos à Europa; uma influência externa do Oriente corrupto, decadente e bárbaro.

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Às vezes, alguns líderes sionistas alemães até mesmo enfatizavam essa afinidade em seus apelos aos nazistas para que os deixassem executar seus programas de treinamento em centros “vocacionais” que visavam transformar judeus alemães em colonos sionistas prontos para se mudar para a Palestina. Embora isso tenha ocorrido antes do Holocausto, nunca houve qualquer dúvida sobre as intenções violentas e racistas dos nazistas em relação aos judeus.

Em uma época em que as organizações e publicações religiosas e culturais judaicas alemãs estavam sendo reprimidas, proibidas e perseguidas na Alemanha nazista, as organizações sionistas eram a exceção. Na verdade, a única bandeira com permissão para voar além da bandeira nazista era aquela que se tornou a bandeira de Israel.

Em última análise, portanto, além de ser antipalestino, antilibertação e antiliberdade, o sionismo também é uma ideologia antissemita. Ele espalha a falsa ideia de que o povo judeu não pertence a nenhum lugar do mundo, exceto como colonizadores-colonos “israelenses” na Palestina ocupada.

Ao contrário da obsessiva campanha de demonização do lobby pró-Israel, que afirma falsamente que “antissionismo é antissemitismo”, o fato é que, para ser genuinamente antirracista e rejeitar o preconceito contra o povo judeu, é necessário ser um antissionista. Como a Campanha Escocesa de Solidariedade à Palestina costuma dizer: “O antissemitismo é um crime. O antissionismo é um dever”.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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