Entre tantas dificuldades causadas pela pandemia do coronavírus, a evasão escolar e a rotina das crianças dentro de casa tem sido uma grande preocupação de mães, pais e responsáveis, em tempos turbulentos e de incertezas.
Carima Orra, pedagoga com especialização em pedagogia hospitalar e marketing digital, através de seus cursos e posts em sua página do Instagram, tem ajudado muita gente a atravessar esse período. Com foco na educação e maternidade, Carima Orra também desmistifica conceitos sobre a mulher muçulmana, mostrando a rotina com sua família, viagens e seu empreendedorismo que já conta com duas lojas e-commerce, uma com brinquedos educativos e outra destinada a bebes.
Em entrevista ao Monitor do Oriente Médio, Carima Orra fala de seu trabalho e expectativas em tempos de pandemia.
Qual o conteúdo dos seus cursos?
O meu primeiro curso foi sobre o sono do bebê. O segundo, decidi fazer no ano passado, dois meses após o início da pandemia. Senti a necessidade de alertar algumas mães neste tempo tão difícil. Criei o curso “você no comando” justamente para isso, para as mães estarem no comando dentro da sua casa, com seus filhos e saber lidar com eles e suas necessidades. Isso me fez construir um relacionamento com as seguidoras muito bom em relação à educação. Aumentei meu conteúdo ainda mais, pois eu já falava sobre maternidade e comecei a falar mais sobre educação, como pedagoga, não só de mãe para mãe.
Qual sua análise, dentro da pedagogia, da situação das crianças dentro de casa, sem poderem ir à escola?
A situação é complicada, até mesmo para mim. Digo às minhas seguidoras que temos que tentar priorizar as situações. Algo que sempre priorizo é o emocional dos meus filhos. Por mais que a educação escolar seja necessária nesse momento, sobre as aulas online, eu prezo muito por não forçar, para mantermos a calma dentro da nossa casa, tanto para os filhos quanto para a mãe, porque está sendo muito difícil mesmo. Eu acho que tem muita mãe tentando fazer mais do que consegue e acaba deixando as prioridades pessoais de lado. Temos que ter um meio termo.
Aconselho a terem paciência, procurar estabilizar o lado emocional, antes de qualquer outra coisa. A não se sentirem forçadas a fazer nada, porque tem muita mãe que se cobra e acaba fazendo comparações com outras famílias. Dentro de cada casa há uma realidade diferente, não há porque comparar. Você tem propostas diferentes, o seu filho é uma criança diferente. Então viva dentro da sua realidade e faça o que é melhor para sua família, principalmente nesse momento em que o emocional está muito abalado por conta de tudo o que a gente está vivendo.
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Como você acha que essa pandemia vai afetar as crianças?
Acredito que tudo vai depender da forma que está sendo colocada com cada uma. Não dá para generalizar. Mas acredito que, para a maioria das pessoas, principalmente se tratando do Brasil, haverá um déficit muito grande de aprendizado, de crianças não alfabetizadas, ou de crianças que desistiram da escola, porque ficaram quase um ano e meio sem o conteúdo e que, mesmo assim, passaram de ano. Além de todo esse déficit de aprendizagem, o emocional das crianças com certeza, ficará muito abalado depois de tudo isso. Muito tempo em casa, sem ver amigos, sem a socialização. Enfim, é uma diversidade muito grande de problemas que serão criados e que a gente nem tem ideia ainda, porque é uma coisa que a gente ainda não viveu.
Qual o perfil do seu público?
Basicamente formado por mulheres, cerca de 97%. Geralmente são mães ou pessoas que gostam de educação. Tenho também, por conta do uso do véu, muita gente que se interessa pela religião. Eu não tenho tanto conhecimento quanto um Sheikh para falar sobre religião, eu sempre falo que o meu perfil é uma porta de entrada para as pessoas saberem como é a vida de uma muçulmana brasileira. Não necessariamente que eu vá falar sobre a religião a fundo, falo sobre minha vida como muçulmana.
Tento ser o mais transparente possível porque, de fato, eu acho que é isso que as pessoas gostam, de assistir a vida real. Então lá eu mostro a minha vida como ela é. Com os meus filhos, como educo eles, como é a minha religião.
Sempre mostro fatos, mostro que eu adoro Deus, mostro as minhas viagens. Porque ser muçulmana não me impede de fazer as coisas que a gente tem aqui no mundo, que são saudáveis e gostosas.
Como o islamismo entra em seu trabalho?
De forma indireta, como eu falei, as pessoas me veem de lenço, então querendo ou não, eu nem preciso falar que eu sou muçulmana. E aí eu acabo respondendo perguntas que me fazem. Porém, sempre indico para as pessoas que querem conhecer mais a fundo a religião,o Sheikh Jihad ou o Shiekh Rodrigo, que estudaram e se formaram para isso.
Você costuma ser chamada para palestras também.
Sim, sou palestrante também. Faculdades e escolas me chamam, com temas relacionados à educação, pedagogia e crianças e também sou chamada para falar como mulher muçulmana, sobre a vida e como foi criado todo um estereótipo sobre a mulher da muçulmana, sempre busco desmistificar isso.
Como consegue conciliar, a maternidade, suas lojas e seus cursos?
Na verdade, tento dividir o meu dia para que eu consiga fazer tudo, mas sempre a minha prioridade é a minha família. Os meus filhos são sempre o que eu mais prezo. Por exemplo, eu estava com planos de expandir a minha loja, a Bali Toys, mas para isso, eu precisaria me dedicar um pouco mais a ela. Com o cancelamento das aulas e meu filhos tendo que ficar em casa, decidi esperar mais um pouco para poder ficar mais tempo com eles. Já me dedico muito ao meu Instagram, é um trabalho de sete anos feito a passo de formiga. O resto do tempo que sobra, eu levo eles comigo para a loja, faço encomendas, vou ao correio com eles, minha mãe me ajuda bastante também. Então acabo dando um jeitinho. Não tem nenhum segredo, me organizo bastante com a rotina deles e a minha.
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