A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) emitiu mais um alerta sobre as perigosas condições de vida dos palestinos nos campos de refugiados do Líbano. A covid-19 parece ter potencializado a situação dos refugiados, mas ter essa preocupação imediata e mais urgente é, por razões diplomáticas, uma premissa para marginalizar o trabalho que deveria ter sido feito antes para, pelo menos, garantir uma vida decente para os palestinos desamparados. A ajuda humanitária internacional não funciona assim; responde a crises em vez de situações “temporárias” prolongadas que foram tornadas permanentes pelos políticos encarregados de encontrar soluções.

Na semana passada, o comissário-geral da UNRWA, Philippe Lazzarini, apelou aos doadores internacionais para evitar os efeitos imediatos da pandemia. Ele apontou que os refugiados palestinos no Líbano enfrentam situações terríveis simplesmente para sobreviver, com base em parte na crise financeira do Líbano e nas instalações inadequadas nos campos, alguns dos quais foram destruídos pelo exército libanês em 2007 e ainda aguardam reconstrução.

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“O que você responde a alguém que diz ter três opções: morrer de covid-19, morrer de fome ou ir para o mar, esperando começar uma nova vida do outro lado do Mediterrâneo?”, perguntou Lazzarini. “Um pouco pode ajudar muito no caso dos refugiados palestinos no Líbano, e estou pedindo à comunidade internacional que ajude a garantir que eles possam viver com dignidade e manter a estabilidade nos campos.”

Ontem, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, anunciou a retomada do auxílio financeiro à UNRWA, a partir de US$ 150 milhões para a agência. Isso é menos da metade da doação anual interrompida por Donald Trump em 2018.

Decisão dos EUA de cortar o financiamento da UNRWA. [Sabaaneh/Monitor do Oriente Médio]

“Os Estados Unidos estão profundamente comprometidos em garantir que nossa parceria com a UNRWA promova neutralidade, responsabilidade e transparência”, disse Blinken. “Os Estados Unidos estão comprometidos com o avanço da prosperidade, segurança e liberdade para israelenses e palestinos de maneiras tangíveis no prazo imediato, o que é importante por si só, mas também como um meio de avançar em direção a uma solução negociada de dois Estados.”

Embora a retomada da ajuda seja bem-vinda, a UNRWA deve reconhecer que está jogando um jogo de “neutralidade política” que está custando aos palestinos a perda permanente de suas terras. A agência está se tornando cada vez mais a solução da comunidade internacional para a abdicação coletiva de permitir que os palestinos cumpram seu direito legítimo de retornar às suas terras. O escrutínio dos últimos anos, que colocou a UNRWA sob os holofotes devido à má gestão em alto nível, foi explorado pelos EUA e por Israel, que querem que a agência seja fechada e, portanto, a questão dos refugiados seja erradicada de uma só vez. Isso minimizou a discussão sobre a agência em uma posição pró ou antissimplista. Os palestinos, como sempre, são simplesmente danos colaterais.

A UNRWA precisa estar em vigor, porque a comunidade internacional se distanciou dos direitos dos refugiados palestinos. No entanto, o papel político da organização deve ser trazido à luz. Não há neutralidade em ser cúmplice, mesmo que a contragosto, de impedir que os palestinos recuperem suas terras e propriedades roubadas. Se a ajuda internacional está ligada ao compromisso de dois estados, que agora está sujeito aos acordos mais lucrativos de Abraham que também foram endossados pela ONU, como a UNRWA ainda pode reivindicar neutralidade? Dado que seus doadores favorecem a normalização das relações com Israel em detrimento dos direitos palestinos legítimos consagrados no direito internacional, parece que os refugiados no Líbano e em outros lugares continuarão a enfrentar opções perigosas, possivelmente com risco de vida, como consequência da politização da ajuda humanitária.

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