Etiópia acusa Egito e Sudão de obstruir conversas em Kinshasa

Primeiro-Ministro da Etiópia Abiy Ahmed (à esquerda) e Presidente do Egito Abdel Fattah el-Sisi participam de cúpula tripartite – junto do Presidente do Sudão Omar al Bashir – sobre a Grande Represa do Renascimento na bacia hidrográfica do Nilo, na capital etíope Addis Ababa, em 10 de fevereiro de 2019 [Presidência do Egito/Agência Anadolu]

A Etiópia recriminou os governos de Egito e Sudão por supostamente obstruir as negociações sobre a Grande Represa do Renascimento, construída por Addis Ababa na bacia hidrográfica do Nilo. A última rodada de diálogo culminou em acusações mútuas e pouco progresso.

Felix Tshisekedi, chefe da atual assembleia da União Africana e Presidente da República Democrática do Congo, sediou as conversas na última tentativa de desescalar tensões que já duram dez anos, em torno dos recursos hídricos do maior rio do mundo em extensão.

Os dois países a jusante, Egito e Sudão, consideram a barragem etíope, maior projeto de infraestrutura de geração de energia hidrelétrica no continente africano, como ameaça à sua porção de recursos provenientes do Nilo.

Após a implosão do diálogo na capital congolesa Kinshasa, nesta quarta-feira (7), o Presidente do Egito Abdel Fattah el-Sisi alertou: “Todas as opções são possíveis caso uma única gota da porção egípcia do Nilo seja comprometida”.

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Em discurso proferido durante a cerimônia de inauguração de um complexo de segurança e inteligência, na futura capital administrativa do Egito, Sisi reiterou que as negociações com o Sudão sobre a represa ainda estão em curso.

“Respeitamos os planos de desenvolvimento da Etiópia, desde que não causem danos ao Egito”, destacou o general. “Digo no Egito que valorizamos o desenvolvimento, desde que não afete nossos interesses nacionais. Não mudei minha posição … digo isso em frente ao parlamento da Etiópia. Não mudei minha postura sobre respeitar seus planos de desenvolvimento e melhorar as condições de seu povo, mas jamais devem prejudicar os interesses do Egito. Penso que minhas palavras são bem claras”.

Sisi defendeu as ressalvas egípcias sobre a barragem, ao argumentar: “Seus receios são razoáveis e legítimos, mas estão pensando na água ao tentar solucionar o problema? Comecei a me preocupar com a água em 2011, senti-me aflito sobre a questão em 2011, a partir de 25 de janeiro, especificamente, quando soube que seria um grande problema no futuro”.

A data citada por Sisi coincide com o início dos protestos populares que culminaram na queda do longevo ditador Hosni Mubarak. Dois anos depois, Sisi tomou o poder via golpe militar.

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