Em fevereiro e março, os tribunais em Israel aprovaram o despejo de sete famílias palestinas de suas casas no bairro Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental ocupada. Os colonos ilegais serão beneficiados com isso.
Enquanto isso, o município de Jerusalém, controlado por Israel, recomendou aos tribunais israelenses que confiscassem quarenta por cento das terras da vizinhança para construir um memorial para os soldados mortos na Guerra dos Seis Dias de 1967, iniciada por Israel contra seus vizinhos. Isto deslocará pelo menos 28 famílias palestinas, totalizando cerca de 550 pessoas, a maioria crianças e mulheres, que ficarão desabrigadas.
Tais decisões de despejo não são a primeira agressão israelense contra os moradores de Sheikh Jarrah. Desde 1982, eles também são diariamente aterrorizados pelos colonos. Em 2001, por exemplo, colonos apreenderam uma série de casas palestinas e despejaram os habitantes nativos. E em 2008, as autoridades israelenses desalojaram à força a primeira família palestina, desde então, os ocupantes tomaram mais casas em benefício dos grupos de colonos.
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O bairro de Sheikh Jarrah é considerado uma das mais importantes áreas residenciais palestinas em Jerusalém ocupada. Está localizada ao norte da Cidade Velha e cobre uma área de cerca de duzentos acres, onde há aproximadamente 2.800 residentes, alguns dos quais são famílias palestinas deslocadas durante a Nakba (Catástrofe) de 1948.
O bairro foi construído em 1956 sob um acordo assinado entre a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) e o governo jordaniano – que controlava a cidade ocupada naquela época – representado pelo Ministério da Construção e Desenvolvimento. O plano era o de acomodar 28 famílias palestinas deslocadas na época.
O acordo previa o pagamento de aluguel por um período de três anos, após o qual as casas seriam entregues aos residentes. Os arrendamentos expiraram em 1959, mas após a ofensiva de Israel em 1967 e a ocupação do que restava da Palestina, o governo colonial impediu que as famílias palestinas tivessem a propriedade das propriedades e terras. Dois comitês israelenses tentaram falsificar documentos legais em 1972 e registrar a terra para estar oficialmente à disposição do governo de ocupação.
Em 1982, as associações de colonos usaram os documentos falsificados para exigir que os tribunais israelenses expulsassem os palestinos de suas casas. As deliberações dos tribunais continuaram entre despejo parcial e adiamento geral das decisões até o mês passado, quando o tribunal central em Jerusalém decidiu rejeitar os recursos apresentados pelos residentes do Sheikh Jarrah e lhes concedeu um período de carência até maio e agosto para deixarem suas casas.
Após a emissão das ordens de despejo, a Jordânia confirmou que existem documentos legais que comprovam a propriedade das casas pelas famílias palestinas conforme o acordo de 1956, acrescentando que a Autoridade Palestina (AP) forneceu esses documentos aos proprietários. Entretanto, os tribunais israelenses estão desconsiderando as provas legais, e deliberadamente anularam os direitos palestinos em uma clara tentativa de fortalecer os assentamentos israelenses em Jerusalém ocupada e nos arredores.
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Em resposta, centenas de milhares de pessoas em todo o mundo recorreram às mídias sociais usando a hashtag #SaveSheikhJarrah para demonstrar sua rejeição aos avisos de despejo em Sheikh Jarrah. No mês passado, uma delegação internacional de diplomatas visitou os moradores do bairro, que lhes contaram informações sobre a realidade no local. A delegação expressou preocupação com a situação das famílias palestinas e exigiu a suspensão imediata das atividades dos assentamentos israelenses, que violam as Resoluções 242 e 448 da ONU.
Apesar da posição palestina claramente legal – e da ilegalidade dos movimentos de Israel – assim como da simpatia global pelos residentes de Sheikh Jarrah, Israel insiste em implementar as ordens de despejo, o que irá deslocar dezenas de famílias palestinas. Com a aproximação do mês de maio, a responsabilidade legal e humanitária confiada à comunidade internacional e suas instituições exige uma ação urgente para acabar com esta política de ocupação ilegal e salvar centenas de crianças e mulheres de ficarem desabrigadas.
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