Dados divulgados por funcionários egípcios, principalmente os do Banco Central, mostraram um declínio perceptível em todas as receitas em moeda estrangeira, incluindo receitas de turismo, investimento estrangeiro direto e indireto, serviços de transporte, pedágios do Canal de Suez, exportações de petróleo, receitas do governo e receitas de investimento e ajuda internacional. Consequentemente, o Egito recorreu a novos empréstimos externos e internos, levando à exacerbação da carga proveniente dos custos da dívida pública, como juros e reembolsos.
A receita do turismo em 2020 caiu para US$ 4,4 bilhões, ante US$ 13 bilhões no ano anterior. Isso equivale a um declínio de cerca de 66 por cento, o menor desde 2016. O número de turistas caiu de 13 milhões em 2019 para 3,7 milhões, um declínio de cerca de 72 por cento. O ministro do Turismo espera que o turismo volte ao normal até o outono de 2022, mas o ex-presidente da União Geral das Câmaras de Turismo, Ilhami El-Zayyat, acredita que 2024 é mais provável.
Houve um declínio de 35% no investimento estrangeiro líquido, de US$ 9 bilhões para US$ 5,85 bilhões. Este é o menor valor desde 2014 e a queda deve continuar, até por causa das medidas de segurança em curso contra empresários, alguns dos quais foram presos sem motivo e impedidos de ver suas famílias. Há também o aumento das taxas de juros sobre empréstimos a serem considerados, e a competição do governo com o setor privado por fundos bancários e implementação de projetos.
O valor das exportações de petróleo diminuiu 34 por cento em comparação com 2019, o nível mais baixo desde 2016. Os investimentos de carteira no Egito caíram 75 por cento, o mais baixo desde 2018. Pior ainda, as receitas de transporte – aéreo, marítimo e rodoviário – diminuíram em 45 por cento, um novo mínimo desde 2006. As receitas do Canal de Suez também caíram, registrando o valor mais baixo desde 2017.
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A receita de investimentos no exterior também diminuiu em 48 por cento, novamente a mais baixa desde 2016. As taxas cobradas sobre serviços prestados pelos consulados egípcios no exterior a cidadãos egípcios também caíram para o seu nível mais baixo desde 2018. Além disso, a ajuda internacional de governos estrangeiros e agências internacionais chegou a um nível negativo sem precedentes nos últimos anos.
Assim, as receitas de nove das treze principais fontes de moeda estrangeira caíram. Os outros quatro viram aumentos, incluindo empréstimos, que aumentaram 91%, para US$ 23,6 bilhões, em comparação com US$ 12,4 bilhões em 2019; remessas de expatriados egípcios, que aumentaram cerca de 11%; receitas de serviços, exceto turismo e transporte, que aumentaram cinco por cento; e as exportações de commodities não petrolíferas, que cresceram menos de um por cento.
Também houve um aumento paralelo em muitos aspectos dos pagamentos ordinários no exterior, principalmente entre as importações de commodities não petrolíferas, que atingiram a cifra sem precedentes de US$ 55,3 bilhões, apesar da multiplicidade de medidas tomadas pelas autoridades para reduzir as importações. O investimento de portfólio no exterior também atingiu a cifra recorde de US$ 1,6 bilhão. Além disso, os pagamentos do governo atingiram o nível mais alto desde 2017 e os pagamentos da conta de capital aumentaram para o valor mais alto desde 2009.
O resultado tem sido a prevalência de déficits em todas as balanças, principalmente na balança comercial de commodities, na balança de commodities e serviços, na receita de investimentos e no déficit em transações correntes, que aumentou 39 por cento, levando a um pagamento global de todos déficit de US$ 7,5 bilhões, diferença entre a receita bruta e os pagamentos brutos.
No entanto, este não é um número real porque, como parte das receitas, há empréstimos no valor de US$ 23,6 bilhões e títulos estrangeiros no valor de US$ 3,8 bilhões. Em outras palavras, ao adicionar esses empréstimos e títulos, o déficit real chega a impressionantes US$ 34,9 bilhões.
Os dados relativos aos investimentos feitos localmente durante o ano fiscal de 2019/2020 apontam para um declínio geral de 17 por cento no valor em comparação com o ano fiscal de 2018/2019. Houve um declínio de 31% nos investimentos do setor privado; um declínio de 42 por cento nos investimentos da Autoridade Econômica; e um declínio de 13 por cento no investimento das empresas públicas.
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Enquanto os dados do Ministério do Planejamento mostram um aumento de 34 por cento nos investimentos do setor público, os números do Ministério da Fazenda mostram que em comparação com o valor dos investimentos previstos pelo setor público no ano fiscal de 2019/2020, apenas 78 por cento presume-se que tenha ocorrido desde o início do ano fiscal, de fato aconteceu.
Publicado originalmente em árabe pela rede Arabi 21, em 18 de abril de 2021
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