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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Uma prece palestina para o Ramadã: Que a voz dos oprimidos seja ouvida

Sheikh Muhammad Hussein (à esquerda), grão-mufti de Jerusalém, e Ikrima Sabri (terceiro à direita), imã da Mesquita de Al-Aqsa, durante um protesto na cidade ocupada de Jerusalém, 18 de julho de 2017 [Mostafa Alkharouf/Agência Anadolu]
Sheikh Muhammad Hussein (à esquerda), grão-mufti de Jerusalém, e Ikrima Sabri (terceiro à direita), imã da Mesquita de Al-Aqsa, durante um protesto na cidade ocupada de Jerusalém, 18 de julho de 2017 [Mostafa Alkharouf/Agência Anadolu]

Os casos de covid-19 na Palestina ocupada, sobretudo na Faixa de Gaza, alcançaram novos recordes principalmente devido à chegada de variantes mais contagiosas do vírus, identificadas pela primeira vez em solo britânico. Gaza sempre esteve vulnerável à mortal pandemia. Sob hermético bloqueio israelense desde 2006, o território palestino densamente povoado carece de serviços básicos, como saneamento de água, eletricidade e mesmo hospitais minimamente equipados. Desta forma, muito antes do coronavírus devastar grande parte do mundo, os palestinos de Gaza já morriam por doenças facilmente tratadas, como diarreia, salmonella e febre tifóide.

Desnecessário dizer, pacientes de câncer em Gaza têm pouca chance de lutar contra a doença, à medida que Israel nega reiteradamente a entrada de medicamentos que salvam vidas ao território sitiado. Muitos pacientes com câncer em Gaza, não obstante, preservam esperanças de que as autoridades militares israelenses lhes permitam o acesso a hospitais mais equipados, ao menos ao conceder autorização para que viajem à Cisjordânia. Entretanto, lá também é terra ocupada e a morte costuma chegar antes da arrastada escusa de Israel.

A tragédia em Gaza — de fato, em toda a Palestina – é longa e dolorosa. Ainda assim, não deve ser reduzida a mais outra ocasião triste que invoca enorme desespero, mas pouca ação.

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De fato, a luta dos palestinos é parte integral de uma luta muito mais ampla por direitos humanos fundamentais, vivenciada em todo o Oriente Médio — uma das regiões mais desiguais de todo o planeta, segundo recente relatório da Fundação Carnegie. Em países assolados por conflitos, como Líbia, Síria, Iêmen, Iraque, Somália, Sudão, Afeganistão e muitos outros, a dupla tragédia repousa na guerra e na miséria, como aterradora lembrança do preço pago pela população comum pelas frívolas disputas de poder, que trazem apenas mais incerteza e conquistam apenas mais e mais ódio.

Mais uma vez, o mês sagrado do Ramadã visita a Ummah (comunidade islâmica global), ao passo que suas tragédias ainda germinam, com novos conflitos, guerras sem fim, baixas cada vez maiores e o fluxo aparentemente perpétuo de refugiados. Infelizmente, nem mesmo o Ramadã — mês associado à paz, misericórdia e união — basta para trazer breves instantes de alívio à fome e violência para os povos árabes e muçulmanos.

Sheikh Muhammad Hussein (à esquerda), grão-mufti de Jerusalém, e Ikrima Sabri (terceiro à direita), imã da Mesquita de Al-Aqsa, durante um protesto na cidade ocupada de Jerusalém, 18 de julho de 2017 [Mostafa Alkharouf/Agência Anadolu]

Sheikh Muhammad Hussein (à esquerda), grão-mufti de Jerusalém, e Ikrima Sabri (terceiro à direita), imã da Mesquita de Al-Aqsa, durante um protesto na cidade ocupada de Jerusalém, 18 de julho de 2017 [Mostafa Alkharouf/Agência Anadolu]

Na Palestina, a ocupação israelense costuma tornar-se ainda mais sinistra durante o mês do Ramadã, como se buscasse agravar deliberadamente o sofrimento palestino. Em 14 de abril, o sheikh Muhammad Hussein, grão-mufti de Jerusalém e sacerdote de Al-Aqsa, convocou os árabes e muçulmanos a pressionar pelo fim das agressões israelenses contra os palestinos em seus lugares sagrados, sobretudo em Al Quds, isto é, Jerusalém ocupada.

Além dos ataques cada vez mais frequentes de colonos extremistas judeus, que invadem a Mesquita de Al-Aqsa em números cada vez mais maiores, as autoridades da ocupação israelense “removeram as portas dos minaretes da mesquita, cortaram fios elétricos dos alto-falantes para impedir o Adhan (chamado à oração), confiscaram refeições do iftar (jantar comunitário para romper o jejum) e ameaçaram novas invasões à mesquita nos últimos dias do mês sagrado do Ramadã”, relatou o sheikh Hussein.

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Israel compreende absolutamente o vínculo espiritual entre os palestinos – muçulmanos e cristãos – e seus símbolos religiosos. Para os muçulmanos, esta conexão acentua-se ainda mais durante o mês sagrado do Ramadã e tentar rompê-la equivale a atentar contra o espírito coletivo do povo palestino.

Tratam-se apenas de alguns poucos exemplos da tragédia profundamente enraizada e multifacetada imposta aos palestinos, em particular, e árabes, em geral. Inúmeras histórias do tipo, em diversos contextos geográficos e políticos, ressoam dia após dia por todo o mundo islâmico. Ainda assim, não há debate substancial sobre uma solução, estratégia ou rigorosa reflexão coletiva.

O Ramadã supostamente representa aos muçulmanos um momento de união, com base em um critério extraordinário, segundo o qual divergências políticas e ideológicas devem desaparecer em favor da comunhão espiritual expressa no jejum, nas orações, na caridade e na gentileza. Lamentavelmente, o que testemunhamos não é o Ramadã como deveria ser, mas manifestações discrepantes do mês sagrado, cada qual apropriada às classes em questão — dolorosa expressão da desunião e desigualdade que aflige a Ummah.

Havia o Ramadã de riquezas irrestritas, jantares fartos e alegria em comunidade. Porém, no presente Ramadã, apenas platitudes são ofertadas ao tratar da caridade e das populações carentes; muito pouco é materializado.

Há ainda o Ramadã da Palestina, Sudão e Iêmen; o Ramadã dos campos de refugiados sírios e dos pequenos botes no Mediterrâneo, com milhares de famílias desesperadas, com pouco senão a esperança de um futuro melhor no vago horizonte. Para todos estes, o Ramadã é uma corrente de orações que o mundo — sobretudo seus irmãos e irmãs muçulmanos — deve destinar a seu resgate. Para eles, há pouca alegria pois não há luz elétrica ou água encanada e não há fartos jantares do iftar, pois não há dinheiro algum.

Família síria reúne-se para romper o jejum no primeiro dia do Ramadã, no campo de refugiados de Ma’arrat Misrin, em Idlib, Síria, 13 de abril de 2021 [Ahmet Karaahmet/Agência Anadolu]

Família síria reúne-se para romper o jejum no primeiro dia do Ramadã, no campo de refugiados de Ma’arrat Misrin, em Idlib, Síria, 13 de abril de 2021 [Ahmet Karaahmet/Agência Anadolu]

“Dua” é a palavra árabe para súplica. Para os oprimidos, dua é o último recurso e, por vezes, mesmo uma forma de resistência contra a opressão em todas as suas formas. É por isso que costumamos ver muçulmanos em luto erguendo suas palmas abertas ao céu, sempre que uma tragédia recai sobre eles. O Ramadã é justamente o mês em que os pobres e destituídos erguem suas mãos ao céu, em busca de Deus, através de diversos idiomas, dialetos e sotaques em abundante oração.

Os oprimidos encontram alento nas palavras do Profeta Muhammad, por exemplo: “As súplicas de três pessoas jamais são ignoradas: aquele em jejum até romper seu jejum, um governante justo e os oprimidos que se erguem por Allah acima das nuvens, com os portões do Paraíso abertos para si, e então diz o Senhor: Pela Minha força, ajudar-vos-ei no devido tempo”.

Jamais houve tempo mais crítico para que a Ummah trabalhe em conjunto, para sanar feridas coletivas, socorrer os necessitados, abraçar os pobres e refugiados e lutar em nome dos oprimidos. Muitas comunidades islâmicas em todo o mundo sentem uma enorme dor e esta dor é insuportável. Quem sabe, o presente Ramadã possa servir como oportunidade para alcançar enfim a justiça social e para que as vozes dos oprimidos sejam ouvidas — e que seu canto de tormenta e de esperança se erga acima das nuvens.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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