O jornal espanhol El País publicou nesta quinta-feira (22) que Marrocos alcançou uma vitória diplomática na América Latina na disputa pelo Sahara Ocidental, com países da região retirando o reconhecimento da República Árabe Saharaui Democrática (RASD).
As embaixadas latino-americas em Rabat aumentaram de cinco para doze e países como El Salvador e Bolívia retiraram o reconhecimento da RASD nos últimos anos se juntando a Colômbia e Guatemala.
O representante da Frente Polisário para a América Latina, Ahmed Mulay, afirmou ao jornal que as vitórias do Marrocos se devem à “política do cheque”, afirmando que o país faz convites de viagens com todas as despesas pagas para muitos deputados latino-americanos. “Enquanto o nosso instrumento de luta é o direito internacional, Marrocos utiliza a corrupção e a compra de consciências”, disse.
“Sabemos até de ministros [marroquinos] que construíram pequenos hotéis no Caribe. Quando houve furacões, fizeram doações de cerca de cem mil dólares. Também distribuíram fosfato… Fosfato saharaui, claro”, acrescentou Mulay.
O ministro marroquino das Relações Exteriores, Naser Burita, e a sua homóloga colombiana, Claudia Blum, fizeram uma reunião virtual no dia 6 de abril onde ambos expressaram a vontade do Rei Mohammed VI e do Presidente colombiano, Ivan Duque, de “reafirmar a relação bilateral”.
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Um embaixador de um país latino-americano em Rabat, que preferiu não se identificar, afirmou ao jornal que a maioria dos países da região simpatizavam com a causa saharaui e a atividade e presença da Frente Polisário na região contrastava com a ausência de Marrocos.
“Mas isso começou a mudar com a chegada de Mohammed VI ao trono no final dos anos 90. Desde então, eles têm empreendido uma política muito ativa e eficaz. Eles trouxeram diplomatas que falam muito bem espanhol, que estão muito bem informados sobre a região e que vêm com um mandato claro para fortalecer os laços com todos os setores da sociedade. Eles normalmente convidam muitos membros do parlamento ao Marrocos”, afirmou. “As relações comerciais são muito escassas e irregulares. Mas isso não impede que os países latino-americanos sejam beneficiados. Ter uma presença diplomática neste país é importante. E no final, há doze países latino-americanos que têm uma embaixada em Rabat”, acrescentou o embaixador.
Atualmente, os países da América Latina que ainda reconhecem os saharaui são: Panamá, Cuba, Venezuela, Nicarágua, México, Equador e Uruguai. Marrocos decidiu abrir embaixada no México, Panamá e Cuba, mesmo que o representante de Rabat precise compartilhar atos oficiais com embaixadores da RASD, chamada pelos marroquinos de “entidade fictícia”.