Israel ataca os palestinos para expulsá-los de sua própria terra

Crianças de uma família de colonos judeus observam um protesto de nativos palestinos no bairro de Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental ocupada, 23 de abril de 2021 [Mostafa Alkharouf/Agência Anadolu]

Assim que um ataque israelense contra uma aldeia, cidade ou bairro palestino se encerra, outro começa em outro lugar. Todas as agressões são deliberadas para deslocar os palestinos de suas próprias terras e substituir a população nativa com colonos estrangeiros. A limpeza étnica da Palestina, com raízes em 1948, continua até hoje.

As autoridades da ocupação tentam tomar vantagem dos avanços de normalização árabe e do apoio dos Estados Unidos para intensificar seus projetos racistas e esvaziar as aldeias, cidades e bairros árabes de seus habitantes originais. A cidade ocupada de Jerusalém e seus arredores, além do Vale do Jordão, vivenciam um esforço contínuo e sistemático de Israel para alterar sua demografia através de um processo de supremacia judaica e falsificação da história.

Segundo Ayed Marar, diretor do departamento jurídico da Comissão de Resistência ao Muro e à Colonização, autoridades israelenses e gangues de colonos escalam hoje suas agressões contra os palestinos para pressioná-los a deixar a terra, a fim de expandir seus assentamentos ilegais. Marar explicou à rede Felesteen que o objetivo israelense é confiscar mais e mais terras e propriedades palestinas, com Jerusalém e Vale do Jordão como alvos principais.

Marar também observou que Israel adota diversas políticas para expulsar os palestinos, incluindo a criação de condições insuportáveis para coagir os habitantes a deixar suas casas e mudar-se a outras áreas, sobretudo a outros países. Desta forma, as invasões em curso contra aldeias, cidades e bairros palestinos, mandados de prisão sob falsos pretextos, isolamento compulsório dos palestinos em relação ao mundo exterior e expropriação de seus direitos de propriedade, através de leis discriminatórias, resultam no deslocamento forçado de famílias inteiras, quando não sua deportação por razões de “segurança” e “emergência”. A ocupação também recorre a especuladores imobiliários para forçar a aquisição de propriedades palestinas por colonos ilegais.

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Os palestinos nas áreas atingidas que ousam protestar contra tais táticas sofrem altas multas e outras penas impostas contra eles. Suas casas são demolidas sob pretexto de falta de alvará, emitidos pela própria ocupação que tanto deseja ver os habitantes deslocados. Tais permissões para construção e restauração raramente são aprovadas aos palestinos, de qualquer maneira. Trata-se de um ciclo vicioso de opressão e corrupção que busca sabotar a própria auto-estima do povo palestino. Alguns foram levados a render-se, destacou Marar.

As forças da ocupação israelense, observou ainda, são encorajadas a continuar com seus crimes contra as aldeias, cidades e bairros palestinos, sobretudo pelo fato de jamais serem responsabilizadas, seja local, regional ou internacionalmente.

Colonos extremistas de Israel continuam a incitar os palestinos em Jerusalém [Sabaaneh/Monitor do Oriente Médio]

A fim de distrair a mobilização palestina das áreas onde são executados os ataques, relatou Marar, os israelenses os conduzem em diversos lugares simultaneamente e impedem os habitantes nativos de se comunicar com outras áreas, além de reiteradas agressões em um mesmo local. Marar exortou os palestinos a considerar o panorama e avançar com seus protestos da forma mais contundente possível, para denunciar os crimes cometidos contra eles. Manter o silêncio sobre os crimes coloniais e as violações da ocupação militar de fato aumenta a probabilidade de mais e mais crimes e maior perda de terra. Marar fez um apelo para que um novo programa de resistência seja posto em vigor, capaz de pressionar Israel a encerrar seus ataques coloniais sobre aldeias e cidades palestinas. Dada a parcialidade árabe e internacional a favor da ocupação, no momento, tal programa só pode surgir dos próprios palestinos.

Khaled Mansour, especialista sobre os assentamentos, concordou que Israel jamais hesita em assediar a população nativa e explorar todas as oportunidades em mãos para confiscar mais terras a serviço de seu projeto de expansão colonial na região. Afinal, trata-se de um estado colonial de assentamento, com base na ideologia racista do sionismo. As agressões contra os palestinos por colonos e forças de segurança tentam efetivamente criar uma nova realidade em campo, enfatizou Mansour à rede Felesteen.

A maior parte dos ataques ocorre em plena luz do dia, mas é encoberta pela cumplicidade da grande mídia. A atividade dos assentamentos de fato se acelerou após os Estados Unidos reconhecerem Jerusalém como “capital indivisível” de Israel, no mais alto grau de cumplicidade internacional flagrante. “O estado da ocupação é incitado pela falta de justiça e pela cobertura de mídia”, enfatizou Mansour. “É basicamente livre para avançar com seus crimes”.

Os assentamentos, evidentemente, requerem rodovias de acesso, detalhou Mansour, construídas para separar cidades e aldeias palestinas entre si, além de segregá-las da infraestrutura dos próprios assentamentos. “As rodovias são o nó a ser apertado, como primeiro passo para confiscar as terras”. Mansour reiterou ainda que Israel trabalha duro para enfraquecer o sentimento de confiança e autonomia do povo palestino, a fim de rendê-los perante o status quo, com apoio efetivo de aliados internacionais no processo, incluindo os estados árabes em normalização.

O expert em assuntos coloniais também observou que as forças israelenses colaboram diretamente com os colonos ilegais e encobrem seus crimes por toda a Cisjordânia, por exemplo, ao escoltá-los em incursões diárias em Jerusalém, sobretudo contra a Cidade Velha e o complexo da Mesquita de Al-Aqsa, onde fiéis muçulmanos são então agredidos. Mansour pensa que qualquer silêncio palestino diante de tais crimes israelenses contribui com a impunidade desfrutada por colonos e pelo próprio estado israelense.

Ao reivindicar o fim da coordenação de segurança da Autoridade Palestina com o estado sionista, Mansour argumentou que a resistência popular precisa ser fortalecida para combater a ocupação. “A resiliência do povo da Palestina ocupada demanda apoio de toda forma possível, sobretudo àqueles sob risco de deslocamento”, concluiu. Penso que está certo.

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Publicado originalmente em árabe pela rede Felesteen, em 20 de abril de 2021

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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