Durante os tumultos racistas antipalestinos que se sucederam em Jerusalém ocupada na última semana, uma manifestante foi entrevistada por um jornalista sobre a abordagem e, particularmente, sobre a linguagem utilizada pelas turbas enfurecidas.
O repórter perguntou à jovem se as frases empregadas na ocasião — como “Queimem as aldeias árabes” e “Morte aos árabes” — representavam sua presença nas manifestações.
Obteve como resposta: “Digo de forma mais adequada e sutil. Não digo ‘vamos queimar suas aldeias’, mas digo ‘eles devem ir embora e devemos tomar suas terras’” — então sorriu — “exatamente o que fazemos na Cidade Velha”.
Há muito a se analisar nessa reação reveladora. Primeiramente, as atitudes coloniais existentes em todos os nichos da sociedade israelense, não apenas no governo e no exército. Mas também, as formas como as comunidades coloniais normalizaram de fato a violência racial e o estado perpétuo de limpeza étnica — considerado por muitos a Nakba (“catástrofe”) ainda em curso —, que seus assentamentos sempre em expansão tanto demandam.
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A violência colonial é tão longínqua quanto o próprio Estado de Israel e age como ameaça diária aos palestinos, com raízes na conquista europeia das terras palestinas. De fato, durante a Nakba, a expulsão original de 750 mil palestinos para dar espaço ao estado exclusivamente judaico não se materializou apenas por forças sionistas, mas também pela transferência de colonos para substituir a população nativa. Casas foram construídas sobre as ruínas da diáspora, sob forte guarda do regime sionista em desenvolvimento e seu antecessor, o Mandado Britânico.
Atualmente, há ao menos 600 mil colonos israelenses que vivem em assentamentos ilegais na Cisjordânia ocupada, além de Jerusalém Oriental, em clara violação da lei internacional.
Além de sua presença ilegal na Cisjordânia e Jerusalém Oriental, a violência extremista que muitos destes colonos produzem não apenas é pesadamente protegida pelo estado e suas forças de segurança, como tal estado também conta com a presença dos colonos para expropriar mais e mais terras dos territórios palestinos ocupados, impunemente.
Inúmeros relatos foram documentados de que o exército ou a polícia israelense efetivamente escolta e ajuda os colonos em seus atentados contra os palestinos. Muitos palestinos, incluindo crianças, foram presos por forças da ocupação a fim de cumprir a demanda colonial de postos avançados ilegais de assentamento.
A organização israelense de direitos humanos Yish Den registrou 1.293 casos de violência colonial entre 2005 e 2019. Destes incidentes, somente 8% das investigações resultaram em acusações penais contra os colonos perpetradores.
Alguns dias após as multidões radicais invadirem Jerusalém, três colonos extremistas judeus atacaram o pastor Ibrahim Hamdoun, de 66 anos, agora hospitalizado, enquanto trabalhava em seu lote de terra em Jenin, Cisjordânia ocupada.
Caso possamos aprender algo com a conjuntura presente, é que a violência colonial e o terrorismo de estado é parte fundamental da própria sociedade israelense. As conexões entre todos os nichos de violência sionista puderam ser verificados em uma pesquisa de opinião pública de 2019, conduzida pelo Instituto de Estudos de Segurança Nacional, na qual 70% dos israelenses entrevistados afirmaram crer que os valores das Forças de Defesa de Israel (FDI) de fato são alinhados com os valores da sociedade israelense como um todo.
Enquanto Israel escolhe dourar a pílula de sua expansão colonial e anexação ilegal de terras palestinas para a comunidade internacional, continua a efetivamente tomar parte e beneficiar-se da limpeza étnica de Jerusalém e do restante da Palestina histórica. Desta forma, avança com suas ordens despejos, demolições de casas, negativas sistemáticas para construção com base em discriminação racial e, como testemunhamos na última semana, violência física e intimidação.
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