O Ministério da Defesa do Egito anunciou a compra de jatos de guerra Rafale, fabricados pela França, no valor de US$4.5 bilhões, medida que incitou nova indignação entre ativistas de direitos humanos. O acordo prevê um empréstimo a ser pago ao longo de dez anos.
“Ao assinar um megacontrato de armas com o regime egípcio, à medida que o presidente avança com a pior repressão em décadas no país, com a erradicação da comunidade de direitos humanos e gravíssimas violações, sob pretexto de combate ao terrorismo, o governo francês de fato encoraja esta repressão implacável”, declarou Benedicte Jeannerod, diretor do Human Rights Watch na França.
Em junho de 2020, a organização internacional descreveu a venda de armas francesas ao Egito como “chocante” e “aterradora”, considerando o hediondo histórico de direitos humanos do regime comandado pelo presidente e general Abdel Fattah el-Sisi.
Os comentários sucederam documentos divulgados em 2019 segundo os quais Paris concordou em exportar US$1.1 bilhão de armas ao Cairo.
Entre 2013 e 2017, a França tornou-se a principal fornecedora militar ao Egito.
Em visita ao país europeu, em dezembro, Sisi foi agraciado pelo Presidente Emmanuel Macron com a Ordem Nacional da Legião de Honra, maior condecoração francesa, em ato considerado escárnio aos direitos humanos por ativistas e observadores.
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No último ano, Macron enfatizou que seu governo manteria uma política externa de evitar declarações públicas sobre práticas e violações de direitos humanos em outros países, ao expressar suas preocupações em canais privados.
O presidente francês também recusou-se em condicionar a venda de equipamentos militares ao Egito à pauta de direitos humanos, ao alegar que enfraqueceria assim a capacidade do país norte-africano em responder à violência na região.
Não obstante, o Human Rights Watch documentou crimes de guerra cometidos pelo exército egípcio na província do Sinai do Norte, onde o regime conduz uma violenta guerra contra a população local, sob pretexto de combater células terroristas do Estado Islâmico (Daesh).
A Anistia Internacional também registrou o uso de equipamentos franceses durante as campanhas de repressão das forças de segurança do Egito contra manifestantes pacíficos, ao longo do governo de Sisi, que tomou o poder via golpe de estado, em 2013.
Entre 2012 e 2015, o Egito utilizou veículos blindados fabricados pela Renault Trucks e exportados pela França em algumas das mais brutais operações da repressão interna, destacou ainda a Anistia Internacional.